Sábado, 14 de Dezembro de 2024

Psicanalista Eduardo Pereira explica como ressignificar o luto: “A única coisa que devemos guardar dos nossos falecidos são as boas lembranças”

2023-04-03 às 14:56

Em entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), nesta segunda-feira (3), o psicanalista e hipnoterapeuta, Eduardo Pereira, explicou como ressignificar o luto.

Pereira destaca que a esperança de que exista algo após a morte e a esperança de que o afastamento seja temporário ajudam no processo de passar pelo luto, ainda que normalmente não se misture religião nos assuntos tratados no consultório. “Uma das formas da pessoa se consolar seria exatamente isso: acreditar que nós não somos só a matéria, porque só esta matéria não explica necessariamente a consciência. Existe uma energia vibrando aqui dentro desta matéria e quando ela se desfaz, para onde vai essa energia? Ela não deixa de existir, ela só se transfere de um lugar para outro”, diz.

Para quem é cético, ou seja, que não possui crenças religiosas, este processo pode ser mais difícil, segundo o psicanalista. “É um pouco mais difícil de vivenciar este luto, sem a esperança de um reencontro? Sim. Mas existe uma série de fatores que influenciam  na vivência do luto, por exemplo aquela pessoa que morreu de uma doença como o câncer, foi uma morte em que a pessoa sofreu durante muito tempo, é mais fácil ressignificar esse luto porque se tem aquela sensação de que a pessoa deixou de sofrer. Uma morte repentina, um acidente de trânsito onde uma pessoa morre repentinamente, o luto é mais difícil. O luto mais difícil é de uma mãe por um filho jovem, porque vai contra a ordem natural das coisas, que diz que os mais velhos morrem antes dos mais jovens”, explica.

Até a forma do sepultamento influencia na ressignificação do luto. “Quando nós sepultamos a pessoa embaixo da terra, isso tem uma influência sobre o inconsciente humano, é a forma mais antiga de sepultamento que existe. A cremação é interessante, principalmente dependendo do destino que se dá às cinzas, hoje em dia acontece muito de manifestarem sua vontade, por exemplo, eu quero ser cremado e gostaria que minhas cinzas fossem jogadas no Tibagi, porque é um rio da nossa região, que me acolheu tão bem”, afirma.

O psicanalista ainda orienta. “Quanto menos objetos e coisas materiais se guardar da pessoa que faleceu, melhor e mais fácil será a superação do luto, porque muitas vezes você se apega àquilo como referencial daquela pessoa, como se fosse um pedaço psicológico daquela pessoa. A única coisa que devemos guardar dos nossos falecidos são as boas lembranças”, destaca.

“Quando a gente fala dos nossos entes queridos, devemos dar tempo de qualidade para as pessoas enquanto elas estão vivas, se não de repente um ente querido morre e a pessoa fica com aquela sensação que poderia ter abraçado mais, beijado mais, dito mais vezes ‘eu te amo’. Quando falta este tempo de qualidade, temos uma tendência de ter uma dificuldade maior de ressignificar o luto e até uma sensação de culpabilidade por não ter aproveitado todo o tempo que poderia”, conclui.

Confira a entrevista completa: