Domingo, 25 de Maio de 2025

Ortopedista e nutricionista orientam sobre prevenção à osteoporose

2022-10-20 às 16:12

O dia 20 de outubro é considerado o Dia Mundial e Nacional da Osteoporose, campanha que visa difundir a cultura da prevenção à osteoporose e às fraturas e torná-la uma prioridade global de saúde. Durante entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), nesta quinta (20), a nutricionista Fernanda Mattos e o médico ortopedista Marcos Tenório, deram orientações sobre como prevenir a osteoporose e quais riscos ela acarreta. Por sua condição hormonal, a doença afeta mais mulheres do que homens.

“A osteoporose é um assunto muito importante, porque ela debilita o paciente se não resolver, se não tratar. E ela é totalmente tratável. Ontem mesmo, operei um paciente com fratura de punho. Um paciente de 70 anos que caiu e tinha o osso comprometido pela osteoporose e teve uma fratura complexa. Para recuperar essa articulação, depois, é difícil. Se ela tivesse uma saúde óssea bacana, prevenindo essa osteoporose, provavelmente, teria uma fratura menor; talvez não tivesse fratura ou uma menos grave”, afirma Tenório.

Questionado se a osteoporose possui alguma relação com sobrepeso e obesidade ou se é um fator hereditário, o médico ortopedista observa que a doença se caracteriza pelo enfraquecimento ósseo, tanto do homem quanto da mulher. “Os ossos vão enfraquecendo às custas de diversos fatores. A obesidade é um fator predisponente para a osteoporose. A pessoa que tem obesidade ou sobrepeso, fatalmente, tem ou terá osteoporose, isso é inevitável”, comenta.

Outros fatores podem acarretar a osteoporose, principalmente entre mulheres, que são afetadas, sobretudo, na pós-menopausa. “Na menopausa, ela perde hormônio, o estrogênio, que ajuda a fixar o cálcio. O osso é um tecido vivo. O que sustenta o osso é a concentração de cálcio dentro dele”, explica.

O ortopedista alerta que a osteoporose é uma doença silenciosa e que os sintomas podem se tornar perceptíveis somente após uma fratura. “Quem tem osteoporose, normalmente, não sabe, porque não dói”, frisa.

As curvaturas acentuadas da coluna, que surgem com a idade, segundo o ortopedistas, já caracterizam sequelas da osteoporose. “O osso vai perdendo esse trabeculado, não tem a sustentação, principalmente com cálcio e aí vai entortando, diminuindo”, acrescenta.

A prevalência da osteoporose abrange mais as mulheres que os homens, em função da condição hormonal pós-menopausa, com a redução do estrogênio e, consequentemente, da fixação do cálcio. Fatores genéticos podem, também, influenciar. “Caucasianos brancos são pessoas que, fatalmente, vão ter osteoporose se não fizerem alguma coisa”, aponta.

Além do fator genético, existem fatores agregados, como o tabagismo e o alcoolismo. Há, ainda, a osteoporose secundária, resultado de medicação, como a do diabetes, da hipertensão e para convulsão, que desencadeiam a doença. Segundo o médico, ainda que seja bastante incomum, é possível que uma criança possa sofrer de osteoporose secundária, em função de alguma outra doença.

“As osteoporoses primárias são as que acontecem no decorrer da vida. Até os 20 e poucos anos, temos uma formação óssea importante, o osso vai se formando. Dos 20 aos 40 anos, você começa a perder massa óssea. A mulher, até os 35 anos, está perdendo muita massa óssea, o homem também. Uma osteoporose em criança, deve-se pesquisar se tem alguma doença de base, como raquitismo ou problema renal”, comenta.

O tratamento da osteoporose consiste em dieta, medicamento e atividade física de impacto. Porém, é necessário examinar caso a caso, porque alguns pacientes sofrem, também, de artrose, o que impede as atividades de impacto. “A estimulação muscular, por consequência, estimula o trabalho ósseo e exerce uma remodelação óssea importante e fundamental para a manutenção da saúde óssea”, ressalta.

A artrose, que consiste no desgaste da cartilagem das articulações, geralmente ocorre como consequência da osteoporose. “Você vai ter uma artrose no joelho, quadril, ombro, coluna, em decorrência da osteoporose”, diz. O enfraquecimento ósseo característico da osteoporose vai sobrecarregar as articulações. Outros fatores que podem influenciar o desenvolvimento de artrose seriam sequelas de fratura ou a obesidade. “É uma doença totalmente debilitante, mas que pode ser prevenida. Por outro lado, temos tratamentos que resolvem 100% a questão da artrose”, diz.

O ortopedista faz cirurgia de prótese de joelho, que é a substituição do joelho em função de artrose avançada. Tenório estima que 90% desses pacientes possuem sobrepeso ou obesidade mórbida. “Fazemos essa prótese de joelho e esse paciente vai voltar a caminhar e a entrar no peso ideal. Hoje, a medicina tem solução para quase tudo. Nas artroses, vemos uma solução importante na questão ortopédica de substituição do joelho, tirando essa artrose e colocando uma prótese. Aí vai para o nutricionista, que regula a dieta e a pessoa parte para a atividade física e se sente viva de novo”, aponta.

Crescimento e renovação celular

Os ossos, como a pele, vão se renovando até certa idade. De um lado, na ilustração do especialista, existe uma célula que renova o osso e, de outro, uma que “destrói”. A partir de certa fase, por exemplo, quando a mulher tem uma baixa de hormônios, a ação da célula destruidora é maior que da construtora – que, gradativamente, passa a diminuir. “Essa balança perde o equilíbrio: aumenta a destruição óssea e diminui a formação óssea e você tem que equilibrar essa balança”, ilustra.

Do nascimento até a adolescência, os ossos crescem gradativamente, até uma fase no início da puberdade – geralmente, entre os 9 e 11 anos para as meninas e entre os 12 e 13, para os meninos – chamada de “estirão do crescimento”. Nesse período, meninos e meninas experimentam um crescimento um pouco mais acelerado.

O ortopedista explica que os ossos crescem a partir das epífises – a parte que fica em suas extremidades. “Se você tirar uma radiografia de uma pessoa em fase de crescimento, vai notar que essa epífise está aberta. No raio-x observamos um traço de linha com uma divisão, bem na extremidade, nas duas, tanto a de cima quanto a de baixo”, comenta.

O fêmur, por exemplo, tem a extremidade proximal, junto ao quadril e a distal, que é o joelho. Nessas extremidades, surge uma linha muito visível nas radiografias. “No crescimento, essas linhas estão abertas. Na de um adulto, elas não aparecem”, diz.

Quando a epífise fecha, paramos de crescer. A idade em que isso vai ocorrer varia de acordo com uma série de características. Porém, em média, o homem para de crescer aos 16 ou 17 anos e a mulher aos 16 ou 17. A diferença é que, para a menina, o ritmo de crescimento se reduz após a menarca, o que não significa que ela pare de crescer depois de menstruar.

Ossos mais curtos, como os da mão, continuam crescendo por um período além, porque as epífises demoram mais para fechar. “As epífises de ossos longos são as primeiras a se fecharem”, compara.

O especialista desmente que exista uma “dor do crescimento”. As dores ocorrem, segundo o médico ortopedista, porque na fase de crescimento as crianças e adolescentes estão em uma fase de atividade intensa, brincando ou praticando esportes. “Faz uma sobrecarga tendinosa muscular e tem a dor. Existe dor, mas não por causa do crescimento”, reforça.

A atividade física é fundamental para o fortalecimento dos ossos, especialmente as de impacto: musculação e corrida. “O estímulo forçando o osso a desenvolver, a trabalhar, faz com que aumente a formação óssea”, diz.

Numa criança, as causas comuns de dor óssea, especialmente nas pernas, seriam falta de atividade física, excesso de atividade ou sobrepeso. A nutricionista adverte que a obesidade infantil forma um ciclo vicioso: “a criança que está acima do peso já não quer fazer atividade física porque está acima do peso e, também, quanto mais sedentária ela fica, mais ela engorda”.

Alimentação contribui para fortalecer ossos

A nutricionista Fernanda Mattos destaca que uma “alimentação limpa”, isto é, livre de produtos ultraprocessados e sem aditivos, corantes e conservantes, contribui para controlar a densidade óssea. É importante, também, diversificar a dieta e evitar comer todos os dias as mesmas coisas. Além do cálcio, precisamos de vitamina D, vitamina K e magnésio.

“Pensamos, quase sempre, só no cálcio que vem do leite e derivados. Mas nem sempre esse cálcio vai ser tão bem absorvido pelo nosso organismo. Precisamos ter uma diversidade alimentar, com folhas verde-escuras, leguminosas, gergelim também é uma fonte interessante de cálcio, apesar de você ter que consumir uma quantidade maior”, recomenda.

Fernanda sugere, ainda, cuidar da parte intestinal, para a absorção adequada do cálcio. Além disso, seguir essa dieta apenas esporadicamente não vai resolver a questão. É preciso ter consistência. “Tem gente, por exemplo, que come uma melancia inteira no final de semana e passa a semana inteira sem fruta. Não dá, precisamos do nutriente todos os dias”, ressalta.

“Em termos de suplementação e de fontes grandes de cálcio, evitamos junto de refeições com ferro, porque no nosso intestino, o cálcio e o ferro entram pela mesma ‘portinha’, só que o cálcio tem prioridade e o ferro, não. Você elimina o ferro e pode ter um problema secundário, que seria uma anemia”, alerta.

A nutricionista indica refeições com arroz, feijão, espinafre refogado, uma carne para o almoço; leite e ovos mexidos com gergelim no café da manhã; um iogurte para o lanche da tarde para que se consiga, com outras fontes de cálcio, distribui-lo ao longo do dia em vez de concentrá-lo numa única refeição.

“Uma coisa que prejudica muito é o hábito que temos no Sul de tomar café da tarde em detrimento do jantar, a pessoa deixa de jantar para tomar café com pão. É péssimo porque você acaba tendo fontes alimentares muito ricas em nutrientes só no almoço. Não precisa fazer um jantar igual ao almoço, mas, pelo menos, colocar um vegetal, um legume refogado, uma fonte de proteína”, frisa.

Quem fez cirurgia bariátrica, segundo a nutricionista, precisa redobrar os cuidados na prevenção à osteoporose. “Já atendi paciente no SUS que perdeu todos os dentes, por falta de suplementação, não se alimenta direito, tem esse enfraquecimento dentário. Essa semana, ainda atendi uma paciente que teve uma fratura de tornozelo, em três pontos, pós-bariátrica, que disse que fez um exame de densitometria óssea e acabou não levando ao médico. Essa densitometria já mostrava que tinha algum comprometimento, ela não estava fazendo uma suplementação adequada e, brincando na grama com um familiar, caiu de mau jeito e fez a fratura”, relata.

Fernanda comenta que tem muitos pacientes que recorrem à bariátrica justamente por algum problema de artrose na coluna, joelho ou quadril. São casos em que o paciente tem uma obesidade tão comprometedora, que precisa resolver rapidamente.

Confira a íntegra da entrevista: Parte 1 e Parte 2.

Para mais informações, acompanhe as redes sociais do ortopedista @marcosh_tenorio e da nutricionista @nutrifemattos.