O mercado de bebidas do Paraná ganha a cada dia mais destaque internacional. Os produtores locais vêm agregando valor às bebidas, sejam destiladas ou fermentadas, atraindo novos consumidores e curiosos. O trabalho conta com incentivo do Governo do Estado e também tem sido reconhecido em concursos fora do Brasil.
É o caso do Ivaí Gin, que além do zimbro – fruto essencial na produção da bebida – é destilado em um alambique de cobre com outras 18 especiarias, entre elas lavanda, alcaçuz, emburana e dois ingredientes que dão um toque paranaense: pinhão e nó de pinho de araucária. A referência ao Paraná também está na embalagem, com uma gravura em alto relevo do Rio Ivaí e uma araucária na tampa.
Além da versão pura (London Dry), a Destilaria Água da Glória, dona da marca no município de São João do Ivaí, no Noroeste, produz gin em mais cinco sabores: seriguela, abacaxi com maracujá, tangerina com gengibre, hibisco com lichia e framboesa com limão.
A ideia do fundador da destilaria, o inglês Dominic Chambers, que vem de uma família tradicional de produtores da bebida na Inglaterra, era produzir um gin genuinamente brasileiro e que representasse o Paraná. A destilaria tem capacidade para produzir 50 mil litros de gin por mês.
“Ele importou toda a tecnologia da Inglaterra para fazer um gin de alta qualidade aqui no Vale do Ivaí”, aponta o gerente de Relacionamento da marca, Igor Pereira. “O pinhão dá uma nota de nozes e prolonga o paladar do gin. Já o nó de pinho traz uma nota amadeirada à bebida”, acrescenta.
Com apenas um ano de produção, o Ivaí Gin já conquistou 15 medalhas de ouro em concursos internacionais. A mais recente, e também a mais importante até aqui, foi em maio, quando a marca paranaense deixou para trás gins renomados mundialmente e conquistou o duplo ouro no San Francisco World Spirits Competition.
O título no torneio nos Estados Unidos levou a Forbes, uma das revistas mais prestigiadas do mundo, a citar o Ivaí Gin entre os melhores do mundo. O duplo ouro na disputa em São Francisco veio com a versão London Dry, além da prata com o gin de seriguela e o bronze com os outros quatro sabores da marca.
“O grande diferencial do Ivaí Gin é a preocupação com a qualidade. E esses prêmios estão trazendo o olhar do mundo para São João do Ivaí, que é um município pequeno. O curioso é que pessoas que não gostavam de gin estão tendo uma nova experiência com a nossa bebida, estão mudando a percepção sobre o gin”, aponta Igor.
Além do San Francisco World Spirits Competition, outras conquistas do Ivaí Gin valem ser destacadas. Entre elas, o ouro no London Gin Of The Year 2022 e no London Spirits Competition 2023, ambos em Londres. “A Inglaterra é o berço do gin. Conquistar prêmios lá tem um peso muito grande para nós”, complementa o gerente.
Sustentabilidade
Além dos prêmios internacionais, a Destilaria Água da Glória também se destaca pela produção sustentável. A empresa é a única destilaria do Brasil a atuar com emissão negativa de carbono. Ou seja, não só neutraliza a emissão na produção, como adquire créditos de CO2 para compensar ainda mais a emissão.
Toda a energia elétrica usada vem de painéis solares. Já o resíduo da produção vira fertilizante para o pomar que produz frutas para a própria destilaria. Há coleta de água da chuva, além de reutilização da água. Todas as embalagens e garrafas são de materiais reciclados e a primeira fase da destilação, que normalmente é descartada por ter teor etílico muito alto, vira álcool de limpeza.
Com essas ações e mais a aquisição de créditos de carbono no mercado, a Ivaí Gin consegue retirar do meio ambiente 1,4 kg de carbono a cada garrafa de gin comercializada.
Vinícola Franco Italiano
Outras bebidas paranaenses premiadas internacionalmente são os vinhos da Vinícola Franco Italiano, de Colombo. Em março, dois rótulos da propriedade da Região Metropolitana de Curitiba foram os únicos brasileiros a conquistar em Bordeuax, na França, a medalha de ouro no Vinalies Internationales, um dos concursos mais prestigiados do mundo, organizado pelo Ofício Internacional do Vinho (OIV).
Os rótulos premiados são dois tintos: o Censurato Cabernet Sauvignon safra 2018 e o Paradigma Rotto Cuvée Tannat safra 2012/2014.
“Nunca imaginei que a gente ia dar esse passo tão longe, de ter um vinho premiado internacionalmente. Isso é um orgulho fantástico”, comemora Dirceu Rausis, patriarca da vinícola.
O nome Censurato (Censurado, em italiano) vem das críticas que o vinho recebeu nas primeiras safras. Todos os especialistas que a Franco Italiano procurava à época desmereciam a bebida. Alguns até se negavam a prová-lo ao saber que o produto era de Colombo, tradicional berço do vinho colonial do Paraná. Até que um sommelier resolveu pôr o vinho em uma degustação às cegas junto com rótulos internacionais. E o vinho fino de Colombo recebeu elogios da maioria dos especialistas.
De família de origem francesa, Dirceu fundou em 1973 a Franco Italiano junto com a esposa, Ivone Ceccon, de família italiana. Por cerca de 30 anos, a vinícola se dedicou exclusivamente aos vinhos coloniais ou de mesa, como são conhecidos.
“A gente sempre foi acostumado a fazer vinho colonial, desde os tempos da minha mãe. Então no começo, quando meu filho sugeriu fazer vinho fino, até eu fiquei com o pé atrás. Ficava me perguntando como seria para vender, porque aqui todo mundo só toma vinho colonial. Mas deu tudo certo”, lembra Dirceu.
Ele diz que a primeira safra, de 2004, deu errado. “Tenho até hoje vinagre de uva cabernet sauvignon. Isso é produto raro!”, brinca. Por insistência do filho Fernando, seu Dirceu aceitou tentar outra vez. E a safra de 2005 já foi a primeira premiada no Brasil.
Além do parreiral de um hectare cultivado desde o fim do século 19 em Colombo, a vinícola passou a cultivar em parceria com produtores de outras regiões uvas de linhagens europeias para produção de vinhos finos. São cerca de 50 toneladas por ano de uvas vindas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais e Bahia, além do Interior do Paraná.
No total, a Franco Italiano produz 22 rótulos de quatro bebidas diferentes, totalizando 100 mil litros por ano. São 12 vinhos finos, 5 coloniais, 4 espumantes, além de limoncello (licor de limão típico italiano).
“Os dois ouros no Vinalies Internationales são um reconhecimento internacional de qualidade, uma certificação de que nossos produtos encantaram jurados habituados a provar e a avaliar grandes vinhos do mundo todo”, aponta o sommelier da Franco Italiano, João Vinícius Trautmann. “Uma certificação dessa faz bastante diferença no reconhecimento também dos consumidores, que passam a se interessar mais pelos nossos produtos”, acrescenta.
Para o futuro, a Franco Italiano planeja mais prêmios. E não só com vinhos. “Um dos membros da família esteve um ano em Champagne, na França, de onde trouxe muito conhecimento. Todos nossos espumantes já receberam premiações nacionais. Sem dúvida, o próximo passo é o reconhecimento internacional também dos espumantes”, aponta.
Bodebrown
Entre as cervejarias paranaenses, o destaque em premiações é a Bodebrown, no bairro Hauer, em Curitiba, que já conquistou cerca 170 prêmios. Aproximadamente 70 deles em concursos internacionais nos mais diferentes países, como Bélgica, Inglaterra, Canadá, Estados Unidos, Austrália Chile e Argentina, entre outros.
Referência e pioneira na produção de cervejas artesanais na capital paranaense, a empresa também é a primeira cervejaria-escola do Brasil. O que ajudou a fomentar o mercado na capital paranaense, hoje um dos grandes polos de cerveja artesanal do País.
Dos troféus que guarda em uma galeria na empresa, o CEO da Bodebrown, Samuel Cavalcanti, tem carinho especial por alguns. Entre eles, o prêmio Gary Sheppard de maior revelação no Australian International Beer Awards de 2012, na Austrália – torneio em que a cervejaria curitibana ganhou mais outras duas medalhas de bronze no ano seguinte.
“São só cerca de 20 troféus Gary Sheppard concedidos até hoje e um deles está aqui com a gente. Fomos o primeiro representante da América do Sul a conquistar esse título”, explica Samuel. “Esse prêmio foi um grande reconhecimento para a Bodebrown logo no início. Depois dele, vencemos várias outras competições em diversos países”, aponta.
O prêmio internacional mais recente que a Bodebrown levou foi em outubro, no Rio de Janeiro: o Mbeer Contest, premiação do festival Modial de La Bière que, além do Brasil, é disputado em etapas no Canadá e na França. Com a conquista de duas medalhas – a única de platina e uma das 13 de ouro em disputa –, a cervejaria soma agora 23 premiações no Mondial La Bière, torneio organizado desde 1994 que em 2014 passou a ter uma etapa no Brasil.
A cerveja premiada com a medalha platina no Rio de Janeiro foi a Saint Arnold 10, uma Belgian Dark Strong Ale envelhecida em barris de carvalho. A medalha de ouro, por sua vez, ficou com Lupulol Mosaic, uma Hazy Strong Pale Ale.
“O Mondial La Bière avalia cervejas com características inovadoras. Portanto, ter 23 medalhas nessa disputa é algo muito expressivo para uma cervejaria nova e pequena de Curitiba”, avalia Samuel. “Ter uma medalha La Bière, reconhecida pela escola canadense e franco-belga, é maravilhoso porque te coloca em destaque em um universo de cervejas que têm controle de qualidade e características específicas em uma avaliação que envolve diversos fatores técnicos”, completa.
Segundo a gerente de Produção da Bodebrown, Gianna Surek, as disputas internacionais ajudam a não só divulgar o nome da cervejaria entre os consumidores, como também a elevar o ânimo da equipe que produz as bebidas. “Quando a gente conquistou a medalha de platina o pessoal ficou muito motivado. Em especial, o pessoal da linha de produção, que a cada concurso fica na expectativa”, explica.
Além dos prêmios, a Bodebrown também tem destaque no universo pop. A cervejaria curitibana criou em parceria com a banda inglesa de heavy metal Iron Maiden duas cervejas: a Trooper Brasil IPA e a Aces High – título que é um clássico da banda e que foi provada e aprovada pelo próprio vocalista Bruce Dickinson em visita à Bodebrown ano passado.
A cervejaria também fechou um acordo com o King Syndicate de Nova York (entidade que distribui cerca de 150 tiras e charges nos Estados Unidos) para lançar a primeira cerveja do personagem Popeye, a qual, como não poderia deixar de ser, terá espinafre na sua composição.
Benefícios fiscais
O Paraná oferece alguns incentivos para produtores de vinho e microcervejeiros, o que ajuda a fomentar os dois segmentos. Para os microcervejeiros, foi estendido até 31 de dezembro de 2024 crédito presumido de 13% no valor do ICMS nas vendas de cervejas e chopes artesanais dentro do Estado, limitadas a 200 mil litros por mês. São consideradas microcervejarias aquelas que produzem até 5 milhões de litros por ano.
A cerveja precisa ter pelo menos 80% de malte em sua composição para se enquadrar no benefício. O abatimento no imposto se aplica também às vendas diretas que as microcervejarias fazem aos consumidores.
“O nosso desenvolvimento tem reconhecimento do Estado com a renovação do decreto em apoio às pequenas fábricas de cerveja, que passaram muitas dificuldades com a pandemia”, avalia Samuel Cavalcanti, CEO da Bodebrown. “Com esse incentivo, o Estado reconhece ser importante manter ativo esse ecossistema de geração de emprego. Afinal, quando se fala de cerveja artesanal não dá para se referir apenas à parte industrial, tem que se referir também ao turismo e à gastronomia”, acrescenta.
Já para os fabricantes de vinho, até 31 de dezembro de 2025 há a opção de crédito presumido do ICMS nas operações com vinhos feitos exclusivamente a partir de uvas cultivadas no Paraná. O crédito presumido, neste caso, pode ser até o valor total do imposto a pagar, dependendo do caso. O abatimento vale para vendas dentro ou fora do Estado. A Secretaria de Agricultura e do Abastecimento também desenvolve o Revitis, que apoia financeiramente pequenos produtores de uvas.
Além disso, de forma mais geral, um incentivo que pode beneficiar também a cadeia de bebidas produzidas localmente é o diferimento no pagamento de ICMS com insumos agrícolas dentro do Estado do Paraná.
Confira o vídeo:
da AEN