Reportagem assinada pelo jornalista Felipe Castanheira, publicada na Carta Capital desta semana, critica condições de trabalho na rede de restaurantes Madero, do “entusiasmado bolsonarista Júnior Durski”, que possui 275 unidades espalhadas pelo Brasil e que, na contramão do mercado, abdicou do modelo de expansão em franquias em 2009. A empresa evita terceirizar funcionários e contratar sem vínculos trabalhistas. Porém, a reportagem relata jornadas excessivas, assédio e condições precárias.
Em 2017, a companhia decidiu lustrar a imagem. A mudança de slogan marcou a transição. Saiu “O Madero faz o melhor hambúrguer do mundo”, entrou o inverossímil “O hambúrguer do Madero faz o mundo melhor”.
A promessa de ser uma empresa de valores sólidos estende-se ao relacionamento com os funcionários. No site da rede, a aba do “trabalhe conosco” descreve “colaboradores felizes” empenhados em “entregar comida da melhor qualidade”.
Quando se analisa a quantidade de processos trabalhistas contra a rede, percebe-se que o Madero não tem sido capaz de oferecer “um mundo melhor” nem mesmo para os empregados. O sistema de contratação estimula a exploração da mão de obra por meio de recursos que por vezes extrapolam a legalidade. A pedra angular é a arregimentação de jovens em pequenas cidades de diferentes estados e levados a alojamentos mantidos pelo conglomerado.
Professora e pesquisadora do Instituto Federal do Paraná, Kelem Ghellere Rosso escolheu o Madero como tema de sua tese de doutorado. Segundo ela, a opção de oferecer moradia aos trabalhadores cumpre uma dupla função de redução de custos e controle sobre os empregados.
“A estratégia consiste em recrutar jovens com pré-requisitos abaixo do que o mercado solicita para um emprego formal. Em alguns casos precisa ter apenas o ensino básico e não ter experiência. Podemos imaginar que o custo de oferecer uma moradia para os trabalhadores seja alto, mas o próprio Júnior Durski disse que dessa forma economiza com vale-transporte, uma vez que cada um desses alojamentos pode abrigar até 15 trabalhadores”, destaca.
Confira os relatos de funcionários no site da Carta Capital.