Sexta-feira, 13 de Dezembro de 2024

“Por Jesus, aprendi e ensinei no Pará”, diz jovem de PG que participou de missão no Alto Xingu

2022-08-17 às 12:22

Em entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), nesta quarta (17), a jovem Izadora Silva de Melo relatou sua experiência em missão coordenada pela CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – à Prelazia do Alto Xingu, no município de Tucumã, no Pará.

Da partida ao retorno até Ponta Grossa, em 25 de julho, foram 10 dias de viagem e oito, de fato, de missão. A estudante de Farmácia, da UEPG, foi a única jovem paranaense a participar da missão, ao lado de outros jovens de todo o Brasil.

Izadora, que participa ativamente da Comunidade Católica Shalom (Av. Bonifácio Vilela, 483 – Centro), disse que participar de uma missão é uma vocação, mas que ficou surpresa com o convite. “Algo que nunca imaginei, mas, ao mesmo tempo, quando recebi o convite, não consegui negar. Foi uma experiência totalmente nova, nunca tinha viajado sozinha e o mais longe que eu tinha ido tinha sido o Rio de Janeiro. Daqui do Paraná foi apenas eu”, relata.

O objetivo da missão era visitar famílias da região, que é uma Prelazia – um tipo de circunscrição eclesiástica erigida para atender a necessidades peculiares em um território. “Ainda tem poucos padres, poucas igrejas, não tem estrutura financeira para ser uma Diocese”, explica.

Segundo Izadora, há poucos padres na região onde ocorreu à missão, devido à dificuldade de locomoção, porque há poucas estradas e, onde elas existem, as condições de trafegabilidade são desafiadoras e só passa de caminhonete. E tudo é muito distante. “Ainda tivemos a sorte, o privilégio de que uma mulher da paróquia nos emprestou a caminhonete para fazer as visitas e, mesmo assim, levava meia hora, 40 minutos para visitar uma vila. A dificuldade é essa. Tem lugar que tem missa só uma vez por mês”, conta.

Contraste cultural

De acordo com a jovem missionária, as famílias visitadas em Tucumã, por ser uma região rural no Alto Xingu, apresentam um padrão de vida muito diferente do nosso. “Ao mesmo tempo, em relação à comida, é muita fartura. Eles vivem bem. Não tem como comparar, porque é uma realidade muito diferente, pela estrutura. A região que eu fui era de zona rural. É uma vida simples, mas eles vivem muito bem, muito fora do nosso conforto, mas vivem bem”, descreve.

Na visão de Izadora, a missão consolida a ideia de que “por Jesus, aprendi e ensinei”. A jovem comenta que o assessor da juventude da Diocese de Ponta Grossa, padre Kleber Pacheco, a advertiu que ela não estava indo nem para conquistar, nem para ensinar nada. “Foi muito mais eu que aprendi. Temos muito uma ideia de que, aqui no Sul, estamos à frente, que sabemos mais, conhecemos mais e estamos mais evoluídos, mas acho que o olhar não é nem esse. É outra estrutura, é outro jeito de viver. Às vezes eu percebia como eu me preocupo com coisas pequenas”, frisa.

Izadora relata que notou uma grande diferença no modo de encarar a vida e no trato pessoal que os habitantes do Alto Xingu têm, ao recepcionar a todos de forma muito acolhedora. “Entrávamos em todas as casas onde íamos. A pessoa nunca me viu [e convidava a entrar], para eles, eu era totalmente diferente. Eles me olhavam e falavam: ‘você veio do Sul, né?’, principalmente pelo tom da pele, porque lá o sol é muito forte”, conta.

Outra diferença que ela considera notável entre aqui e lá é a estrutura da Igreja em si. “Se eu quero ir na missa, conversar com o padre, me confessar, vou em qualquer dia”, compara. Em Tucumã (PA), a organização da comunidade católica é diferente justamente pela falta de padres e pela dificuldade de deslocamento, então, segundo ela, não existe esse acesso facilitado a um padre.

“Tive que ir ao Pará para aprender a evangelizar. Ali no Shalom temos esse movimento [de Evangelização], mas eu ficava assim ‘meu Deus, o que eu faço?’. Sempre escuto que devemos dar de graça o que de graça recebemos. Às vezes, simplesmente ir a uma casa fazer essa visita já é importante, principalmente nós, como jovens. Outros jovens precisam ouvir um jovem”, ressalta.

Izadora relata que, durante a missão, visitou muitas casas de famílias evangélicas e, mesmo assim, foi bem recebida e elas aceitaram fazer uma oração e a leitura da Palavra juntos. “Pudemos rezar com os católicos lá, mas também com os evangélicos, sem problema nenhum. O pessoal ficava feliz. Foi uma troca muito boa”, acrescentas.

Experiência de vida

Questionada se, durante a missão, ela percebeu que pôde ajudar alguém em algo ou se foi mais ajudada, ela disse que recebeu muito mais do que o que tinha a oferecer, em termos de experiência de vida. “Foi muito mais eu que recebi. A todo instante ter alguém cuidando, alguém preparando alguma coisa para mim. O que mais pude levar foi um ânimo, um incentivo, trazer um olhar diferente”, diz.

“O lugar onde eu fiquei, o grupo de jovens tinha acabado. Ajudamos eles a retornarem”, acrescenta.

Izadora relata que, durante a missão no Pará, toda vez que rezava podia sentir Deus falando com ela, presente ao lado dela. “Mesmo antes de ir, sempre que eu rezava, ouvia Deus me falar que estaria à frente, atrás, em cima, em baixo, dos dois lados, quando eu tivesse medo. Me senti muito assim. Sou a filha mais nova – minhas irmãs são bem mais velhas – e sempre tive todo mundo cuidando muito de mim. De início, fiquei apavorada por estar indo sozinha, não conheço ninguém, é tudo novidade, mas a todo o instante eu me senti cuidada”, destaca.

Para Izadora, a coisa mais marcante da missão foi a riqueza cultural do Alto Xingu e dos missionários em si. “Conheci pessoas do Brasil inteiro, fiz amizades. Toda a experiência de conhecer lá, não conhecia nada, saí do meu mundo. Mas conhecer as pessoas, uma cultura diferente, danças características do Pará, os frutos – comi um monte de açaí, nunca tinha nadado num rio e nadei logo no Xingu, um lugar lindo. Fizemos uma trilha e vimos macacos e bichos-preguiça, coisas que jamais veria aqui”, descreve.

Voltar para a Igreja

O incentivo a participar ativamente da igreja partiu dos pais, desde cedo. Filha de Bráulio e Valquíria, Izadora nasceu e cresceu frequentando a Paróquia Santa Rita, na Ronda, onde recebeu os sacramentos do batismo, primeira eucaristia e crisma. “Eles participaram das Missões Populares que tiveram aqui e foram ministros da Eucaristia por nove anos. Eles que sempre me levaram. Uma das minhas irmãs, a do meio, é religiosa há 12 anos”, comenta.

Izadora conta que, conforme cresceu, acabou se afastando um pouco da vivência católica, mas que seu interesse pelo ballet, que ela sempre praticou, de forma inusitada, a reaproximou da Igreja. “Voltei quando comecei a participar do Shalom, que é uma comunidade mais direcionada aos jovens. Eles iam fazer um espetáculo e eu fui fazer audição de dança. Não fui lá para rezar, fui para dançar”. conta. “Eu ia para ensaiar, eles rezavam no início do ensaio, depois. E falei ‘nossa, legal isso aqui, tem algo diferente. Foi o jeito que Deus achou para me chamar de novo'”, conclui.

Assista à íntegra da entrevista: