A Secretaria Municipal de Saúde de Campo Mourão (PR) começou a disponibilizar cateteres com revestimento hidrofílico para pacientes com bexiga neurogênica em decorrência do diagnóstico de mielomeningocele, lesão medular e infecções urinárias de repetição. A iniciativa faz parte do Programa Municipal chamado RECOMEÇO, que visa a dispensação do cateter hidrofílico com o objetivo de aumentar a qualidade de vida dos pacientes com retenção urinária. O uso do dispositivo reduz o risco de infecções do trato urinário, traumas e complicações recorrentes quando comparado ao cateter convencional, de PVC.
“Iniciamos o programa há aproximadamente dois anos, a partir de um levantamento do perfil epidemiológico do município, onde identificamos cerca de 70 usuários com retenção urinária. O levantamento mostrou que 83% apresentavam infecções urinárias de repetição e 41% internaram devido ao agravo das infecções”, afirma Camila Corchak, secretária da saúde do município que, após a análise dos dados, identificou a necessidade de construir uma linha de cuidado voltada a esse público. Hoje, o Município de Campo Mourão possui um protocolo clínico implementado e uma nota técnica com critérios de inclusão para melhor atender o público em questão.“Por meio do projeto Recomeço, foi realizada a capacitação de todos os profissionais da rede de saúde e, posteriormente, a avaliação dos usuários para identificar os que atendem os critérios de inclusão ao programa. Após essa importante etapa de educação, iniciamos a distribuição dos novos dispositivos no mês de julho”, completa Camila.
Cerca de 25 usuários recebem mensalmente a quantidade necessária de produtos para realizar o cateterismo, em conformidade com as diretrizes nacionais e internacionais, que recomendam a prática de quatro a seis vezes diárias. A Secretaria Municipal de Saúde de Campo Mourão optou pelo cateter hidrofílico por oferecer mais conforto, segurança e autonomia às pessoas que precisam realizar o cateterismo intermitente limpo.
“São menos internações e atendimentos médicos e, consequentemente, redução de gastos para o município além, principalmente, de mais qualidade de vida para os usuários”, destaca Camila Kcorchak.
Sobre cateterismo intermitente limpo
Mais de 350 mil brasileiros possuem retenção urinária e de cada 10 pessoas com lesão de medula que recebe alta hospitalar, quatro têm indicação para a realização do cateterismo intermitente limpo (CIL). O cateterismo intermitente é a forma de esvaziar a bexiga quando alguma condição clínica impede que isso aconteça espontaneamente da maneira adequada (retenção urinária).
Segundo as diretrizes da Sociedade Brasileira de Urologia, a técnica do cateterismo intermitente limpo (CIL) é considerada atualmente como o padrão ouro em cuidado da retenção urinária porque utiliza materiais não-estéreis, exigindo apenas a limpeza das mãos e da região genital, portanto, podendo ser realizada também fora do ambiente hospitalar. Esta técnica consiste em introduzir um cateter no canal da uretra que irá drenar a urina contida na bexiga para o vaso sanitário ou um recipiente externo (bolsa coletora), que posteriormente é descartado. Os cateteres hidrofílicos são os mais recomendáveis para usuários que necessitam realizar o cateterismo intermitente porque permitem a remoção da “urina residual” evitando multiplicação de bactérias e infecções urinárias recorrentes. Além disso, comparado aos cateteres de permanência, o CIL reduz pela metade a ocorrência de infecções urinárias.
Estudo realizado com 130 paratletas cadeirantes do Brasil, Canadá, EUA, Chile, Colômbia e Japão, revelou que 84% deles realizam o cateterismo intermitente com cateter convencional. Destes, 84 tiveram alguma complicação ao longo de um ano, como lesões uretrais e infecção urinária. Cateteres hidrofílicos melhoram a qualidade de vida dos paratletas, reduzindo lesões uretrais, sangramentos e infecções urinárias recorrentes.