Quinta-feira, 26 de Dezembro de 2024

Médico de PG explica como é feito o processo de intubação em casos de Covid-19

2020-06-12 às 13:37

Um dos principais sintomas da Covid-19, reconhecidos pela Medicina, é o forte cansaço e a dificuldade de respirar. Muitos pacientes precisam utilizar um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e passar pelo processo de intubação (sim, o termo técnico é “intubação”, com a vogal “i”). Mas você sabe como funciona o procedimento e quais são as possíveis consequências dele para o corpo humano?

De acordo com o médico pneumologista Pedro Ricardo Souza Compasso, um paciente é intubado quando, por diversos motivos, não consegue mais respirar sozinho. “A insuficiência respiratória é a impossibilidade de o paciente manter por si o ato de respirar. Na maioria das vezes, há uma queda expressiva no nível de oxigênio circulante com potencial dano cerebral, para o coração ou outros órgãos vitais. Por isso é necessário submeter o paciente ao que a gente chama de ventilação mecânica”, explica.

Desse modo, a chamada intubação orotraqueal permite a conexão do paciente ao respirador. Uma canula comprida passa pela boca, pela faringe e vai até a traqueia, conectando o paciente à máquina que vai fazer a respiração artificialmente.

Consequências

Como todos os procedimentos médicos, a intubação pode trazer consequências ao paciente, mas também salvar a vida dele. “Com o avanço da medicina, as consequências de uma intubação são minimizadas. Mas é fato que, para estar em uma ventilação mecânica, o paciente precisa ser sedado, e algumas sedações são tão profundas que é preciso fazer o bloqueio dos músculos. Então, quando o paciente fica muito tempo em ventilação mecânica, várias consequências podem ocorrer”, aponta Compasso.

De acordo com o médico, o processo de sedação pode acarretar em danos cerebrais e o procedimento do bloqueio muscular pode causar atrofia muscular, mesmo que se faça a mudança de decúbito [lado na cama]. Essa posição muito prolongada, por sua vez, pode levar à formação de úlceras de pressão. E o próprio circuito do respirador, mesmo sendo um procedimento esterilizado, acumula vapor e secreções, podendo aumentar as chances de uma pneumonia associada à ventilação mecânica.

Agilidade

Apesar desses desafios, o pneumologista conta que o procedimento é vital para manter um paciente com dificuldade de respiração. No entanto, ele destaca que o estado de intubação deve ser interrompido o mais rápido possível. “A intubação deve ser feita de maneira rápida, mas o paciente deve ser retirado o quanto antes, porque há consequências do uso prolongado, principalmente. Pode haver lesões na própria traqueia e desenvolver traqueomalácia, paralisia dos nervos traqueais. Então, a ventilação mecânica salva vidas, mas tem que ser interrompida o quanto antes, para que o paciente não tenha as consequências do uso prolongado”, alerta.

Após passar o tempo necessário fazendo uso do ventilador mecânico, um segundo procedimento é feito para estimular a respiração independente por parte do paciente. “A partir de sete dias de ventilação mecânica, quando não é possível fazer o paciente voltar a respirar sozinho, a maioria dos serviços de UTI costuma submeter a uma traqueostomia, que substitui o tubo introduzido na traqueia por uma cânula muito menos invasiva, embora exija um pequeno corte no pescoço. A traqueostomia é um procedimento feito para facilitar o desmame da ventilação mecânica”, detalha.

“Hospital do hospital”

O médico é enfático ao falar sobre a importância de um leito de UTI para a intubação de pacientes, principalmente nos casos de Covid-19. “Eu costumo dizer que a UTI é o hospital do hospital. Ali o paciente está monitorado em todos os seus padrões. Se ele está na UTI, é porque o estado é grave. Se ele está grave, é o melhor lugar para estar, porque será melhor assistido, com mais recursos, mais aparelhos e mais monitoramento”, finaliza.

Pedro Compasso, médico pneumologista.

Por Igor Rosa | Foto: Blog Jaleko.