Terça-feira, 20 de Maio de 2025

Psicanalista explica como as crenças limitantes impactam rotina e desenvolvimento pessoal

2022-11-11 às 15:47

Duvidar da própria capacidade; achar que a idade é um impeditivo; ter medo de falhar; acreditar que sucesso é resultado de sorte e não de persistência são algumas das opiniões ou pensamentos que mais atrapalham o crescimento pessoal e profissional e são crenças limitantes relacionadas ao que se convencionou chamar de “síndrome do impostor”. Porém, o conceito de crença limitante não se restringe a esses pensamentos.

Em entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero e Jonathan Jaworski, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), nesta sexta (11), o psicanalista Eduardo Pereira explicando o que são, afinal, as crenças limitantes.

“São aquelas coisas que as pessoas dizem, muitas vezes, sem pensar e, principalmente, na figura da criança, muitas dessas coisas que são faladas são assimiladas como verdade, mas não são verdade”, define o psicanalista.

Um exemplo ilustrativo de Pereira diz respeito a erros na condução de um veículo – as “barbeiragens”, no jargão popular – que costumam ser atribuídos às mulheres, mesmo que homens também os cometam, tanto quanto ou até mais do que elas. Essa crença que virou ditado – “mulher no volante, perigo constante” – ficou enraizada na nossa cultura patriarcal e machista e acaba sendo, inconscientemente, reproduzida, geração após geração, sem que se questione se a afirmação é válida ou um mero preconceito.

“Se pegarmos as seguradoras, uma mulher com o mesmo tempo de habilitação e a mesma idade de um homem vai ter o seguro do veículo dela mais barato; porque, estatisticamente, as mulheres dirigem melhor que os homens. Os homens são mais arrojados, mas as mulheres batem menos, por isso, as seguradoras dão desconto”, afirma.

O maior impacto da crença limitante, segundo Pereira, é quando ela não é típica – física ou neurologicamente. “A pessoa tem uma limitação física. Mas até que ponto? Porque tem pessoas, por exemplo, que não se movem, da cintura para baixo, são paraplégicas, mas fazem triatlo, decatlo. Cadê a limitação?”, ilustra.

“Tanto a limitação física quanto a neurológica vão ter sobre a vida da pessoa apenas o impacto que ela deixar ter. Se a pessoa acreditar que ela consegue, que ela pode, a parte psicológica dela pode superar dificuldades extremas”, diz. Entre os exemplos, o psicanalista menciona o físico Stephen Hawking, que era portador de esclerose lateral amiotrófica (ELA) e é reconhecimento como um dos mais renomados cientistas do século. “Deram uma perspectiva de vida para ele de que não chegaria aos 30 anos”, comenta. Hawking faleceu em 2018, aos 76 anos.

Nos hospitais, já se observou uma tendência de que um convalescente que desiste de lutar pela sobrevida, que “se entrega”, pode vir a, de fato, morrer. “O fator psicológico, nossa mente, principalmente, o subconsciente, é extremamente poderoso. Já ouvimos falar – e não existe essa estatística, mas algumas pessoas cogitam – que usamos 7% da nossa capacidade mental. Apesar o percentual não ser exato, ele ilustra muito bem, porque esses 7% são a mente consciente, o restante é o subconsciente. E ainda temos a mente inconsciente”, afirma.

Segundo Pereira, a maior parte do que somos, do que nos move vem da mente subconsciente. “Se temos uma atitude mental positiva, com relação a determinado assunto, a possibilidade de aquilo dar certo é muito maior do que uma pessoa com atitude mental negativa. Por exemplo, o caso dos paratletas. Qual a limitação do ser humano? Tínhamos uma ideia de limitação, em seres humanos típicos, por exemplo, acerca dos 100 metros rasos, daí chega Usain Bolt e rompe todas as previsões e tudo o que se imaginava a respeito daquilo. A mesma coisa serve para os paratletas e pessoas que não são neurotípicas, por exemplo”, analisa.

Placebo e nocebo

O efeito Nocebo – do latim “fazer mal” ou “Nocivo” – é o nome que se dá à variante negativa do efeito placebo, ou seja, enquanto o efeito placebo induz a resposta desejada à medicação ou outros fenômenos, o efeito nocebo provoca um efeito negativo. “Isso é tão claro e evidente que alguns laboratórios, quando se faz a testagem de medicamentos, antigamente, se pegava um grupo de pessoas e, para uma parte delas, se aplicava o placebo e, para outra parte, se aplicava o medicamento e media o percentual de eficiência. Alguns cientistas americanos conseguiram provar que, dessa forma, não é a melhor. Porque, separando dois grupo de pessoas – psicologicamente positivas e psicologicamente negativas – aplicaram o medicamento para as negativas e o placebo para as positivas e o resultado foi muito próximo, tanto que não se conseguiu comprovar a eficiência do medicamento”, afirma o psicanalista.

Desde então, os laboratórios passaram a fazer testagens para que os grupos sejam homogêneos com relação à positividade e negatividade, para que o resultado seja mais claro possível. “Aí vemos o placebo acontecendo. E existem inúmeras outras experiências onde se conseguiu provar que a mente humana realmente age sobre o corpo.

Força da mente

“Acompanhei o caso de uma pessoa que sofreu um acidente de carro  e perdeu o hemisfério direito do cérebro quase inteiro. Esse hemisfério é responsável pela criatividade e pelas emoções. Essa pessoa foi fazendo fisioterapia, tratamento, fonoaudiologia e hoje tem uma vida normal. Não usa nem bengala, para você ter uma ideia e fala, conversa, tem uma vida normal”, comenta o psicanalista.

Confira o bate-papo com o psicanalista na íntegra: