Domingo, 19 de Maio de 2024

“Os ponta-grossenses se sentem representados nos meus quadros”, diz artista plástico Saulo Pfeiffer

2020-04-08 às 14:24

Todo artista tem a sua musa. É aquela figura – pode ser uma pessoa, um lugar, um ideal – que inspira as suas obras. A musa do artista plástico Saulo Pfeiffer, atualmente, é Ponta Grossa. Nascido e crescido na cidade, ele viralizou nas redes sociais com telas inspiradas na Princesa dos Campos.

Saulo começou a se interessar por desenho na infância. Depois que fez um curso de artes plásticas na Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Culturais (Proex) da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), a pintura entrou em sua vida para ficar. Mas foi só a partir de 2017, quando retornou de uma temporada em São Paulo (SP), onde trabalhara como desenhista em uma fábrica de vitrais, que ele começou a se dedicar profissionalmente à arte.

Na entrevista a seguir, Saulo fala sobre a sua obra, o seu processo criativo e, é claro, a sua musa. Confira também, entre as perguntas e respostas, uma seleção de pinturas organizada com exclusividade pelo artista.

O que o levou a retratar Ponta Grossa?

Eu gosto de pintar cenas com as quais as pessoas se identificam ou conhecem, pois, assim, elas podem fazer um comparativo com o local real. Acho que vem daí um certo reconhecimento ao meu trabalho, já que os ponta-grossenses se sentem representados nos meus quadros. Mas o principal fator para eu ter escolhido o tema urbano está no fato de existirem vários elementos em uma cidade, como prédios, carros e avenidas, que não encontramos em uma paisagem rural, por exemplo. Como eu sou natural daqui, nada melhor que escolher Ponta Grossa para pintar.

Você também trabalha com outros temas?

Sim. Um tema em especial que eu aprecio muito são os historico-militares, que venho trabalhando junto ao Exército Brasileiro. Mas também pinto aves, pessoas e temas religiosos. Em todos esses temas eu procuro deixar evidente o meu traço, o meu estilo.

Pôr do Sol na Avenida (Foto: Divulgação) (Clique na imagem para ampliá-la)

Como é o processo de criação das obras que mostram Ponta Grossa?

Geralmente, eu fotografo o local, com várias fotos de vários ângulos possíveis, como se fosse em 360 graus. Depois, no meu ateliê, certifico-me de que as fotos estão me passando a sensação que a cena in loco me transmitiu. Então começo a pintar na tela, usando as imagens como referência.

Como você escolhe a cena que vai retratar? Tem critérios para isso?

Acredito que os meus critérios são mais técnicos do que hierárquicos, ou seja, eu procuro cenas onde os fatores artísticos são mais importantes, e não simplesmente a relevância do local. Por exemplo, se a luz me atrai, eu vou retratar aquela cena, independente do local. Pode ser uma avenida ou uma praça. O que determina é o “momento”.

Rua do Rosário (Foto: Divulgação) (Clique na imagem para ampliá-la)

Tem algum ponto da cidade que seja o seu preferido?

Encanta-me em especial o Centro de Ponta Grossa. Gosto das ruas apertadas, que dão uma sensação claustrofóbica, ou então os prédios antigos, alguns com a pintura externa desgastada. Tudo isso me soa um tanto “poético” e inspirador. Mas o movimento urbano também me atrai. As pessoas e carros, se deslocando de um lugar a outro, compõem uma sinfonia que só a cidade pode nos trazer, e isso eu também procuro mostrar nas minhas obras.

Após fazer tantas telas sobre Ponta Grossa, a sua visão sobre a cidade mudou de alguma forma?

Acho que sim, pois, como já pintei vários quadros de Ponta Grossa, acabei educando o meu olhar a fim de encontrar novas cenas e momentos para retratar. Isso me faz ter uma visão mais artística da cidade. Pode parecer engraçado, mas até o trânsito engarrafado do Centro pode me inspirar um novo quadro.

Rua Cel. Dulcídio (Foto: Divulgação) (Clique na imagem para ampliá-la)

Pintores têm olho “clínico”. Se pudesse fazer alguma melhoria estética na cidade, o que gostaria de fazer?

Eu gostaria que todos os prédios históricos e fachadas antigas tivessem uma pintura nas cores condizentes com as da sua época, preservando a originalidade do edifício; e também que houvesse mais tombamentos patrimoniais, sobretudo nas ruas históricas. Pode-se também pensar, a longo prazo, em uma forma de tornar subterrâneas as linhas de transmissão de energia elétrica, em toda a região central, pois, em alguns lugares, os fios de luz geram uma poluição visual, em especial em frente às antigas fachadas. Embora isso não me atrapalhe como artista, pois a arte sobrepõe-se aos obstáculos visuais, e um artista deve ser capaz de extrair algo “belo” do “feio”.

Como tem sido a vendagem das obras que mostram Ponta Grossa? Vende mais para compradores da cidade ou de fora?

Em geral, os quadros urbanos têm boa saída. As pessoas gostam de algo diferente como item de decoração. Também há clientes que adquirem os quadros porque têm alguma ligação com a cena retratada. E há ainda os nostálgicos, aqueles ponta-grossenses que vivem fora da cidade, inclusive em outros países, e que compram os quadros para observar e, de certo modo, matar as saudades de Ponta Grossa. Isso é o que hoje me faz ter quadros na Alemanha, Estados Unidos e Portugal.

Museu Campos Gerais (Foto: Divulgação) (Clique na imagem para ampliá-la)

Você gostaria de retratar outra cidade?

Sim, tenho planos de retratar as principais capitais do Brasil. Já fiz várias fotografias de São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, porque gostaria que mais brasileiros conhecessem o meu trabalho. É importante que eu realize as fotos, pois gosto de “sentir” o momento e o local para transmitir o meu sentimento na obra.

Quais são os seus planos como pintor?

Eu gostaria de poder enviar quadros meus para galerias nacionais e internacionais de arte, e também fazer um grande número de telas historico-militares que retratassem os principais momentos da história brasileira.

Skyline com Pôr do Sol em Ponta Grossa (Foto: Divulgação) (Clique na imagem para ampliá-la)

Por Rafael Guedes | Foto: Fernanda Souza