Em entrevista exclusiva ao programa Ponto de Vista, apresentado por João Barbiero na Rede T de rádios do Paraná, na manhã deste sábado (30), o diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, Enio Verri, e o prefeito de Londrina, Marcelo Belinati, debateram a expansão dos investimentos da empresa, os projetos destinados a municípios e a situação financeira do país.
Selecionado pelo presidente Lula para comandar da Itaipu Binacional, Verri iniciou a entrevista pontuando como a companhia opera e o aumento do escopo dos investimentos: “Eu tenho uma tarefa que o presidente Lula falou que é ampliar o papel de Itaipu. Ela é uma empresa pública, consequentemente, tem que prestar contas à sociedade do Brasil, em especial do Paraná. Foi por isso que a gente fez esse novo estudo técnico e hoje a Itaipu atende todo o estado do Paraná e parte sul do Mato Grosso do Sul, é uma região que se chama Cone Sul, de 35 municípios. Hoje, Itaipu que antes tinha como território 54 municípios, tem seu território composto por 434 municípios. Nosso papel é mostrar à essa população, em torno de 11 milhões de habitantes, o que é Itaipu, quem pagou essa conta, e o que ela pode devolver para essa população em investimentos”.
O prefeito de Londrina, por sua vez, apontou que se trata de uma iniciativa de grande importância. “Desde que o Enio assumiu, uma missão que foi dada pelo presidente Lula, eles expandiram esses investimentos para todo o Paraná e para alguns municípios do Mato Grosso do Sul, o que é muito importante. Veja, lá em Londrina, e em Ponta Grossa não é diferente, nós apresentamos três projetos que são fundamentais para o desenvolvimento da cidade e que vai ter a coparticipação da Itaipu Binacional”, conta.
Itaipu Mais que Energia
Ao falar sobre o programa, que opera em quatro eixos (saneamento ambiental; energias renováveis; manejo integrado de água e solo; e obras sociais, comunitárias e de infraestrutura), Verri explicou os motivos que levaram a sua formulação. “O corpo técnico de Itaipu fez uma análise que chega à seguinte conclusão: o lago de Itaipu, o reservatório, tem um tempo previsto de vida de 194 anos. Se a gente conseguir conter o assoreamento do lago, ou seja, que detritos sólidos não cheguem no lago, a gente pode aumentar o tempo de vida. Quanto mais tempo de vida tiver o reservatório, consequentemente mais tempo de vida tem a usina de Itaipu. Com esse estudo, nós vamos detectar qual a região que emite resíduos sólidos que chega ao lago e chegamos a esses 434 municípios. Dentro disso fizemos uma política ambiental, a gente chama de cardápio, uma lista daquilo que Itaipu pode investir e mandamos esse cardápio para todas as prefeituras”, aponta.
Ele explica que uma das principais preocupações do projeto que irá auxiliar as prefeituras com recursos foi a política ambiental. “A preocupação é com o reservatório. Nessa lista de itens um deles é estrada rural. É fundamental, se você tem estrada rural bem compactada, asfaltada, automaticamente você contém erosão e contém emissão de resíduos. Fizemos o encontro com todas as prefeituras, pegamos os nossos técnicos e mandamos eles para as 19 associações de municípios do Paraná para se reunir com os técnicos das respectivas prefeituras”, afirma, complementando que os projetos serão analisados tecnicamente para uma posterior aprovação. Conforme Enio, dos 434 municípios que estavam aptos, 400 já enviaram solicitaram recursos. “O município estará recebendo recursos de Itaipu, que o prefeito não esperava receber. Não existia essa perspectiva. São recursos para obras e melhorias que vão impactar de maneira positiva a vida do cidadão. Às vezes o prefeito não tem recurso para investimento”, aponta Belinati.
Verri detalhou também um pouco dos primórdios da iniciativa. “Quando o diretor Carboni trabalhou com 434 municípios, eu falei da fragilidade que os municípios têm de desenvolver projetos, mesmo a gente colocando os técnicos para visitar os municípios, eu achava que dos 434 nós chegaríamos a 250. O Carboni achava que nós íamos passar de 350 porque mesmo ele sendo otimista, também sabia das dificuldades que os municípios têm. Me parece que acertamos na simplificação, na medida que é tudo pela internet, e acertamos na qualificação posterior ao encontro com os prefeitos. Estou convencido que vamos chegar muito próximo dos 98% de solicitação”.
Outros destaques ficam pelo uso energia fotovoltaica e reciclagem, de acordo com o presidente da Itaipu Binacional, “Você pega uma pequena cidade, com R$ 500 mil que a gente repassa, o prefeito consegue colocar placas fotovoltaicas, o que é prédio público municipal ele não gasta mais com energia elétrica. Esse dinheiro ele pode investir na cidade e em políticas públicas. Terceiro que nós achamos importantes são as unidades de valorização de resíduos, as cooperativas de reciclagem. Na medida que as cidades conseguem reciclar seu lixo, ele vira matéria-prima, dá emprego e não vai para o reservatório. Todo esse receituário que nós entregamos, foram bem aceitos pelos gestores públicos e vão resultar em uma forma muito rápida numa melhoria da renda da população de forma direta ou indireta”, conta Enio, que também afirmou que existem outros projetos voltados para atender hospitais e Santas Casas, expansão de bolsas acadêmicas, além de uma política de incentivo da agricultura familiar. De acordo com prefeito de Londrina, cidade cuja merenda em instituições públicas é oriunda da agricultura familiar, trata-se de uma medida fantástica. “Cocê estimula o agricultor, movimenta a economia porque estamos falando de milhões de reais que chegam lá no pequeno produtor e a gente tem a garantia de estar levando produto de qualidade para nossas crianças”, aponta.
Economia
Ao ser questionado sobre o cenário econômico nacional, Enio afirma que “temos que olhar para o Brasil com uma expectativa muito otimista, mas lenta”. Ele destaca a aprovação da reforma tributária, mas aponta que o gargalo está na taxa de juros.”O que determina um empresário a investir é a taxa de juros, ela inibe os investimento. É por isso que hoje a crítica ao Banco Central não é do Governo Federal, é do setor produtivo do Brasil”, reflete.
O cargo de presidente do Banco Central (BC) tem mandato de quatro anos e é uma indicação do presidente da República. O atual representante do BC, Roberto Campos Neto, foi indicado pelo ex-presidente Bolsonaro e terminará seu mandato em 2024. “Hoje, o perfil do presidente do Banco Central é muito parecido com o do ex-ministro da economista, Paulo Guedes, que é um banqueiro, um aplicador do mercado financeiro. Para eles, quanto mais alta a taxa de juros, melhor. No Brasil, o BC só está preocupado com inflação, ele não está preocupado com emprego. A inflação começa a subir, o que o BC fala? Aumenta os juros. Aumentando os juros as coisas vão ficar caras, as pessoas não conseguem comprar. Elas não comprando o empresário vai ter que fazer liquidação para pagar fatura. Se ele faz a liquidação, ele não aumenta o preço. Ele gera uma recessão. O jeito de pensar do Campos Neto é esse. Ele cria uma crise na economia, mas a inflação não sobe. Nos EUA, se o cara faz isso, o Senado tira ele, e aqui o Senado não tira”, aponta Verri. Belinati complementa afirmando que “quem sofre é o povo”.
Confira abaixo a entrevista na íntegra: