Em entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), nesta sexta-feira (24), o psicanalista Eduardo Pereira debateu sobre a bipolaridade, transtorno que atinge cerca de 140 milhões de pessoas em todo o mundo.
O psicanalista destaca que, nem sempre, a irritação ou o ‘mal humor’ são normais na vida de uma pessoa. “A gente tem que refletir se aquilo que as pessoas a nossa volta estão enfrentando são características das pessoas ou sintomas de eventuais transtornos que essas pessoas têm”, observa. “Então pode ser que a irritação constante do seu marido ou esposa pode não ser simplesmente uma condição de humor, pode ser um transtorno, uma bipolaridade, borderline, transtorno de ansiedade, precisamos ter essa consciência, se esse tipo de comportamento é ressaltado, precisa ser investigado”, explica.
O primeiro referencial da bipolaridade é a intensidade e frequência. Qual é a intensidade desse mal humor e qual é a frequência com que ele acontece? “O mal humor, quando a pessoa fica ‘beiçuda’ e depois melhora é normal, mas quando isso acontece várias vezes durante o dia, essa pessoa não tem um minuto de paz, passa o dia todo irritada, ou quatro ou cinco vezes na semana, aí vale a pena investigar”, completa.
O mesmo vale para a tristeza. Segundo Eduardo Pereira, a tristeza e a depressão são duas coisas distintas e precisam de atenção. “A tristeza é um momento da sua vida que você vive perante determinados acontecimentos, ou seja, a tristeza tem motivo para existir, é uma crise existencial, um acontecimento triste na sua vida. A depressão, não. Ela acontece do nada e não é simplesmente uma tristeza, é um distúrbio químico no cérebro que se mantém e se prolonga por dias, semanas, meses”, pontua.
Existem três tipos de bipolaridade: o transtorno de bipolaridade tipo 1, transtorno ciclotímico e transtorno bipolar não especificado. “Na bipolaridade tipo 1 a pessoa alterna momentos depressivos e momentos de mania com muita clareza. A pessoa passa três, quatro meses depressiva, não tem ânimo para sair do quarto, fica debaixo das cobertas, para limpar a casa não tem ânimo. Mas de repente acontece o episódio de mania, essa pessoa se anima, tira tudo de dentro do guarda roupa, limpa os armários. Fica uma, duas, três semanas de momento de mania, dá uma injeção de ânimo nessa pessoa”, diz.
A orientação para a família das pessoas diagnosticadas com bipolaridade é entender que as crises são sintomas deste transtorno. “É importante que a família encare aqueles rompantes de explosão, irritação, como sintoma, essa pessoa não está te atacando, precisa ter mais tolerância com o sintoma e saber o que fazer no momento: não adianta tentar argumentar com ela, não vai te ouvir, espera a hora que a adrenalina dela baixar”, orienta.
É importante ressaltar que a bipolaridade não tem cura, mas pode ser tratado por meio de medicação e terapia. “A principal terapêutica é o medicamento, mas isso não dispensa a terapia, justamente porque a terapia vai conscientizar o bipolar que ele está bem porque está sob efeito do medicamento”, considera. Exercício físico também auxilia neste e em qualquer transtorno psiquiátrico, segundo Eduardo Pereira. “Temos em Ponta Grossa, o psiquiatra Brunno Partica da Silva, que tem um trabalho acadêmico que conseguiu provar, com dados científicos, que um exercício físico de alta intensidade, feito todos os dias de 40 a 45 minutos por dia, no combate à ansiedade, equivale ao Escitalopram, que é um dos melhores ansiolíticos que temos no mercado hoje”, completa.
Confira a entrevista completa: