A Itaipu Binacional, por meio do Programa AISA – Ação Integrada de Solo e Água, uma parceria entre Itaipu Binacional, Embrapa, IDR-Paraná, ESALQ/USP e FAPED, realizou nos dias 29 e 30 de outubro a “Reunião Técnica – Terraceamento agrícola em Sistema Plantio Direto: conceitos, considerações e cálculos para o dimensionamento, discussões e proposições ao PR e ao Sul do MS”. O encontro aconteceu no Centro de Difusão de Tecnologias do IDR-Paraná, em Londrina-PR e também foi transmitido pelo YouTube.
O evento reuniu 209 pessoas, das quais 71 participaram presencialmente, representando 44 instituições públicas, privadas, associações civis e movimentos sociais do Paraná, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Paraíba e do Estado de Minnesota (EUA) e de Moçambique, África do Sul.
No primeiro dia, o professor doutor em Ciência do Solo Ildegardis Bertol, uma referência na literatura científica nacional e internacional sobre o assunto, fez um aprofundamento sobre o dimensionamento de terraços no Brasil. Professor aposentado da UDESC, ele também é especialista em Hidrologia, Erosão e Conservação do Solo.
Segundo o engenheiro agrônomo Hudson Lissoni Leonardo, da Divisão de Apoio Operacional da Itaipu, o terraceamento agrícola é uma prática mecânica que integra o Planejamento Conservacionista de Solos e Água, o qual, entretanto, contempla outras práticas mecânicas, edáficas e vegetativas e que, ao considerar a escala de paisagem, de bacia hidrográfica, produz relevantes serviços ambientais para a sociedade, como a produção de água.
De acordo com Hudson, trabalhos de décadas de parcerias entre a Itaipu Binacional, a Embrapa e o IDR-Paraná demostram que é possível conciliar rentabilidade econômica, produtividade e sustentabilidade ambiental, em sistemas com rotação e diversificação de culturas, com boa produção de palhada, com terraceamento agrícola (sempre que necessário) e com outras boas práticas. São sistemas que melhoram a infiltração de água no solo, o enraizamento e a disponibilidade hídrica para as culturas, a produtividade, a estabilidade de produção em anos mais secos e diminuem a erosão e as perdas de solos, água e nutrientes das lavouras.
E exemplifica: são estas mesmas características dos sistemas que mantêm e melhoram as funções físico-hídricas, hidrológicas e biológicas dos solos agrícolas, essenciais para a recarga dos lençóis freáticos (aquíferos livres na zona saturada dos solos), o abastecimento lento e continuado das nascentes e rios, por subsuperfície, a regulação da vazão dos rios (oscilações menos extremas entre as vazões máximas e mínimas), a produção de água nas bacias hidrográficas, o controle da erosão hídrica, do assoreamento, eutrofização, contaminação e poluição de nascentes, rios e reservatórios, beneficiando o abastecimento público e a produção de energia hidrelétrica pela Itaipu.
O evento foi também uma oportunidade para conhecer dados preliminares de estudos hidrossedimentológicos, com o uso de simulador de chuva de braços rotativos em parcelas de Wischmeier. Um trabalho que está sendo desenvolvido em Ponta Grossa (PR) pelo Dr. Fabrício Tondello Barbosa, professor da UEPG e pesquisador da Rede Paranaense de Agropesquisa e Formação Aplicada (Rede Agropesquisa).
Já em campo, no município de Cambé, perto de Londrina, os participantes conheceram uma bacia hidrográfica experimental, instrumentalizada para estudos hidrossedimentológicos em diferentes escalas, em execução pelo IDR-Paraná mediante trabalhos integrados entre o Programa AISA e a Rede Agropesquisa.
Como principal resultado do encontro, ficaram as proposições para a elaboração ou revisão de políticas públicas de Estado e a execução de ações interinstitucionais conjuntas e coordenadas, considerando: a capacitação e a qualificação profissional continuada nas instituições públicas e privadas; o apoio aos órgãos oficiais em ações de transferência de tecnologias agropecuárias, de modo a contribuir com a taxa de adoção por parte dos agropecuaristas; o fomento e, ou o reconhecimento do(a) agropecuarista que adota práticas e tecnologias preconizadas pela agricultura conservacionista, dentre elas o terraceamento agrícola; a penalização das desconformidades legais; a continuidade de estudos regionalizados para a valoração econômica das perdas ocasionadas pela não adoção das boas práticas e o disposto no Boletim Técnico 071 do IDR-Paraná.
Além das pesquisas em andamento por meio do Programa AISA e da Rede Agropesquisa, para a produção de dados e informações que permitam o avanço científico, dentre outros, no tema “dimensionamento de terraços”. As instituições executoras e apoiadoras de ações de capacitação e de transferência de tecnologias e os profissionais habilitados e qualificados para a elaboração de projetos de conservação de solos e água devem, à luz do conhecimento técnico-científico e de posse de dados e informações do meio físico, analisar o método mais adequado a ser utilizado para cada situação, dentre aqueles documentados na literatura científica e que foram detalhadamente apresentados e explicados pelo professor Bertol durante o evento.
Os participantes também propuseram que haja apoio aos órgãos oficiais de pesquisa, extensão rural e transferência de tecnologias, em trabalhos que busquem promover a adequação do uso do solo à sua aptidão; o desenvolvimento de ações de capacitação, comunicação e transferência de tecnologias, fundamentadas em conceitos científicos que transcendem os limites do talhão ou da propriedade rural e, que considerem a escala da paisagem, da bacia hidrográfica, visando o manejo não apenas dos sistemas produtivos, mas também dos diferentes componentes da paisagem; o efetivo engajamento das universidades, cooperativas agroindustriais e municípios na elaboração e no desenvolvimento das medidas necessárias para o assunto; a implantação de áreas demonstrativas em propriedades rurais; a criação de um grupo de trabalho interdisciplinar e interinstitucional para o tema e a execução de mapeamentos de solos com escala compatível com a necessária para planos e projetos de conservação de solos e água.
Da assessoria