Sábado, 14 de Dezembro de 2024

Veterinária desvenda mitos e verdades sobre doenças respiratórias e articulares em pets

2022-09-12 às 14:56

Em entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), nesta segunda (12), a médica veterinária Kessie Menon, da DrogaVET, desvendou alguns mitos e verdades a respeito de doenças respiratórias e articulares em pets.

“Quando falamos em gripe canina ou gripe felina, o pessoal não conhece. É uma gripe parecida com a nossa, mas são vírus diferentes, então não passa para a gente”, explica Kessie. Alguns vírus humanos passam para o animal de estimação, mas ele se torna mero hospedeiro e a infecção não se manifesta.

A melhor prevenção para a gripe, tanto em cães quanto em gatos, é a vacina. São vacinas diferentes para cada um deles, enfatiza a veterinária.

A oscilação térmica que temos observado nas últimas semanas não afeta apenas a imunidade dos humanos: os pets também sentem a diferença e sofrem o impacto da mudança brusca de temperatura. Vale redobrar a atenção ao uso de roupinhas e à tosa dos animais.

“Animais de pelo curto, no frio, acabam sofrendo mais que animais de pelo longo. Por isso que recomendamos, aqui no Sul, a uma temperatura de 15°C [para baixo] colocar uma roupinha para aquecer o pet”, instrui a veterinária. Em temperaturas a partir de 20° C, Kessie considera desnecessário o uso de roupinhas, porque o pelo já cumpre a função de manter o equilíbrio de temperatura, na troca de calor do animal com o ambiente.

Os gatos, segundo a veterinária, sofrem bastante com a queda de temperatura, tanto que eles sempre procuram um local aquecido para permanecer e fica até mais retraído nessa época do ano.

Animais de porte grande ou obesos costumam ter mais problemas articulares, porque a obesidade sobrecarrega as articulações. Por isso, além da vacinação, um dos principais cuidados é a alimentação, fornecendo uma ração de boa qualidade, na quantidade ideal. Outros fatores podem acarretar problemas nas articulações, como a idade. “Cão idoso também têm problemas de artrite e de artrose. Tudo vai depender se o cão é obeso ou não, da idade do cão, do porte”, complementa.

Kessie explica que os cães não suam e que a própria respiração cumpre a função de resfriar sua temperatura interna quando ele se aquece, ao praticar uma corrida, por exemplo. Algumas raças, porém, possuem uma limitação quanto à respiração, que são os “braquicefálicos” – cães de crânio achatado e focinho de tamanho encurtado, como o pug, o shih-tzu e o bulldog francês. “Eles aquecem muito mais rápido”, complementa.

“Cada raça tem uma predisposição a uma doença. O pug, por ter esse focinho achatado, [tem predisposição a] doenças respiratórias, e pelas dobras da pele, a doenças de pele, além de tendência à obesidade”, diz.

Cães com muitas “dobrinhas”, como o pug e o bulldog francês, demandam atenção extra na secagem pós-banho. Por serem zonas úmidas e quentes, as dobras favorecem a proliferação de fungos e podem levar o pet a desenvolver dermatites e perda de pelo. Esses cães, segundo ela, pela predisposição à obesidade, acabam tendo maior risco de problemas vasculares e cardíacos.

Aliás, a quantidade de cruzamentos genéticos que foram necessários para que tais raças atingissem o “formato” atual, ou o tipo de pelagem que apresentam, enfim, quaisquer características daquele pedigree, podem influenciar se o animal pode vir a desenvolver determinadas doenças, segundo Kessie.

Alimentação

Os animais de estimação dependem de uma alimentação equilibrada e, por isso, se utiliza a ração para os pets. Alguns veterinários, no entanto, trabalham com alimentação natural – ou seja, sem rações industrialmente processadas. Nesse caso, eles adotam os mesmos ingredientes da alimentação dos humanos, bastante diversificada, mas na quantidade ideal para o cão e sem o uso de temperos que possam fazer mal.

O uso da ração, desde que de boa qualidade, simplifica esse processo de alimentação. “A ração de qualidade tem que ser sem corante, que tenha o nível de proteína ideal de acordo com o porte do seu pet”, diz.

A prescrição da ração ideal para cada raça e porte de cão deve ser feita por um veterinário. Kessie orienta que, para o animal não ficar tão sensível, o tutor pode fazer, gradativamente, a inserção de alimentos na dieta, ao oferecer um pedacinho de carne, ou verduras  e legumes. “Na fase de filhote, quanto mais ele experimentar sabores diferentes, mais ele vai ficar resistente a problemas intestinais”, observa.

Alguns alimentos, no entanto, não podem ser oferecidos aos animais de estimação, por ocasionarem problemas no fígado, como, por exemplo, a uva. Muitas frutas podem intoxicar os cães. Mesmo assim, não são todas as frutas vermelhas que são “proibidas” na dieta canina. Kessie recomenda que a quantidade dessas frutas seja balanceada com a ração, assim como os petiscos e sachês.

Quanto aos gatos, a veterinária orienta a ter muito cuidado na hora de trocar de tipo ou marca de ração. “O gato é muito seletivo, muito mais que o cachorro”, afirma.

Recentemente, 48 cães morreram, em diversos estados brasileiros, por envenenamento depois de consumir um petisco, contaminado por monoetilenoglicol. A substância, tóxica para humanos e animais, foi encontrada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em lotes de propilenoglicol, usado pela indústria como umectante. “Existem muitas marcas de petiscos e, antes de comprar, precisa ler os rótulos e ver a composição”, destaca.

Hipervínculo

Kessie acredita que, durante a pandemia, com a intensificação da vivência doméstica, reflexo do lockdown, algumas pessoas criaram um excesso de afetividade pelos animais, que ela chama de “hipervínculo”, que podem afetar o animal nessa retomada da rotina, uma vez que os tutores voltaram a sair de casa e passar longos períodos fora dela. Além disso, ela tem uma visão crítica a respeito de quem trata o pet como uma criança.

“Tem muitos animais que nem sabem que são animais e acabam tendo problemas comportamentais e psiquiátricos, que reflete em problemas físicos”, diz.

Kessie defende que o tutor deve respeitar o comportamento instintivo do animal: o gato, por exemplo, não precisa ser levado a uma petshop para receber banho e tosa, porque ele é “autolimpante”. “Alguns animais têm desenvolvido quadros de gastrite e de diarreia, por problemas ligados ao estresse, porque muitas vezes estamos privando o bichinho do comportamento natural dele, do cachorro ser cachorro e do gato ser gato”, argumenta.

Confira o bate-papo com a veterinária na íntegra: