Domingo, 05 de Maio de 2024

D’P Política: Enio Verri – Energia que move o futuro

2023-06-17 às 16:54
Cerimônia de posse do Diretor Geral Brasileiro Enio Verri

Sob a direção-geral de Enio Verri no Brasil, a Itaipu Binacional investirá em políticas sociais, ambientais e de desenvolvimento

por Edilson Kernicki

Desde o dia 16 de março último, a líder mundial na geração de energia limpa e renovável, a Itaipu Binacional, tem um novo diretor-geral brasileiro: Enio Verri, que tomou posse do cargo em solenidade realizada no Cineteatro dos Barrageiros, na usina hidrelétrica de Itaipu, em Foz do Iguaçu. Autoridades como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Mario Abdo Benitez, presidente do Paraguai, além do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, entre outros, prestigiaram a ocasião. Com 20 unidades geradoras e 14 mil megawatts (MW) de potência instalada, a usina já produziu, desde 1984, 2,9 bilhões de megawatts-hora (MWh). Em 2022, a Itaipu respondeu por 8,6% do suprimento de eletricidade do Brasil e 86,3% do Paraguai.

Ainda que a nomeação de Verri para o cargo já fosse noticiada desde janeiro, a sua posse só ocorreu na segunda quinzena de março, pois a indicação de Lula precisava passar pelo crivo do conselho de administração da Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar), a nova estatal de energia, criada após a privatização da Eletrobrás. Para assumir a Itaipu, o deputado federal, eleito para o terceiro mandato consecutivo, precisou se licenciar do cargo.

Quem o substitui na Câmara Federal é o seu suplente, o deputado Elton Welter (PT-PR). Cerca de um mês antes de assumir a direção-geral brasileira da Itaipu Binacional, Verri disse, em entrevista ao programa “Manhã Total”, apresentado por João Barbiero na Lagoa Dourada FM, que o convite de Lula era irrecusável e que o fato de o seu suplente ser do mesmo partido, ter um modo de pensar parecido e uma formação acadêmica similar à dele o tranquilizavam para se licenciar do mandato parlamentar, pois tem a segurança de que Welter votará as pautas como ele faria.

Novas prioridades

O maringaense de 62 anos é o 15º nome a ocupar a cadeira de diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, e o 10º paranaense na função. Para além de seu papel principal – produzir energia de qualidade, a partir de uma fonte renovável, e fornecer energia acessível à população e aos meios produtivos –, a Itaipu Binacional quer fazer valer os seus compromissos sociais, resultado da dívida social e ambiental herdada pela construção da usina. “A diferença, na nossa gestão, é que vamos desenvolver na região e no Paraná as políticas vinculadas ao governo federal. Portanto, as políticas sociais, ambientais, de desenvolvimento econômico e de inovação tecnológica, que marcam o governo Lula, serão prioritárias”, aponta Verri.

“Políticas sociais, ambientais, de desenvolvimento econômico e de inovação tecnológica, que marcam o governo Lula, serão prioritárias em nossa gestão”

Enio Verri, diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional

Nesse sentido, a nova gestão deve se voltar às políticas sociais e de inclusão, vistas como de “efeito multiplicador muito grande”, em contraste com os últimos anos, em que a Itaipu centralizou recursos em investimentos de infraestrutura, que devem prosseguir. Segundo Verri, a mudança permitirá a aplicação de recursos em agricultura familiar, assentamentos e comunidades indígenas, para gerar desenvolvimento local via pequenas e médias empresas e para investir em inovação tecnológica. “Vamos aprofundar os investimentos nessa área, através do Parque Tecnológico de Itaipu (PTI) e de parcerias com instituições públicas do Paraná, do Brasil e mesmo de fora do país”, anuncia.

A pauta ambiental também é considerada basilar em uma hidrelétrica do porte da Itaipu. Verri considera o enfrentamento à crise climática como elemento primordial. “A transição energética é um compromisso da nossa direção, do presidente Lula e do PT. Por isso, vamos contribuir para a transição energética, valendo-nos do conhecimento dos nossos quadros técnicos e estimulando a pesquisa por meio do PTI, que tem um trabalho para o hidrogênio verde”, ressalta.

Infraestrutura

Já na infraestrutura, obras como o prédio da Universidade da Integração Latino-Americana (Unila) “passarão a ser realidade”, diz Verri. O último projeto de Oscar Niemeyer, do prédio que abrigaria, dentro da Itaipu, o campus da instituição fundada em 2010, foi paralisado em 2014, quando o consórcio Mendes Júnior-Schahin abandonou a obra, com 13 andares erguidos e preparação para erigir outros nove. “Vamos envidar todos os esforços para que a Ponte da Integração Brasil-Paraguai possa ser usada em breve, desafogando o tráfego da Ponte da Amizade, atraindo mais turistas e contribuindo para o desenvolvimento regional e do estado do Paraná”, acrescenta.

Novos acordos

Verri comenta que planeja revisar o Anexo C, que estabelece as bases financeiras do Tratado de Itaipu, assinado há 50 anos. Essa revisão deve ser tratada pelas Altas Partes Contratantes de Itaipu, isto é, os governos brasileiro e paraguaio, com negociação conduzida pelas chancelarias e pelos ministérios de Energia dos países-sócios. Caberá à Itaipu um papel consultivo, de prestar assistência técnica às negociações, que só devem começar a partir de agosto.

Outro importante acordo diz respeito à tarifa de Itaipu para 2023. Uma vez quitada a dívida da empresa, o Custo Unitário dos Serviços de Eletricidade (Cuse) deve se reduzir, perspectiva que leva o diretor-geral da Itaipu a crer que há margem para baixar a tarifa, o que dependerá da posição do Paraguai. “Nesses quase 50 anos, estabelecemos uma boa sociedade e acredito que ela continuará profícua para chegarmos a um acordo benéfico aos dois sócios”, avalia.

Segundo Verri, o presidente Lula considera a Itaipu não somente um grande instrumento de parceria com o Paraguai, mas também de integração para todo o Mercado Comum do Sul (Mercosul) e da retomada da União de Nações Sul-Americanas (Unasul). “Essa importância estratégica de Itaipu está sendo considerada pelo governo, inclusive na composição da Diretoria e do Conselho de Administração. Teremos um conselho de peso. Esperamos que a Itaipu seja um instrumento para construir relações, respeitando as diferenças e estabelecendo maior diálogo com a sociedade civil”, conclui.

Quem é o novo diretor-geral brasileiro da Itaipu?

Enio Verri

Maringaense, de 62 anos, Enio Verri é economista e mestre em Economia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM); doutor em Integração da América Latina pela Universidade de São Paulo (USP) e especialista em Teoria Econômica pela Faculdade Estadual de Ciências Econômicas (FECEA), de Apucarana. É professor aposentado do Departamento de Economia da UEM, onde foi admitido em 1997.

Foi secretário da Fazenda (2001-2003) e de Governo (2003-2004) na Prefeitura Municipal de Maringá. Atuou como assessor técnico na presidência da Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional (2004-2005) e chefiou o gabinete do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (2005-2006).

Eleito deputado estadual em 2006, assumiu a Secretaria de Estado do Planeamento, onde permaneceu até 2010, quando foi reeleito deputado. Em 2014, foi eleito deputado federal, cargo para o qual foi reeleito em 2018 e 2022. Na Câmara Federal, foi membro titular da Comissão de Finanças e Tributação, entre outras comissões temporárias ou permanentes. Mais recentemente, integrou o grupo temático de Planejamento, Orçamento e Gestão da equipe de transição do presidente Lula.

Conteúdo publicado originalmente na Revista D’Ponta #295