Em entrevista ao programa Manhã Total, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), nesta segunda-feira (18), o médico pneumologista Dr. Magno Zanellato contou a experiência de como foi trabalhar diretamente com pacientes da Covid-19 desde o início da pandemia.
O médico relembra que foi ‘pego de surpresa’ no início, pois ninguém sabia ao certo como tratar a doença. “Tenho 27 anos de formado e nunca vi uma doença nessas proporções. Foi uma série de dificuldades tratar algo desconhecido que veio com esta proporção tão grande”, declara. Ele atendia cerca de 12 pacientes por dia e com a pandemia passou a atender de 50 a 60 pessoas todos os dias no consultório. “Foi extenuante. Tinha que levantar extremamente cedo, chegava em casa quase de madrugada. Quando pensava que ia acabar, não acabava. Quando acabou a primeira onda, passou um período de 2 ou 3 meses, veio uma mutação viral e mais uma avalanche de novo”, relembra.
Como todos os dias os médicos recebiam novas orientações com relação à Covid-19, Dr. Magno revela que “perdeu a autonomia” para prescrever o tratamento que acreditava ser eficaz, já que cada paciente tem as suas peculiaridades e nem sempre um método funciona para todos. “Covid é uma doença difícil, é muito melhor você tratar algo que você conhece, que já tem diretrizes estabelecidas, tratamentos bem definidos, do que pegar uma doença que está tudo em estudo, coisas que hoje é uma verdade e talvez daqui dois anos não seja. Acho que agindo sempre da melhor maneira, querendo ajudar o paciente, você consegue gerar frutos melhores do que todo mundo querendo te dar uma direção”, pontua.
Experiências
Ao longo de todo o período da pandemia, Dr. Magno relembra que viveu muitos momentos marcantes com os pacientes. “Convivemos com pessoas com histórias muito tristes, de adolescentes que perderam o pai e a mãe de uma vez só. Antes do paciente ser entubado, ele pegou na minha mão e falou: ‘não me deixe morrer’. E quando eu cheguei no outro dia, o paciente não estava mais lá. É muito triste. São histórias muito tristes de perdas de estruturas familiares que às vezes não precisa ser ligado diretamente a você, mas convivendo com o paciente, você vive aquela angústia junto”, conta.
De médico a paciente
Em meio a uma forte onda da Covid-19, em março de 2021 Dr. Magno testou positivo para a doença e passou de médico a paciente. “Você vê todo dia paciente morrendo, esse vírus tinha uma característica de pegar gente mais jovem, muitas vezes sem comorbidade. Foi uma fase difícil. Quando eu vi o resultado do teste, o emocional ficou muito abalado”, afirma.
Apesar do ‘susto’ com o resultado positivo, Dr. Magno recebeu duas bolsas de plasma convalescente, tomou a medicação e evoluiu bem em dois ou três dias. “Não sei se o plasma teve efeito, não sei se foi os medicamentos que eu tomei, tomei porque a questão emocional é grande, ficar sem fazer nada é complicado. Se a gente pode fazer alguma coisa, se você tem um risco eminente de evoluir para morte, por que não fazer uma coisa que possa eventualmente barrar isso? Evoluí bem, mas a sensação é muito ruim”, relata.
Futuro
Com o avanço dos estudos a cerca da Covid-19, Dr. Magno acredita que podem haver ações diferentes se caso ocorra uma situação semelhante à pandemia no futuro. “Virão muitas respostas ainda para sabermos em definição o que poderia ter sido feito. […] Mas hoje a gente tem um horizonte de algumas coisas que foram boas, outras nem tanto, outras que não precisam ser mais feitas. É assim que a gente cresce, com erros e consolidando os acertos”, conclui.
Confira a entrevista completa: