Em entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero e Eduardo Vaz, na Rádio Lagoa Dourada FM (105.9 para Ponta Grossa e Campos Gerais e 90.9 em Telêmaco Borba), nesta quinta-feira (23), Dr. Miguel Moraes Martins, diretor técnico do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), revelou detalhes sobre o cotidiano da profissão.
O médico explica que hoje, o SAMU realiza, em média, 220 atendimentos por dia. Porém, a diferenciação entre o SAMU e o Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em Emergência (SIATE), coordenado pelo Corpo de Bombeiros, ainda gera muitas dúvidas à população. “O SIATE foi feito para atender trauma. SAMU seria para atender clínico e trauma. Mas o SIATE Ponta Grossa não tem medico, então os médicos do SAMU cobrem os dois. Nós éramos médicos do SIATE, mas quando criaram o SAMU, transferiram todos os médicos para lá”, afirma.
Em casos de emergência clínica é necessário acionar o SAMU via telefone 192. Já em casos de traumas, como quedas e acidentes, deve-se acionar o SIATE, via telefone 193.
Casos mais comuns em PG
O diretor técnico do SAMU afirma que os casos mais comuns em Ponta Grossa ainda são relacionados à Covid-19. “Tem muita suspeita de Covid, pessoas com falta de ar, tontura, acabam chamando o SAMU”, diz. Porém, segundo ele, também é comum que pessoas que não têm condição de levar os pacientes até as unidades de saúde, acionem o serviço. “Às vezes a pessoa não tem como ir, liga para o SAMU. A criança com febre às 3h da madrugada, não tem dinheiro para pagar o Uber, eles pedem apoio e a gente tem que mandar, porque essa criança pode convulsionar”, pontua.
Ele acrescenta que, quando as famílias possuem condições de encaminhar os pacientes por meios próprios e mesmo assim acionam o SAMU, acabam prejudicando o atendimento ao restante da população. “Isso prejudica, tem horários de pico, das 15h às 19h, que às vezes não tenho ambulância para mandar e eu não posso ficar com ambulância reservada para caso tenha uma emergência”, completa.
Fechamento do Pronto Socorro
Com o fechamento do Hospital Municipal, conhecido como Pronto Socorro, Dr. Miguel destaca que as unidades de saúde ficaram ainda mais sobrecarregadas. “O Hospital Pronto Socorro era nossa porta aberta. Além das UPAS, atendia a parte da ortopedia e agora acumulou bastante, ficou tudo só no Hospital Regional, mas você não consegue mandar todos os pacientes para lá, às vezes tem que mandar para Campo Largo”, enfatiza.
Para ele, a lotação se deve ao fato de que o serviço médico foi projetado para atender 350 mil pessoas e agora atende cerca de 1 milhão de pessoas, já que Ponta Grossa se tornou polo de 28 municípios. “Recebemos paciente de Ortigueira, Arapoti, Jaguariaíva, porque o Hospital Regional virou a referência da região. Aí abrem mais 10 leitos de UTI no Regional, mas em 2 horas está cheio e aí não tem onde colocar, e vem pacientes de outros municípios. Eu faço plantão no helicóptero e passo o plantão inteiro levando paciente para outros municípios, porque não cabe mais aqui”, conclui.
Profissionalismo
Dr. Miguel Moraes Martins é do Rio de Janeiro e está há 22 anos em Ponta Grossa. Com 17 anos de dedicação ao serviço de urgência, ele destaca que a profissão exige vocação. “A pessoa que vai pelo ‘poder’ da farda azul, às vezes não se encaixa. Tem que nascer para isso mesmo”, opina.
Para ele, é preciso manter o profissionalismo para exercer o atendimento de forma eficaz e rápida. “Alguém tem que pensar. Você chega em um acidente com ônibus, 40 vítimas, 10 mortos, muita gente machucada, tem que pensar. Se ficar muito sensível acaba não fazendo nada e a ocorrência vira um caos. Você acaba ficando ‘cascudo’ para resolver o problema, tem que parar de correlacionar as coisas, se não, não dá certo”, conclui.
Confira a entrevista completa: