O caso de Anthony Thomas “TJ” Hoover II, então com 33 anos, voltou a ganhar destaque nos Estados Unidos após o governo federal determinar que houve má conduta dos médicos envolvidos em sua preparação para doação de órgãos. Em outubro de 2021, Hoover foi internado após uma overdose em Richmond, Kentucky, e declarado morto por morte cerebral. No entanto, ele acordou enquanto era preparado para a cirurgia de retirada de órgãos, surpreendendo familiares e equipe médica.
Após a declaração de morte cerebral, Hoover foi encaminhado para a sala de cirurgia, onde seria realizada a retirada de seus órgãos para doação. Durante o chamado “honor walk” — cerimônia em que o doador é levado ao centro cirúrgico, acompanhado por familiares e equipe —, sua irmã, Donna Rhorer, notou que ele abriu os olhos e acompanhava os movimentos das pessoas ao redor. A equipe médica, inicialmente, afirmou que se tratava de reflexos comuns em pacientes em coma.
No entanto, durante o procedimento de preparação, Hoover começou a apresentar movimentos, “se debatendo” e até chorando visivelmente, segundo relatos de funcionários presentes. Uma preservacionista de órgãos relatou que ele chegou a tentar “murmurar por ajuda” antes que o procedimento fosse interrompido. Dois médicos se recusaram a continuar com a cirurgia ao perceberem sinais de vida, e a extração dos órgãos foi cancelada.
O caso motivou investigações da Health Resources and Services Administration (HRSA) e do procurador-geral do Kentucky. A HRSA apontou falhas graves nos protocolos e revelou que, nos últimos quatro anos, 73 pessoas declaradas em morte cerebral apresentaram melhoras neurológicas, mas, diferentemente de Hoover, tiveram seus órgãos retirados sem interrupção do procedimento.
A investigação também destacou que os efeitos de sedativos podem mascarar o verdadeiro estado neurológico do paciente, levando a diagnósticos equivocados. Profissionais envolvidos denunciaram pressão para que a cirurgia continuasse mesmo diante de sinais de consciência, e alguns, inclusive, pediram demissão após o ocorrido.
Hoje, aos 36 anos, Hoover vive sob os cuidados da irmã e enfrenta sequelas neurológicas graves: dificuldades para falar, andar e problemas de memória. Apesar das limitações, Hoover sobreviveu ao que muitos consideram uma “tragédia evitada”. O caso gerou comoção nacional e reacendeu debates sobre os critérios de morte cerebral e a transparência no sistema de doação de órgãos nos EUA. O governo anunciou medidas para aumentar a fiscalização e a segurança dos protocolos, buscando restaurar a confiança pública no processo de transplantes.