Um relato emocionante feito por L.B. (o nome foi ocultado para preservar a identidade da vítima) na tarde da última quinta-feira (07) causou comoção nas redes sociais. Através de sua conta no Twitter a jovem contou como sofreu abuso sexual dentro de uma casa noturna de Ponta Grossa. “Durante a quarentena a gente acaba tendo mais tempo para ‘fuçar’ coisas na internet. Quinta eu vi, por acaso, um vídeo no youtube onde pessoas relatavam os abusos sofridos, e foi um desses relatos que me deu coragem para contar a minha história”, explica L.B.
A jovem conta que o estupro aconteceu em 2012, em uma conhecida casa noturna da cidade. “Eu estava no segundo ano da faculdade e gostava muito de sair com as minhas amigas e amigos. Em um dia de semana nós fomos no show de uma bandinha que a gente adorava em uma balada da cidade, que estava fazendo um open bar até determinado horário”, relata. L.B. conta que ela e as amigas foram para frente do palco curtir o show e que em pouco tempo foi possível perceber que ‘rolou um clima’ entre elas e o pessoal da banda. “Em determinado momento do show eles chamavam algumas meninas no palco para fazerem algum tipo de competição. E aquele dia eles chamaram a mim e mais uma ou duas amigas”, descreve a jovem. Como prêmio por terem vencido a competição, os músicos ofereceram taças de champanhe às meninas.
L.B conta que aceitou a bebida e que a partir deste momento suas memórias são muito escassas e borradas. “A primeira imagem que me vem à cabeça da cena do abuso em si é de nós dois, eu e um dos meninos da banda, em uma escada muito escura, eu estava de costas pra ele e ele estava penetrando em mim. Eu lembro de estar sentindo muita dor, mas não me lembro de sons, não lembro se ele estava rindo, não lembro nem de estar tocando música” descreve. Depois a jovem diz se lembrar de apenas flashs dela no chão do banheiro da casa noturna. “Ao sentirem minha falta, minhas amigas foram me procurar. Falaram com o cara da banda que, rindo, disse que eu estava no banheiro. Elas me encontraram desmaiada, com a saia levantada até a cintura”.
L.B. foi levada embora pelas amigas, que cuidaram dela. “Acordei com uma ressaca absurda, diferente de tudo que já havia sentido”, relata. Para a jovem, o que mais causou estranheza foi o fato de ter passado mal tendo bebido pouco. “Eu costumava sair muito e tinha o hábito de beber muito. O que me marcou foi que eu não bebi tanto a ponto de ficar mal daquela forma. Não foi normal. Tanto naquele dia quanto depois, foi uma ressaca totalmente diferente de tudo que já tive”, coloca.
A jovem ainda conta que por alguns anos ela encarou a situação como “mais uma grande história de bêbada”. E que foi somente em 2014, ao contar o ocorrido ao rapaz com quem se relacionava na época, é que ela conseguiu compreender que havia sido estuprada. “Quando eu comecei a contar para ele, eu comecei a chorar muito, e ele ficou muito indignado. E eu acho que foi aquela indignação dele junto com meu choro reprimido que me fez ‘cair a ficha'”, revela. L.B. conta que neste momento, a sensação que teve foi de nojo. “Eu queria tomar banho. Tomar banho com uma bucha e me esfregar, porque eu estava me sentindo suja. Alguém tocou o meu corpo sem a minha permissão”, desabafa.
Apesar do trauma, a jovem conta que conseguiu levar a vida de uma maneira relativamente tranquila. Em 2015, L.B. mudou-se para Curitiba, onde, ocasionalmente, acabou ‘esbarrando’ com seu abusador. “Eu ‘trombei’ com ele várias vezes. Nas primeiras vezes eu começava a tremer, eu chorava muito. Eu comecei a ter medo de encontrar ele na rua”, conta.
L.B revela que após o seu desabafo nas redes sociais, outras meninas entraram em contato com ela relatando terem passado situações semelhantes com o mesmo rapaz. “Recebi mensagens de algumas meninas falando o nome dele, falando qual era a balada, falando qual era a banda, falando qual era o integrante da banda. O que mostra um comportamento repetitivo e criminoso da parte dele”. A jovem ainda afirma estar em contato com essas meninas para fazerem uma denúncia formal contra o abusador. “Eu pretendo denunciar, sim. Está cada vez mais forte na minha cabeça e todos os caminhos levam para isso”.
Após o relato, muitas pessoas passaram a enviar mensagens de apoio e carinho para L.B. “Recebi muitas mensagens, muitas mesmo. Inclusive de pessoas que me conheceram naquela época e que disseram que jamais imaginariam que eu passei por isso, por estar sempre muito alegre, pra cima”, relata. Ela ainda conta que a palavra ‘coragem’ foi muito presente nas mensagens. “As pessoas me parabenizaram pela coragem de ter falado, tratado do assunto. E acho que foi uma coragem que me veio mesmo de trazer isso tudo à tona”, finaliza.
Definição de estupro
De acordo com a Lei nº 12.015, de 2009, do Código Penal Brasileiro, estupro consiste em constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.
Considerado um crime hediondo, pode ser praticado mediante violência real ou presumida, quando praticado contra menores de 14 anos, alienados mentais ou contra pessoas que não puderem oferecer resistência, como drogadas ou alcoolizadas.
Atualmente no Brasil a pena é de seis a 10 anos de reclusão, podendo aumentar para oito a 12 anos se houver lesão corporal ou se a vítima possuir entre 14 a 18 anos de idade. Para casos que resultam em morte a pena é de 12 a 30 anos de reclusão.