A dez semanas do início do verão, surge a pressão e se inicia uma corrida desenfreada em busca de emagrecimento para alcançar o “corpo do verão” ou o “corpo para o carnaval”. As academias começam a lotar a partir de outubro, mas há quem recorra, direto, aos medicamentos – algumas vezes, sem indicação. Em entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), nesta segunda (10), a farmacêutica integrativa Juliana Ribeiro, da Eficácia Brasil, alerta para o risco e para os custos ao organismo que o consumo de emagrecedores pode acarretar.
A cantora Ludmilla precisou ser internada às pressas, na noite de domingo (9), após sofrer uma crise renal, que a levou a interromper um show na Pedreira Paulo Leminski. Especulações apontam que os problemas renais que a cantora enfrenta seriam resultado de um tratamento adotado para emagrecimento.
A farmacêutica integrativa Juliana Ribeiro, da Eficácia Brasil, aponta que a associação da crise renal de Ludmilla a um eventual tratamento medicamentoso para emagrecimento pode ter fundamento, como pode não ter qualquer relação. Segundo ela, pode haver uma predisposição a desenvolver cálculos renais. “Quem tem propensão a cálculo renal tem que revisar duas coisas: alimentação e o quanto está se hidratando”, adverte.
Uma das hipóteses levantadas por Juliana é a de que a fórmula emagrecedora contenha diuréticos, com a finalidade de desinchar pela eliminação de líquidos. Em função dos hormônios, a mulher apresenta mais propensão que o homem a apresentar inchaços, que aumentam medidas e não são, necessariamente, gordura, de acordo com Juliana.
O diurético pode ajudar a desencadear o cálculo renal, conforme a farmcêutica. Porém, ele não surge sozinho e à toa. Está, geralmente, associado à pouca hidratação, ao tipo de alimentação e à predisposição familiar.
O uso de diuréticos para desinchar é visto por muitos como mero paliativo, se não for associada a uma reeducação alimentar e mudanças no estilo de vida. “Claro, tudo sob ordem médica e farmacêutica, inclusive. Não é comprar pela internet, pelo amor de Deus”, alerta. “Aliás, é uma coisa que eu defendo, é que a Anvisa deveria proibir a venda desses medicamentos [emagrecedores] à torta e à direita pela internet e nas redes de mercado multinível”, opina Juliana.
A farmacêutica destaca que a terceira fase de seu programa “detox” é a limpeza renal, com o apoio de chás. “É um pool de ervas que a pessoa prepara em casa e vai bebendo de 20 a 30 dias”, conta. Esses chás melhoram a condição urinária da pessoa e diminuem a propensão à litíase (pedras nos rins).
Quem ainda não sofreu com pedras nos rins, mas tem casos familiares, pode começar a preveni-las com o uso de chás de quebra-pedra e cavalinha. Juliana instrui a mesclar as duas ervas e usar três punhadinhos das ervas para cada litro de água, na dose recomendada para adultos. Ela também recomenda o chá de cavalinha para melhorar o aspecto da pele, cabelo e unha. “Para quem tem queda de cabelo, o chá de cavalinha, além de ser um diurético maravilhoso, é super interessante, porque contém silício biodisponível, que é legal para o cabelo”, destaca.
Consequências graves
O uso indiscriminado de remédios para emagrecer pode ter consequências graves. Juliana diz que as ocorrências graves não são frequentes o bastante para chegar ao ouvido do balconista da farmácia, uma vez que as consequências mais graves são geradas por medicamentos controlados.
Juliana observa que, até uns 15 anos atrás, havia uma “onda” de comércio de anfetaminas com menos controle, como a anfepramona (dietilpropiona), Femproporex, entre outros. “Aquilo era um problema, porque chegava até nós uma prescrição com 12 a 15 ativos na mesma fórmula. Nós manipulávamos, estava toda correta a dosagem e começavam os efeitos colaterais e as interações entre um ativo e outro no organismo da pessoa”, comenta.
Esses efeitos colaterais costumavam ser taquicardia, irritabilidade e problemas no sono. O paciente voltava ao médico, que recomendava um ansiolítico ou calmante, para ele dormir melhor. “Aí o paciente ficava com um monte de remédio, tomando 20 a 25 tipos de medicamentos diferentes, com o objetivo de emagrecimento, sendo que, muitas vezes, a pessoa não lembrou da base [a alimentação]”, comenta.
Juliana observa que esses medicamentos ainda estão no mercado, mas não mais para manipulação. “Tem que ter concessão para podermos manipular. Mas eles estão no mercado, nas drogarias. Não são medicamentos proibidos, mas tem que pensar muito até que ponto vale o tiro de canhão numa formiga”, analisa. A farmacêutica integrativa ressalta que são muitos fatores que podem levar alguém a ganhar peso ou medidas, quer tendo propensão a engordar quer ganhando peso ao longo do tempo.
Nem mesmo os chás que costumam ser usados por quem busca emagrecimento são completamente seguros. Juliana adverte que o confrei, por exemplo, é para uso externo, visto que é tóxico e sua ingestão traz sérios riscos ao fígado. Houve uma época, aliás, em que ocorreu um modismo de chás de ruibarbo, cáscara sagrada e sene, que também eram comercializados em cápsulas.
“O sene, o ruibarbo e a cáscara sagrada possui um componente chamado antraquinona. Acima de uma semana, esse componente vai causar irritação na sua mucosa intestinal, que vai te dar diarreia e intolerância alimentar, porque o intestino vai ter dificuldade de absorver água e nutrientes”, alerta. Ou seja, a pessoa pode desenvolver subnutrição e, com isso, apresentar mais cansaço e mudanças no “relógio biológico”. O chá de sene, segundo Juliana, pode ser tomado, desde que não ultrapasse 10 dias consecutivos, porque ele serve para regular o intestino.
Vale lembrar que a mesma discussão foi levantada, em fevereiro deste ano, por ocasião da morte da cantora Paulinha Abelha, vocalista do Calcinha Preta. Uma das hipóteses levantadas pelos médicos que cuidaram da artista foi de que ela passou a enfrentar problemas renais por conta do uso de remédios para emagrecer. Paulinha teve meningoencefalite, hipertensão craniana, insuficiência renal e hepatite. Os problemas foram associados ao uso de anfetaminas e barbitúricos.
Confira a entrevista de Juliana Ribeiro na íntegra: