Em 98 anos de história, a Prelazia de Lábrea, no Amazonas, ordenou, no último sábado (25), o seu primeiro diácono originário. Thiago Mendes Alves é natural de Manaus, mas, aos seis anos de idade se mudou para Canutama, onde fez toda a sua caminhada eclesial na Paróquia São João Batista, mais especificamente na Capela São Pedro. A celebração de ordenação foi presidida pelo bispo prelado, Dom Santiago Sánchez Sebastian, pelo bispo emérito, Dom Jesus Moraza, e por três dos cinco párocos da Prelazia. Dos sacerdotes presentes, dois representaram a Diocese de Ponta Grossa: padre Osvaldo Pinheiro (pároco da Paróquia São João Batista) e padre Sílvio Mocelin.
Acompanharam também a cerimônia companheiros de caminhada de Thiago, alguns já sacerdotes e outros ainda seminaristas. “Passa um filme pela cabeça. A gente lembra de toda a trajetória, de toda a caminhada, dos momentos em que se encontrou em deserto, outros momentos nas bodas de Caná. Os processos que passamos na vida e vão ajudando a discernir a vocação e saber qual o chamado na Igreja e qual missão que Deus nos confia a cada dia. Foi um momento de muita emoção. Lembrei de quando era criança, quando meu avô me levava para a igreja, entusiasmado. Foi ele quem me inseriu na comunidade. E, depois, a minha mãe, que foi muito importante na minha caminhada. Ela que, depois que o meu avô faleceu, foi a maior motivadora para que eu não tomasse outro caminho. A gente lembra de pessoas que ajudaram, fortaleceram, incentivaram”, resumia Thiago, afirmando que a celebração também foi uma forma de agradecer e pedir a Deus que retribua em forma de bênçãos a todos.
De acordo com o novo diácono, dois momentos foram muito fortes: o da veste e da acolhida do clero. “No momento da entrega da veste, me recordei quando era criança e minha mãe me vestia. E, agora, me vestia com as vestes que representam toda uma sacralidade. Foi muita emoção. E quando o clero me acolheu, Dom Santiago teve uma atitude muito bonita, quando convidou minha mãe para que fosse a primeira a me acolher e também a me entregar para a Igreja. Foi um abraço de acolhida, mas, ao mesmo tempo, de entrega. Fiz um resgate da minha história vocacional e lembrei do meu avô, que foi o primeiro promotor vocacional, me incentivando a ir à igreja. Se ele estivesse ali estaria muito feliz, com sentimento de dever cumprido. De ter sido educador na fé. A celebração seria a confirmação daquele primeiro chamado que Deus fez através dele”, afirmou Thiago.
Quanto à mãe, o novo diácono garantiu ter vivido momentos de muita emoção, especialmente por ele ser filho único. “Eu não me preocupo tanto. Acredito que minha mãe será também uma das minhas companheiras de missão, sabendo da nossa realidade que tanto precisa. Ela já exerce sua missão na minha paróquia de origem, mas quem sabe possamos trabalhar juntos”, especulava.
O bispo Dom Santiago lembrou que a Prelazia tem ata de fundação do dia 1º de maio de 1925. Daqui a dois anos completará 100 anos. “Só durante o primeiro ano esteve um sacerdote diocesano à frente da Prelazia. Depois, chegaram os Agostinianos Recoletos. Durante todo esse tempo, 98 anos, não houve vocação originária. Tivemos algumas vocações para a vida consagrada religiosa, que saíram da Prelazia. Temos tido ordenações mas tem sido para membros de famílias religiosas, que estavam a serviço de suas ordens, de suas congregações. Também tivemos ordenações para a Prelazia, mas não de pessoa originária dali, como o padre Eder Carvalho, que atualmente está trabalhando aqui, em Tapauá. Thiago é de Canutama, o quarto município em número de habitantes e o mais antigo da Prelazia. Sua ordenação significa para nós uma grande esperança dentro desse Ano Vocacional porque realmente é a evangelização dando os seus frutos. Tivemos candidatos, mas ele foi o único que chegou até o final. Para mim é uma grande alegria, uma grande satisfação. Vou completar sete anos de bispo e acompanhei sua formação, ainda como aspirante, aqui, e sua formação, no seminário interdiocesano de Porto Velho, onde estudou Filosofia e Teologia”, contou.
Caminhada
Thiago Mendes Alves participou de diversas pastorais: coroinhas, liturgia, infância missionária. Aos nove anos começou a participar da Pastoral Vocacional e foi vice-coordenador de sua comunidade, a São Pedro. Ingressou, mais tarde, de forma mais direta, na Pastoral Vocacional. Chegou a pensar por algum tempo em não ser mais padre, em não servir, especialmente depois que padre Éder Carvalho Assunção, que o acompanhava de forma especial junto com a equipe Epifania, de Vitória (ES), se mudou para a África. Recebeu convite para ir conhecer o seminário propedêutico, que tinha como reitor o padre da Diocese de Ponta Grossa, José Lauro Gonçalves. Aceitou e foi fazer uma experiência no propedêutico, em 2015
“Sinto muita alegria e muita gratidão por todo o processo. Pelas pessoas que Deus colocou no meu caminho, em especial, os padres José Lauro e José Nilson (Santos), que ajudaram no meu discernimento vocacional. Padre José Lauro foi reitor do propedêutico e esteve sempre presente na caminhada, mesmo estando distante. Padre Zé Nilson me acompanhou por um tempo, era o padre referência quando eu precisava de algumas coisas. Muito grato por essas pessoas. Pelos leigos e lideranças de comunidade e pelo momento que estamos vivendo, de alegria, oração e esperança: que outros possam perceber as necessidades da Prelazia e queiram se colocar à disposição dessa Igreja Particular”, destacava.
Diácono Thiago se mostrava muito feliz por ser o primeiro diácono na Prelazia. Padre Éder Assunção foi o primeiro ordenado, mas ele é da Diocese de Vitória e foi incardinado. “Eu sou o primeiro nativo da região. Conheço a realidade muito bem. Consigo falar a linguagem do povo, isso ajuda muito no processo pastoral, na caminhada de fé e no processo de evangelização”, acrescentou. Thiago Alves é o filho único de Alcilene Mendes e Evaldo Lima Alves. Foi criado com os avós e a mãe.
A ordenação presbiteral ainda não tem data marcada.
da assessoria