Com mais uma onda de frio, desta vez já em plena primavera, o vinho acaba sendo uma boa pedida. A sommelière Soraya de Luca, da Escola Chef Gourmet, ofereceu dicas dos melhores tipos e rótulos, em participação no programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), desta sexta (23).
O sommelier – ou a sommelière, que é o feminino, em francês, dessa designação – é o profissional encarregado pela indicação dos vinhos, em um cardápio, que mais harmonizam com determinado prato. Fora dos restaurantes, o sommelier pode dar palestras sobre a harmonização. Portanto, é o especialista no serviço do vinho.
Segundo a Associação Brasileira de Enologia (ABE), aquele que estuda vinhos por fruição – ou hobby – é o enófilo. Já o enólogo é um profissional, formado em faculdade, que se ocupa, na indústria, de tarefas de coordenação, supervisão e execução. Na produção, é o responsável pelos aspectos relacionados ao produto final – vinificação, estabilização, envelhecimento, engarrafamento, controle de qualidade, análise química, análise sensorial dos vinhos, conhecimentos sobre viticultura, marketing do vinho, vendas, entre outros.
Soraya indica que o consumo de um cálice de vinho tinto por dia faz bem para a saúde, mas uma dose pequena, reforça. “Vinho é saúde”, frisa. O professor da UEPG, Everson Krum, emenda que o vinho é aplicado na dieta mediterrânea, associado a frutos do mar.
“Além do prazer de tomar o vinho, ele contém o resveratrol, que é um polifenol presente nas uvas e faz bem para o coração, para o sangue, ajuda com algumas células cancerígenas. Tem várias propriedades, tanto que existem cápsulas de resveratrol para vender”, comenta. O resveratrol está presente nas sementes e película das uvas roxas e no vinho tinto e possui propriedades antioxidantes.
A sommelière afirma que não há pecado algum em tomar vinho doce. “Cada um toma o que gosta. Se você gosta do vinho doce, do vinho suave, que é o vinho adoçado, não tem problema. Não é um pecado beber a bebida que você gosta”, afirma. O vinho suave é adoçado com sacarose, por isso, há enófilos que torcem o nariz para quem ainda não “educou o paladar” para apreciar o vinho seco.
“O frisante já é naturalmente doce, porque é de uvas mais doces. Tem um teor alcoólico mais baixo porque não teve toda essa conversão de açúcar em álcool”, explica.
Soraya indica, para quem quer fazer a transição entre o consumo de vinhos suaves e vinhos secos alguns vinhos portugueses, que são naturalmente suaves. “Existem vinhos naturalmente suaves. Portugal tem vinhos suaves que são de teor alcoólico mais baixo, porém, o teor de açúcar residual é mais alto, então ele fica mais adocicado. Não quer dizer que seja suave de doce, mas adocicado, mais fácil ao paladar de quem está fazendo essa transição”, orienta. Quanto aos meio-secos (demi-sec), o que os define é a concentração de açúcar residual, que pode variar de quatro a 25 gramas por litro.
Os vinhos coloniais, por sua vez, são mais indicados para quem aprecia o vinho mais doce, mais rústico. “O tipo de uva que é feito o vinho colonial é outro, são as uvas de mesa: niágara, bordeaux, Isabel, que encontramos no supermercado. O vinho fino é feito da variedade Vitis vinifera“, comenta. A Vitis vinifera é conhecida popularmente como parreira, é a videira mais cultivada para a produção de vinhos na Europa. “São as uvas que não têm o cheiro de uva, vamos dizer assim”, exemplifica.
O material da taça pode interferir no sabor do vinho. Soraya recomenda o uso de taças de cristal ou de vidro mais fino. Ela também sugere que as pessoas façam o teste em casa e coloquem o mesmo tipo de vinho em recipientes diferentes: um taça, um copo de vidro – daqueles de molho de tomate, e um copo de plástico, para notar a diferença.
Tinto ou branco?
Quem pretende oferecer uma variação sofisticada à cerveja ao servir um churrasco, pode optar pelo malbec. “A Argentina faz muito churrasco. Os argentinos combinam bastante com isso”, sugere. Outra opção seria o tannat uruguaio.
“São vinhos que têm uma acidez maior, por causa da gordura do churrasco, vai ajudar a limpar seu paladar”, esclarece.
Já os vinhos brancos acompanham bem as carnes brancas – frango e peixe – e frutos do mar. Vai bem, ainda, com receitas que levem molho branco. “Tudo que remete ao branco vai com vinho branco. O vinho branco tem uma acidez maior também”, diz. Se você for servir carne suína, o vinho rosé seria o mais apropriado. Um espumante ou um tinto leve também são opções, porque a carne de porco é mais suave, ainda que gordurosa.
No caso de o cardápio incluir uma moqueca, o syrah seria o mais indicado. “A moqueca tem o molho de tomate, que é mais encorpado. Então vai um branco mais encorpado, com um pouco mais de teor alcoólico”, orienta.
Para as pizzas, a sommelière instrui que o vinho branco harmoniza bem com a de quatro queijos. Ela ressalta que há recheios de pizza que podem harmonizar com tinto e, outros, com branco.
Para um prato mais do dia a dia, como um arroz, feijão branco e panqueca com carne desfiada, como o cardápio enviado por um dos ouvintes do Manhã Total, a sommelière sugere um vinho mais leve, como um vinho rosé mais geladinho, um pinot noir ou um gamay.
Para identificar se um vinho é mais leve ou mais encorpado, é preciso saber a partir de quais uvas ele é produzido. O cabernet suavignon, por exemplo, é mais “pesado” ou mais tânico, como seria mais apropriado dizer. O pinot noir é menos tânico, feito a partir da uva utilizada para produzir espumantes e alguns vinhos branco. Essa variação também pode ser medida pelo teor alcoólico.
Outra recomendação de Soraya é o vinho Go Up, um cabernet suavignon, que é uma proposta de enólogos brasileiros que o produzem no Chile. Da safra 2020, é um “vinho jovem” e custa cerca de R$ 65. Em Ponta Grossa, está disponível na Adega Le Vin, coordenada pela sommelière. “Eles têm uma proposta bem legal, que os rótulos remetem às mulheres”, comenta.
Não é necessário consumir todo o conteúdo de uma garrafa de vinho uma vez que ela é aberta, é possível guardá-la por algum tempo, explica Soraya. Depois de retirada a rolha, o vinho deve ser consumido em até cinco dias, dependendo da variedade.
O vinho é uma bebida de apreciação lenta, deve ser degustado aos poucos. A sommelière recomenda duas taças de água para cada taça de vinho, alternando entre elas, para evitar a desidratação causada pelo álcool. É indiferente se a água é com gás ou não, pode ser conforme o gosto de quem consome. “Isso para qualquer bebida, principalmente a cerveja, que nos faz ir ao banheiro muitas vezes e acabamos eliminando a água do organismo”, observa.
Qualidade e preço
Soraya confirma que há, sim, uma relação entre o preço e a qualidade do vinho. Porém, o preço alto não garante que ele vai ser apreciado pelo seu paladar. “Cada pessoa tem seu paladar. O mais caro quer dizer que teve uma elaboração mais delicada. Muitas vezes, foi feito em poucas garrafas, em pouca escala. Tudo depende do método de fabricação”, diz.
Outro fator que interfere no cálculo do preço do vinho é o cultivo da uva, se é para larga escala ou não. Existem as linhas de entrada, que são de larga escala, que são os vinhos mais baratos, que custam até R$ 30.
“Não precisa gastar R$ 100, R$ 120 num vinho, sendo que você pode gastar R$ 30, R$ 40 num vinho que você vai gostar mais”, comenta.
Encontre mais dicas de harmonização de vinhos nas redes sociais da sommelière: @adega_le_vin, no site da Adega Le Vin ou, ainda, pelo telefone (42) 99937-5892.
Confira a entrevista de Soraya de Luca na íntegra: