Quarta-feira, 25 de Junho de 2025

Presidente de Comissão apresenta detalhes do planejamento da Nova Concessão de Transporte Coletivo

O procurador do Município de Ponta Grossa, Márcio Henrique Martins de Rezende, preside a Comissão de Análise e Estudos para a Concessão do Novo Transporte Coletivo
2022-12-14 às 16:42

O município de Ponta Grossa está prestes a finalizar os estudos para formular o novo processo licitatório do transporte coletivo. Os levantamentos que irão formatar o projeto estão sendo realizados pelo Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) e já estão em fase final.

A Prefeitura também abriu uma consulta pública a fim de que a comunidade contribua com sugestões e demandas do transporte público. O formulário pode ser acessado aqui e deve ser respondido até 9 de janeiro de 2023.

Para esclarecer dúvidas e apontar os direcionamentos que vão ser dados nesse aspecto, o  programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), desta quarta (14), recebeu o presidente da Comissão de Análise e Estudos para a Concessão do Novo Transporte Coletivo de Ponta Grossa, Márcio Henrique Martins de Rezende, que também é procurador do Município de Ponta Grossa.

Rezende conta que o trabalho de prospecção foi iniciado em junho de 2021. A Comissão é multiprofissional e inclui engenheiro, geólogo, contador, advogados e técnicos de transporte. Em 28 anos de carreira pública, o procurador municipal de Ponta Grossa considera que esse estudo é o maior legado que a Comissão deve deixar ao município. “Estou agradecido por ter essa incumbência e a responsabilidade é grande, mas queremos deixar uma marca para a cidade, não pessoal, mas minha contribuição como servidor público. O reconhecimento, para mim, é o trabalho ficar bom”, diz.

O transporte coletivo, segundo o presidente da Comissão, envolve mais do que apenas os usuários. Ele antecipa a intenção do município em elaborar dois corredores exclusivos para ônibus, a fim de agilizar as viagens entre os terminais Uvaranas e Central e da Nova Rússia até o Centro. A Comissão acredita que essa redução de tempo na viagem pode tornar o transporte coletivo mais atraente até para quem tem evitado utilizá-lo hoje em dia por temer os atrasos.

O impacto seria gradativo: com mais gente usando o transporte coletivo, haveria menos carros nas ruas e, assim, agilizaria ainda mais o trajeto dos ônibus, tornando o serviço mais eficiente.  “Diminui o trânsito, diminui stress e diminui poluição. O ônibus vai ter uma linha diferenciada; as pessoas do comércio vão se preocupar mais com sua fachada, pois vai ter mais gente passando em frente à sua loja. É um movimento que engloba a cidade inteira”, enumera.

Rezende afirma que esse estudo ajudou a formular inovações recentes, como as linhas Interbairros e Interterminais e os Pontos de Ligação Rápida (PLRs). O presidente da Comissão observa que o Sistema de Transporte Coletivo em vigor em Ponta Grossa foi moldado ainda no início dos anos 1990, quando foi adotado o Sistema Integrado de Transporte.

Nesse sistema, o usuário troca de ônibus nos terminais sem precisar pagar novamente a tarifa, como ocorria, até então, no antigo Ponto Azul. A grande maioria das linhas disponíveis em 1993, quando os terminais foram inaugurados, convergia para o Terminal Central e algumas outras poucas para o da Nova Rússia e para o de Oficinas – ainda não havia o de Uvaranas, inaugurado em 2004.

“Todos os ônibus convergem para um único lugar. Costumo falar que é como se a cidade fosse um asterisco gigante e temos que transformar esse asterisco em uma teia de aranha, com linhas Interterminais”, diz. Essas linhas não servem, necessariamente, para ir de um terminal a outro, ainda que ela passe entre eles; mas servem para fazer uma ligação simplificada, por exemplo, para um usuário que precisa ir da Palmeirinha à Vila Marina sem depender dos terminais.

PLRs

Essa concentração de itinerários com destino no Terminal Central, atualmente, é considerada ruim. Segundo Rezende, o local ocupa um grande espaço público, que poderia ser dividido com outras atividades e está num ponto que virou um gargalo do trânsito – tanto de ônibus quanto de carros de passeio.

“A estrutura que está sendo montada de forma experimental e é uma ideia para os próximos anos nessa concessão – que pretendemos que seja por 20 anos – é a criação de miniterminais (os PLRs)”. Hoje, já existem PLRs na Palmeirinha; na Rua Siqueira Campos; na UTFPR e no Santa Paula. As PLRs também possuem o sistema de integração temporal: o usuário de bilhetagem eletrônica paga uma passagem e pode trocar de ônibus no PLR dentro de uma hora e meia. Para efeito comparativo, é um sistema de distribuição do transporte similar aos tubos de Curitiba.

Transporte rural

Segundo o presidente da Comissão, a próxima concessão de transporte coletivo deve incluir linhas regulares na área rural. “O único lugar que tem transporte regular hoje, entre os distritos, é Guaragi, com três horários por dia”, diz. Há um mês, o portal D’Ponta mostrou o drama dos moradores de Itaiacoca para acessar a zona urbana de Ponta Grossa, pela falta de opção de transporte coletivo.

Consulta pública

Na consulta pública, disponível no site da AMTT até 9 de janeiro de 2023, o usuário de transporte coletivo responde a 13 questões objetivas, além de um espaço para sugestões de melhorias para o serviço. Entre os temas abordados estão a periodicidade do uso do transporte, modalidades de pagamento, utilização de terminais e PLRs. O usuário também pode sugerir quais itens de conforto quer nos ônibus. “Numa prévia que temos, é interessante que 95% dos que já responderam preferem ônibus com tecnologia não-poluente”, cita.

Segundo Rezende, para atender ao interesse público é preciso assegurar qualidade e eficiência. “Buscamos eficiência com tecnologia”, indica.

O presidente da Comissão reconhece que o transporte coletivo não vai atender a 100% das pessoas, mas atende à maioria delas. Alguns bairros não possuem linhas próprias por baixa demanda, sem passageiros o suficiente para torná-las economicamente viáveis, “o que joga o IPK [índice de passageiros por quilômetro] lá para baixo”, diz.

O IPK deve ser aplicado na nova concessão, com o pagamento para a concessionária por quilômetro rodado e é uma das principais variáveis no cálculo do valor da tarifa. O novo modelo de concessão deve incluir dois lotes. “Vamos ter um contrato em que a empresa que vencer o Lote 1 pode cobrar R$ 7 por quilômetro e a empresa que vencer o Lote 2 cobrar R$ 6, por questões de disputa na licitação, mas isso não vai interferir [na tarifa]. O usuário vai pagar um valor, que não vai para a concessionária, vai para um Fundo de Transporte”, diz.

“Rode vazio ou lotado, a concessionária vai ganhar o mesmo valor pela viagem. Com essa possibilidade, vamos criar transporte sob demanda: numa determinada região que não tenha linha regular, porque não tem passageiros suficientes, vamos criar esse serviço sob demanda, que seria um pré-agendamento, que a concessionária oferece o horário e as pessoas se cadastram”, diz.

Esse modelo sob demanda já foi testado durante os Jogos Inter Atléticas (JOIA), em novembro. “Com a prática, vão se ajustando os melhores horários para aquela comunidade, aquela região”, acrescenta.

Cobradores sob risco de extinção

O novo modelo de concessão não prevê qualquer garantia à manutenção da função dos trocadores (ou cobradores) nos ônibus que operam o transporte coletivo. “A população não quer, porque hoje representa 20% da tarifa o cobrador, o que é um atraso no embarque. Até alguns mercados já não têm mais operadores de caixa”, avalia o presidente da Comissão.

Sem calcular o impacto econômico que geraria uma demissão em massa – a VCG possui cerca de 400 cobradores, Rezende comenta que a Comissão tem conversado com a Agência de Inovação e Desenvolvimento e abriu uma conversa com a Viação Campos Gerais para que seja feito um trabalho nos próximos seis meses para que eles sejam realocados.

“Se pensarmos que o contrato acaba em junho de 2023, todos, não só os cobradores, mas os motoristas, a oficina, o administrativo, todo mundo pode ser demitido”, opina.

Confira a entrevista com Márcio Henrique Martins de Rezende na íntegra: