Terça-feira, 01 de Abril de 2025

Ponto de Vista: Boa relação com o Congresso é importante não apenas em termos de governabilidade, mas de governança, analisa ministra Gleisi

2025-03-29 às 16:16
Foto: D’Ponta News

Direto de Brasília e com exclusividade para o programa Ponto de Vista, apresentado por João Barbiero, na Rede T de Rádios, para todo o Paraná, a ministra da Secretaria de Relações Institucionais do Brasil, Gleisi Hoffmann, fala sobre o desafio do retorno ao alto escalão do governo. “É um grande desafio novamente estar aqui junto com o presidente Lula, estar aqui no Palácio [do Planalto] para ajudar na articulação política. Tomara que consigamos, realmente, entregar resultados, fazer essa articulação, melhorar sempre mais as relações do governo com o Congresso, com as outras instituições e fazer com que esse governo, que já vem dando resposta à população, possa dar mais respostas, mostrar a importância desse projeto”, ressalta Gleisi, que recebeu João Barbiero em seu gabinete para a entrevista.

A vinda de Gleisi para um ministério tem sido tratada pela imprensa especializada como um “segundo tempo” no Governo Lula, que iniciou em janeiro uma reforma ministerial para a segunda metade de seu mandato. Nesse posto de interlocutora do Governo junto às instituições, Gleisi admite que assume uma posição diferente, mas sem abrir mão de suas convicções e ideias. “Até para que você possa fazer uma negociação, você tem que ter posição para negociar. Não abro mão disso, as pessoas sabem que eu tenho [convicções]. O público com quem eu vou ter que me relacionar, o resultado que eu tenho que trazer para o Governo, é um público que vai me exigir uma grande dose de negociação, de empatia, de conseguir, realmente, fazer uma interlocução, que é, principalmente, o Congresso Nacional. O Congresso Nacional tem os votos da população, com seus deputados e senadores, ali temos representantes do povo. Posso concordar, discordar, mas eu tenho que conversar e eles são importantes, do ponto de vista da governança, não só da governabilidade, mas da governança. Precisamos do Congresso para aprovar grandes projetos de lei, para aprovar programas que são importantes para o governo. Então, temos que saber mediar as posições”, analisa. “Não vai ser tudo como a gente quer, mas também não vai ser tudo como eles querem. Acho que dá para chegar a bom termo”, complementa.

Gleisi ressalta que já conhece bem o Congresso, que para ela já foi arena de grandes embates – especialmente no Senado, assim como na Câmara dos Deputados – mas também de grandes composições. Vale lembrar que Gleisi foi senadora entre 2011 e 2019 – tendo se licenciado, entre 2011 e 2014, para assumir a Casa Civil, no governo Dilma – e que está licenciada do segundo mandato consecutivo como deputada federal pelo Paraná, para exercer o ministério da Secretaria de Relações Institucionais. “Quando você conhece as pessoas, as personagens, fica mais fácil de se trabalhar. Fui oito anos senadora e, agora, mais seis anos como deputada, então, eu conheço o ambiente do Congresso. Tivemos uma construção que foi muito importante, que foi a eleição das Presidências das Casas, tanto do Senado, como da Câmara dos Deputados. E trabalhamos numa composição, porque ali é um Colégio Eleitoral fechado, não valia a pena o governo incentivar uma candidatura, o PT lançar uma candidatura. O número de votos que temos dentro desse campo está dado. Nós íamos disputar para perder. Ou, se tivéssemos uma aliança mais ampla, talvez para ganhar por pouco. Mas o clima na Casa ia ficar muito ruim”, pondera a ministra.

Foi por isso que o governo preferiu fazer uma negociação em torno de duas candidaturas – do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) ao Senado e do deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) – e acertar as posições dentro da Câmara e do Senado, negociando quais Comissões o PT e a base de governo vão presidir e, principalmente, uma previsibilidade das pautas.

Questionado se Lula teria feito alguma recomendação para “cuidar da casa” durante sua ausência, para a viagem ao Japão e ao Vietnã, Gleisi reitera que sua atribuição atual é cuidar das relações políticas do governo. Quem “cuida da casa” é a Casa Civil, cargo que ela ocupou no governo Dilma. “A casa de Governo é a Casa Civil e o ministro Rui Costa tem sido um grande companheiro, um grande parceiro nos enfrentamentos das questões que envolvem o Governo”, salienta.

Paraná

Por ter assumido o novo cargo há cerca de um mês, Gleisi alega não ter condições, por enquanto, de viajar nem ao Paraná nem a qualquer outro lugar do Brasil, pois nesse instante todas as atenções dela se concentram em Brasília, a fim de resolver as questões mais prementes, como é o caso do Orçamento e da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. “Tem as agências, que temos que fazer as indicações no Senado. Uma série de questões que tenho que ter foco e a estruturação aqui também, as mudanças que tem que fazer. Pelos próximos 60 dias, dificilmente vou conseguir fazer alguma viagem mais estruturada. Passado isso, que as coisas se normalizem, tenho condições. Quero viajar pelo Brasil, porque também tenho que responder ao Brasil e quero, claro, continuar viajando pelo Paraná, visitar as regiões, conversar com o nosso pessoal, com os prefeitos, com os vereadores, com a nossa militância, que é minha base eleitoral. Aliás, só estou aqui, como ministra, porque eu tenho uma trajetória política e essa trajetória política eu devo ao povo paranaense“, afirma.

Prévias

A um ano e meio das eleições 2026, a ex-presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) analisa as perspectivas para a sucessão de Ratinho Junior no Governo no Paraná. O atual governador, por exemplo, tem agora o desafio de escolher a quem, de fato, apoiar como candidato, pois já existem vários políticos de olho nessa possibilidade e se autodenominando como o futuro candidato da situação. “Acho que tem um campo, que sempre foi um campo antagônico nosso, que hoje está muito dividido, pelo que percebo das [futuras] candidaturas e das disputas que têm entre essas candidaturas. Estamos com calma olhando o cenário. Obviamente, o PT vai ter presença nesse processo eleitoral. Podemos fazer aliança com partidos que são também do nosso campo político ou ter uma candidatura própria. Acho que caminha para o PT ter uma candidatura própria nas eleições de 2026 no Estado. O nome com maior projeção que temos, o mais forte que nós temos, é o nome do companheiro Enio Verri [diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional]. Acho que é um nome que tem condições de unificar e também trazer apoios de outros partidos desse nosso campo. Queremos também fazer essa discussão para o Senado: temos o nome do deputado Zeca Dirceu, que está colocado, mas são duas vagas e eu acho que podemos e devemos procurar outro nome ou outros nomes que sejam de campos mais amplos para apoiarmos, pois queremos garantir pessoas que defendem a Democracia. O que não dá para deixar, no caso do Senado, é a extrema-direita se consolidar e mandar para cá [Brasília] dois senadores ligados a essa visão golpista do Bolsonarismo, de ataque às instituições”, observa.

Para a presidência, o nome de Lula é dado como certo para disputar a reeleição. “É o nosso candidato a presidente. Vai ser, é o que nós defendemos, só se ele realmente não quiser, mas ele é o nosso candidato”, reforça.

8 de janeiro

Sobre os julgamentos do Supremo Tribunal Federal (STF) referentes ao “8 de janeiro”, Gleisi afirma não ter havido nenhuma surpresa. “Era o que se esperava, porque tinham provas fartas ali no processo. Não estamos falando de algo que saiu da cabeça de um ministro do Supremo ou do procurador-geral da República. A Polícia Federal fez uma investigação muito aprofundada, tinham documentos, gravações, imagens, declarações. Tanto que é interessante que, na defesa dos vários elementos, dos oito, ninguém negou a tentativa de golpe. Cada um estava defendendo seu cliente para tirá-lo do enredo. Nenhuma tese da defesa disse que não existiu isso ou que não teve golpe, foi ‘meu cliente não participou’; ‘meu cliente não estava’; ‘esse não fez’. Ou seja, eles corroboraram que teve, realmente, uma tentativa de golpe. Foram diversos fatos encadeados, desde a eleição, com a operação da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que eles fizeram no dia da eleição para não deixar os eleitores do Nordeste, principalmente do Lula, irem votar. Depois, saiu dali, continuaram os ataques às urnas eletrônicas, a tentativa de invasão da sede da Polícia Federal, queima de veículos em Brasília, a bomba no aeroporto. Aí descobrimos que tinha essa operação ‘punhal verde-e-amarelo’, para unir os três comandantes das Forças [Armadas] para dar o golpe, mas só o da Marinha aceitou, tanto que ele é um dos oito que está no processo, foi tornado réu. Tinha documento escrito e queriam matar o Lula, queriam matar o Geraldo Alckmin e queriam matar o Alexandre de Moraes. Ou seja, a cabeça dessa gente é muito doida: para voltar a assumir o poder, eles queriam matar o presidente eleito. Culminou com o 8 de janeiro, que era a ação derradeira deles, que achavam que conseguiriam, com aquilo, ter uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem) para os militares assumirem e, aí, dar realmente um golpe e eles voltarem. Foi tudo muito grave”, aponta.

Viagem de Lula ao Japão

Gleisi avaliou positivamente os resultados da viagem de Lula ao Japão e ao Vietnã nesta semana. “Lula tem esse dom de poder abrir as portas do mundo para muita gente: abre para a diplomacia, para o comércio, para o agronegócio. Aliás, ele foi lá [ao Japão] para vender a carne brasileira. Foi bater à porta dos japoneses para dizer ‘queremos vender nossa carne'”, comenta.

A ministra diz esperar que o setor do Agro reconheça as ações que o governo tem efetuado em favor desse setor. “Espero que reconheça, porque não foram só as portas do Japão, em toda a Ásia o Lula fez articulação para abrir as portas para o Brasil. É importante para o Brasil, mas é importante para o setor [agrário], que está ganhando muito dinheiro”, diz.

Ponto de Vista

Apresentado por João Barbiero, o programa Ponto de Vista vai ao ar semanalmente, aos sábados, das 7h às 8h, pela Rede T de Rádios do Paraná.

A Rádio T pode ser ouvida em todo o território nacional através do site ou nas regiões abaixo através das respectivas frequências FM: T Curitiba 104,9MHz;  T Maringá 93,9MHz; T Ponta Grossa  99,9MHz; T Cascavel 93,1MHz; T Foz do Iguaçu 88,1MHz; T Guarapuava 100,9MHz; T Campo Mourão 98,5MHz; T Paranavaí 99,1MHz; T Telêmaco Borba 104,7MHz; T Irati 107,9MHz; T Jacarezinho 96,5MHz; T Imbituva 95,3MHz; T Ubiratã 88,9MHz; T Andirá 97,5MHz; T Santo Antônio do Sudoeste 91.5MHz; T Wenceslau Braz 95,7MHz; T Capanema 90,1MHz; T Faxinal 107,7MHz; T Cantagalo 88,9MHz; T Mamborê 107,5MHz; T Paranacity 88,3MHz; T Brasilândia do Sul 105,3MHz; T Ibaiti 91,1MHz; T Palotina 97,7MHz; T Dois Vizinhos 89,3MHz e também na T Londrina 97,7MHz.