Pela primeira vez em 50 anos, os docentes do ensino presencial da Universidade Estadual de Ponta Grossa trabalham à distância. São 7 meses longe da rotina dos campi, com 3 meses de atividades remotas. Essa nova realidade coloca o 15 de outubro de 2020 na história como o Dia dos Professores em que, por conta da pandemia da Covid-19, eles precisaram se reinventar diante dos desafios do ensino remoto.
“Cada um de nós professores teve que repensar, reestudar, reprogramar, reinventar e rever uma série de conceitos e práticas consolidados há muitos anos, a fim de que os conteúdos antes discutidos presencialmente continuem a chegar aos acadêmicos da melhor forma possível, mas agora de maneira remota”, avalia Zilda Consalter, professora do curso de Direito. “Fomos compelidos a exercer ainda mais a nossa humanidade e empatia para que a relação aluno-professor siga sendo saudável, mesmo com os obstáculos impostos pela falta de proximidade”, continua Consalter. “No final, o saldo será positivo, pois aprimoramos nossa técnica, nossa resiliência e paciência, e estamos acumulando uma herança ou legado pandêmico, eis que poderemos continuar a utilizar, presencialmente, vários dos recursos que só estamos aplicando hoje, justo em razão da condição pela qual passamos”.
O pró-reitor de Graduação Carlos Willians Jacques Morais contextualiza que “o ensino remoto foi adotado para atender os limites das relações presenciais, num contexto de emergência e temporalidade”. Os calendários presenciais foram suspensos em 16 de março, mas em 20 de julho, depois de um período de transição, com atividades não obrigatórias, os docentes da UEPG retomaram as aulas teóricas através da plataforma Google Classroom.
Entre maio e julho, a Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) os Núcleos de Tecnologia da Informação (NTI-UEPG) e o de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância (Nutead) promoveram cursos e disponibilizaram tutoriais para os professores da UEPG. “A adaptação foi estressante no início, mas a utilização das plataformas tem sido tranquila, pois os tutoriais disponibilizados têm nos atendido a contento”, relata o professor Aroldo Messias de Melo Júnior, do Departamento de Administração. “Não tive nenhuma reclamação dos estudantes e a presença tem sido num nível ótimo, com mais de 80% de presença nas aulas”, avalia. Sobre os recursos online do ensino remoto, o professor de Direito Vicente Ribas avalia que “antes eles eram utilizados como complementos das atividades da sala de aula, agora se tornaram a principal, senão a única ferramenta disponível para a continuidade do processo de ensino-aprendizagem”.
A docente de Odontologia Nara Hellen Campanha Bombarda conta que, após um momento inicial de muitas dúvidas e de negação, passou a encarar a realidade de modo proativo. “Procurei me capacitar em cursos de didática em EaD e de atividades remotas, ofertadas tanto pela Universidade quanto por outras instituições de ensino, e também tive a oportunidade de frequentar cursos da minha área (Odontologia) e da área de Pesquisa Científica como aluna”, conta. Nara relata que ao vivenciar “esse ‘lado de lá”, como aluna de cursos remotos, conseguiu ter contato com uma série de ferramentas, meios, metodologias que podem ser aplicadas para adquirir competências e habilidades de maneira igual, ou até superior, ao método presencial.
O reitor, professor Miguel Sanches Neto, enfatiza que nunca foi tão desafiador ser professora e professor como neste período de pandemia, em que, em meio a incertezas, a mudança de rotinas, a novas metodologias, o corpo docente mostrou a sua capacidade de atuação, de debate, de reinventar suas atividades. “Quero aqui externar a gratidão a cada professora e cada professor que são verdadeiros heroína e herói destes novos tempos de ensino. Espero também que em breve possamos vencer a pandemia e nos encontrar presencialmente nos espaços de ensino, pesquisa, extensão e convivência, para que os campi possam ter de novo a alegria que a presença de professores e alunos cria”, complementa.
Para o professor Vicente Ribas, construir um ambiente de aprendizagem de qualidade, sem aulas presenciais é o grande desafio enfrentado pelos professores nos tempos da pandemia de Covid-19. “De repente foi preciso mudar completamente as práticas pedagógicas. O ambiente da sala de aula, a comunicação corporal, foram perdidos. O diálogo ficou prejudicado, o professor não pode perceber as reações de dúvida, clareza, até mesmo o tédio que são coisas naturais em um ambiente da sala de aula. Lidar com as bruscas mudanças, mesmo para aqueles que já tinham certa familiaridade com o modelo de ensino a distância é tarefa das mais difíceis”, diz. Ele completa que, “apesar de todas as dificuldades, do fator emocional, os professores seguem enfrentando esse momento complicado: amigos da educação, guias, conselheiros, um dos mais importantes pilares da sociedade e que merecem todas as homenagens no seu dia”.
A professora do curso de História Georgiane Garabelly, enfatiza a dificuldade de conciliar tarefas maternais com o ensino remoto. “Para mim sempre foi desafiador. Sou professora, pesquisadora mas antes disso sou mãe solo de duas crianças em idade escolar. Conciliar tudo não foi fácil. Mas tive muito apoio do meu departamento, que inclusive forneceu como empréstimo um computador pois aqui em casa usamos para aulas três equipamentos ao mesmo tempo. Sinto saudades da universidade, dos colegas, do campus. Mas, estamos conseguindo manter um bom contato com os alunos e alunas. Vamos atravessar esse período de dificuldades e sair ainda mais fortes”, afirma.
O docente do Departamento de Artes Visuais Nelson Silva Júnior reitera que, a ausência do contato entre professor e aluno é uma grande perda para a troca humana na formação dos acadêmicos. “Quando tivemos que trocar as salas de aula pelas salas virtuais, também ficaram remotas as nossas sensações e percepções sobre o cotidiano de nossos alunos. Descobrimos que o calor humano que uma sala de aula transmite é inigualável. Aprendemos, aliás, ainda estamos aprendendo sobre muitas coisas nesta fase de adaptação e percebendo que muito pode ser melhorado, mas, nunca o poder do olhar, do toque, da afetividade que a sala de aula proporciona na relação entre professor e alunos, será substituída.
Foco no aluno
A experiência no ensino remoto tem sido um desafio para docentes e estudantes. “Sinto falta do contato direto, de interações espontâneas, de conversas de corredor”, confessa a professora Karina Janz Woitowicz, do curso de Jornalismo. “Sabemos que as realidades são múltiplas e as condições para o acompanhamento efetivo das aulas e atividades do curso variam muito diante das barreiras tecnológicas, sociais e psicológicas vivenciadas pelos e pelas estudantes”, diz. A professora reforça que, apesar das dificuldades, segue na expectativa do enfrentamento da pandemia e se empenha em contribuir com o processo de formação acadêmica.
Danuta Cantoia, professora de Serviço Social, destaca a importância da atenção ao retorno dos estudantes e confessa que não quer sobrecarregá-los com muitas atividades. “Vamos galgando aos poucos e experimentando, analisando, parando e observando como tá sendo o processo pedagógico na caminhada”. Danuta tem preferência total por aula presencial, segundo ela, “mas mediante o contexto a aula remota é o que é possível. A dificuldade tem sido enfrentada e superada e os alunos têm correspondido”.
“Vencer o grande e inédito desafio, que se apresentou de forma repentina, de transmitir o conhecimento sem perdas de qualidade, mantendo a motivação e o foco dos estudantes, tem sido uma tarefa difícil e que tem exigido atenção e dedicação redobrados. Porém, por outro lado, pode-se notar até agora uma resposta que eu diria ser surpreendente. Não houve desistência, não houve desânimo, e sim muita participação e comunicação entre todos, em uma reação espontânea. Estamos todos juntos, professores e alunos, vencendo essa fase que ficará marcada em nossas vidas”, reflete o professor Marcos Szeliga, do curso de Engenharia Civil.
“A busca ativa de conhecimento por parte do aluno, a organização de seus estudos, a autonomia, utilização de tecnologias de informação para a comunicação, a tomada de decisões clínicas para estabelecimento de planos de tratamento de pacientes triados anteriormente ao isolamento social ou fictício, entre outras”, são citados por Nara Bombarda como importantes, mas revela que a saudade da convivência amigável no Bloco M é muita. “Mas a fé no futuro é maior”, exalta.
A professora Ana Paula Parra, do curso de Direito, relata que o mais desafiador é manter o foco e interesse do aluno nas vídeo-aulas e de um olhar atento para que todos estejam bem sob o aspecto de sua saúde mental em tempos tão difíceis. “Para isso, os professores estão se reinventando. É muito satisfatório quando os alunos interagem nas plataformas utilizadas, pois dá uma sensação de empatia, de integração”. Para ela, o exercício do magistério durante a pandemia é um aprendizado enorme. “É aprender a trabalhar com novas tecnologias, aprender a lidar com a falta de contato com os alunos e colegas”.
Sobre a atenção ao aprendizado do aluno, Ana Paula Garbuio Cavalheiro, professora do departamento de Enfermagem e Saúde Pública, detalha que, a cada aula, solicita atividade de fixação sobre os conteúdos trabalhados. “Assim, eu fecho a carga horária. Mas todo o processo é pelo Google Classroom. Envio as bibliografias, as atividades e eles me devolvem por lá também”.
Dedicação extra
A professora de Zootecnia Verônica Oliveira Vianna ressalta a dedicação extra que trabalhar no ensino remoto necessita. “De uma maneira repentina tive que assimilar novas tecnologias e ensinar em um momento no qual aspecto emocional de todos está alterado”, explica. “Entretanto, as discussões que tenho participado em seminários didático-pedagógicos e no próprio departamento, além do feedback dos acadêmicos, tem sido um balizador para melhorar o ensino atual”, complementa Vianna. “Certamente as tecnologias usadas durante a pandemia serão incorporadas no meu dia a dia, sendo a mais concreta a possibilidade de trazer convidados para as atividades assíncronas o que irá ampliar a possibilidade de troca de experiências, este ganho irá perdurar após este período”.
Para o professor Albino Szesz Júnior, do departamento de Informática, lecionar durante a pandemia é desafiador. “Mas estamos encarando em conjunto, alunos e professores repensando a forma de ensinar e aprender, utilizando das mais variadas ferramentas e recursos tecnológicos, mas ao mesmo tempo tentando ser o mais humano possível, desenvolvendo a criatividade, o pensamento crítico, a empatia e a autonomia”, acrescenta.
O professor Carlos Emmanuel Ribeiro Lautenschläger, de Engenharia Civil, considera que o ensino se completa quando a relação professor-aluno se estabelece. Esta tarefa, para ele, tem sido árdua nos tempos de ensino remoto, exigindo grande dedicação de professores e alunos. “Percebo que muitos professores têm dado o seu melhor, e que os alunos também têm se dedicado sobremaneira para que essa conexão se estabeleça, e o aprendizado aconteça”, considera. “Para ser professor neste período, é preciso ter dedicação, paciência, amor pelo que faz e, sobretudo, fé na ciência. A ciência é o único meio capaz de nos fazer vencer a pandemia, e por isso nós, integrantes do meio acadêmico, precisamos nos manter unidos e fortes para extrair desses tempos sombrios os melhores aprendizados possíveis, e a partir disso construir dias melhores, conjuntamente”, completa.
Chegar até o aluno
“Como prosseguir para garantir que o processo de formação não seja prejudicado?”, questiona a professora Melissa Koch Nogueira, do departamento de Biologia Geral. “Foi necessário pensar estrategicamente ações concretas e formas de ensinar e aprender que minimizem as dificuldades que a distância e as limitações tecnológicas impõem”, continua. Nogueira aponta que a disponibilidade de material didático específico para algumas disciplinas é uma das dificuldades. “A solução que encontramos foi enviar aos alunos, pelo correio, um livro elaborado especificamente para uma das disciplinas, intitulado Guia de Aulas Práticas em Botânica Criptogâmica”.
O livro, de autoria de Nogueira e Rosemeri S. Moro, “é uma ferramenta fundamental no que diz respeito ao estudo dos organismos criptogâmicos e que foi muito útil no desenvolvimento das aulas remotas, já que as atividades práticas da disciplina também precisaram ser reconfiguradas”, explica Nogueira. “A cada desafio podemos encontrar a semente do êxito”. O envio dos livros foi realizado através da Diretoria de Ações Afirmativas e Diversidade, da Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (DAAD-Prae) e da Pró-reitoria de Administração (Proad). Um novo lote de livros está sendo enviado para os acadêmicos do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas (Curso Noturno e Vespertino).
“A ação foi realizada pensando no acolhimento dos acadêmicos e nas dificuldades que estão enfrentando para se adaptar às atividades remotas e a todas as fragilidades produzidas nesse período de afastamento social”, ressalta a professora Melissa. “Isso me deixa otimista e esperançosa que esse livro possa fazer diferença para alunos e alunas e contribuir para seu aprendizado na disciplina de Botânica Criptogâmica”, conclui.
Valor da presença
“Ensinar a distância tem mostrado como é importante valorizar os encontros e as trocas entre docente e discentes no ensino presencial”, aponta Alison Martins Meurer, professor do curso de Ciências Contábeis. “Ensinar a distância também se apresentou como uma grande oportunidade para buscar novas formas e ferramentas de ensino que pudessem suprir a falta do contato presencial diário e auxiliar a alcançar o principal objetivo da universidade, independentemente da situação vivida, objetivo este corporizado na construção de conhecimento”, conclui Meurer.
Para o professor de Educação Física, Leandro Martinez Vargas, a pandemia está sendo uma experiência desafiadora. “Sentimos muita falta das aulas e atividades de pesquisa e extensão presenciais. Para o ótimo desempenho das nossas atividades, é fundamental a aproximação física com os nossos acadêmicos e também com as comunidades interna e externa que participam dos nossos projetos”, destaca.
O professor Edmar Miyoshi, do curso de Farmácia, aponta que todos tiveram que sair do lugar de conforto e buscar novas estratégias, que podem ser incorporadas no período pós-pandemia, para auxiliar no processo ensino-aprendizagem. “Tudo isso trouxe para a sociedade a relevância do professor. A UEPG mostrou que é uma Instituição que tem um papel importante no município e na região através dos vários projetos que tem realizado neste período”, diz.
Criatividade
O professor Ricardo Almeida, da área de Biologia, reforça que o ano tem sido uma experiência e tanto. “Não tinha vivência em ensino remoto e precisei reaprender muita coisa”. Ele relata que percebeu que ensinar em tempos de pandemia é tarefa bastante difícil para um professor. “Criar aulas atrativas, atrair a atenção dos estudantes, motivá-los a não desistir. Tudo é bem trabalhoso”, afirma. “Sem dúvida se trabalha bem mais em tempos de pandemia. Porém nós, professores, temos a ‘fome’ de ensinar, sabemos nos reinventar quando preciso e temos amor pela profissão. Então com isso, consegue-se levar a aprendizagem dos alunos adiante, mesmo que não seja como no presencial. Um professor nunca desiste de seu aluno”.
Na área da medicina, os impactos também foram consideráveis. De acordo com o professor do curso, Ricardo Zanetti, foi necessário repensar as formas de interagir com a Universidade e prestar serviços à comunidade: “Nós desenvolvemos ações de extensão junto à UEPG, como também reunimos esforços junto à reitoria, para que os alunos rapidamente retornassem às suas atividades de internato e assim pudessem contribuir como força de trabalho”.
Outra questão que o docente analisa é o processo de ensino-aprendizagem. “A medicina é uma área da ciência que tem características tecnicistas em que precisam ser desenvolvidas habilidades práticas, o que se tornou extremamente complexo com a pandemia. Mas a criatividade nos ajudou a diminuir os danos. A tecnologia proporcionou para a escola de medicina novas oportunidades de aprendizado, com o desenvolvimento de novas habilidades. Os atendimentos a distância passaram a fazer parte do nosso currículo e os dispositivos remotos também foram incorporados ao dia a dia da medicina, o que exigiu uma rápida adaptação”, relata Zanetti.
“As atividades de orientação (iniciação científica, iniciação tecnológica, conclusão de curso de graduação, mestrado e doutorado) e supervisão de estagiários da graduação e de pós-doutorado estão ocorrendo muito próximo da normalidade”, destaca o professor Adriel Ferreira da Fonseca, do Departamento de Ciência do Solo e Engenharia Agrícola. Ele explica que o uso sistemático de ferramentas de videoconferência tornou essas atividades mais eficientes e favoreceu o aumento da produção científica. “O número de publicações e submissão de artigos visando publicação, no ano de 2020, é o mais elevado. Sem dúvida, ‘saldo positivo da quarentena’”, considera.
Atendimento e suporte técnico
“No primeiro dia de aulas remotas, resolvemos em média um chamado a cada 3 minutos”, conta o diretor do NTI, Luiz Gustavo Barros. Além do sistema de chamados do Núcleo de Tecnologia da Informação, outros problemas podem ser resolvidos através de um número de WhatsApp.
Quem responde a essas dúvidas é o servidor Marvyn Meyer Sant’Ana, supervisor do Ambiente Virtual de Aprendizado (AVA) na Prograd há 6 anos. Segundo ele, são no mínimo 20 dúvidas diferentes por dia. “Usamos o WhatsApp por ser um contato mais fácil e ágil que o e-mail. Entro no Meet ou no Classroom junto com o professor e testamos”, explica. Ele confessa que também teve de aprender a utilizar as novas plataformas. “Foi um desafio aprender tanta coisa num tempo tão curto e ajudar os alunos e professores também é bem desafiador”, continua. “Na informática podem acontecer inúmeros problemas e em alguns casos eu pesquiso como ajudar o professor para tentar descobrir o que acontece”.
Imagens/informações: UEPG.