O acesso à área urbana de Ponta Grossa tem sido difícil para os moradores do distrito de Itaiacoca, que possui cerca de 3 mil habitantes pela falta de uma alternativa de transporte público. Em entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero e Jonathan Jaworski, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), nesta quinta (10), a moradora Ana Margarete Lopes Witkowski, da comunidade Mato Queimado, distante cerca de 35 quilômetros do Centro de Ponta Grossa, relata as dificuldades com o transporte rural da região.
“Estamos totalmente abandonados pelo transporte, pois não temos nenhum meio de transporte lá. Para vir para Ponta Grossa, as pessoas gastam em torno de R$ 150 a R$ 200 para chegar aqui. A localidade mais longe do Centro, Sete Saltos de Baixo, fica a 70km”, comenta Ana Margarete.
Dos três distritos na zona rural de Ponta Grossa – Piriquitos foi elevado a bairro – apenas o de Guaragi, que fica a cerca de 30 quilômetros do Centro possui uma linha de ônibus, intermediária, da VCG, que parte do Terminal de Oficinas. A linha faz sete viagens diárias em dias úteis; quatro, aos sábados e duas, aos domingos. Para chegar ao distrito de Uvaia, o morador precisa recorrer aos ônibus metropolitanos da Princesa dos Campos, que vão até Ipiranga ou Imbituva, por exemplo, e pagam pelo trecho percorrido.
Quem vai a Guaragi também pode embarcar nos metropolitanos da Princesa dos Campos e pagar por trecho, na linha que vai até Irati, passando por Teixeira Soares e Fernandes Pinheiro, mas são poucos os horários ao longo do dia durante a semana.
Improviso
Ana Margarete relata que, pela dificuldade de transporte, precisa passar a semana em Ponta Grossa a trabalho. A moradora comenta que os moradores precisam improvisar o transporte para vir à zona urbana, seja emprestando o carro de um vizinho ou contratando alguma van, por exemplo. Nesses casos, quem vem à cidade assume as despesas com combustível.
“Tem um ônibus só que está fazendo, agora, de uma empresa terceirizada. O proprietário falou que está fazendo só para dar uma ajuda, porque tem em torno de 500 aposentados mais ou menos, que todo mês têm que vir para receber [a aposentadoria] e ele cobra R$ 20 a passagem”, diz.
Com uma área de 663km², o distrito de Itaiacoca contorna toda a porção leste do município de Ponta Grossa, fazendo limites com os municípios de Castro, ao norte; Campo Largo, a leste e Palmeira, ao Sul. “A última comunidade, que divide com Campo Largo, é Sete Saltos. Inclusive, por Campo Largo, tem transporte que vem próximo. Então, muitos moradores de Ponta Grossa se sentem campo-larguenses, por ter o transporte mais próximo”, explica Ana Margarete.
Do fim da zona urbana até a localidade de Sete Saltos de Baixo, são 24 comunidades em Itaiacoca sem qualquer linha de ônibus de transporte coletivo subsidiada pela Prefeitura de Ponta Grossa. A empresa Princesa do Ribeirão (Trans Empri), que faz parte do segmento de viagens, já chegou a operar uma linha de ônibus até Itaiacoca. Porém, os horários eram de acordo com a conveniência da empresa, reclama a moradora.
“Nunca foi uma coisa assim que a pessoa morasse em Itaiacoca e pudesse vir a Ponta Grossa trabalhar ou estudar. Quer estudar ou trabalhar em Ponta Grossa? Tem que vir morar para cá”, reforça. Os horários eram muito escassos: uma viagem de ida, que chegava em Ponta Grossa em torno das 8h da manhã e o retorno para Itaiacoca às 15h. “Não tem compatibilidade, nem para fazer um exame. Se tem um exame marcado para as 16h ou para as 7h, já era. Tem que vir pousar”, acrescenta.
A sede da Águia Florestal fica em Itaiacoca e emprega vários moradores da área urbana de Ponta Grossa, explica Ana Margarete. Como não há uma linha de transporte público, a própria empresa freta ônibus particulares para levar os trabalhadores até lá.
Obrigatoriedade de atendimento a áreas rurais
Na sessão ordinária desta quarta (9), o vereador Leonilton Antonio Carneiro – o Léo Farmacêutico (PV) protocolou uma emenda aditiva ao Projeto de Lei 323/2022. A emenda prevê a obrigatoriedade do Município em atender a população da área rural com o transporte público.
O Projeto de Lei 323/2022, em discussão na Câmara Municipal de Ponta Grossa, dispõe sobre as diretrizes gerais para a prestação do Serviço Público de Transporte Coletivo de Passageiros no Município de Ponta Grossa.
Confira a entrevista de Ana Margarete na íntegra: