Terça-feira, 15 de Abril de 2025

Ponto de Vista: Irineu Mario Colombo, diretor do Itaipu Parquetec, explica o que são o 5G Privativo e os Gêmeos Digitais

2025-04-12 às 18:09

Em entrevista exclusiva para o programa Ponto de Vista, apresentado por João Barbiero, na Rede T de Rádios, para todo o Paraná, neste sábado (12), o diretor superintendente do Itaipu Parquetec, Irineu Mario Colombo, falou sobre dois produtos desenvolvidos pelo órgão e sua relação com a chamada Indústria 4.0: o 5G Privativo e os Gêmeos Digitais. Na ocasião, Colombo também detalhou o perfil e a função do Itaipu Parquetec, ecossistema de inovação que integra entidades como instituições de ensino, empresas e órgãos governamentais.

Colombo relembra que na década de 1970, quando se decidiu construir a Hidrelétrica de Itaipu, eles tinham a maior turbina, que não comprava no mercado. Também tinha que ser produzido o maior transformador de energia elétrica, o que não existia no mercado e, para isso, foi necessário trazer profissionais da Itália, da Suíça, da CEMIG (Companhia Energética de Minas Gerais), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Levaram esses veteranos experientes, porque era uma coisa nova, gigantesca, diferente, com muita potência, para fazer essa bela usina. Esses profissionais experientes logo se aposentariam, estavam com bastante tempo para fazer esse trabalho. A Itaipu percebeu que era importante transmitir esse conhecimento para gerar recursos humanos para operar a hidrelétrica”, explica.

Assim, foi criado o Instituto de Tecnologia Aplicada e Inovação (ITAI), que recebia recursos da Itaipu, junto com a Unioeste (então Fecivel – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Cascavel) e criaram os cursos de Matemática, Processamento de Dados, Engenharia Mecânica e Engenharia Elétrica. “Esses quatro cursos foram criados pela Itaipu, através do ITAI, que pagava bolsa para o engenheiro que saía da usina às 18h, tomava um banho e ia dar aula e ganhava uma bolsa para dar aula. Com isso, foi gerando e, hoje, temos na Itaipu Binacional vários profissionais oriundos dessa formação”, cita.

Com o tempo, o ITAI cresceu e se expandiu para além dos limites da Itaipu, a fim de contribuir para o desenvolvimento econômico, até que em 2003, na primeira gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, houve a definição de que se criaria um braço administrativo da Itaipu, que seria o Parque Tecnológico. “O que é um parque tecnológico? Você pega esses profissionais que sabem coisas bem atualizadas, diferentes, com muita ciência e aplicam na ciência, portanto, a tecnologia para transformar em produtos, criar novas empresas, fomentar a renovação. Surgiu, então, em 2003, o Itaipu Parquetec, mas em 2006 ele virou Fundação. Se separou da Itaipu, juridicamente, em 2006, como fundação sem fins lucrativos, administrada por um conselho curador e fiscalizada pelo Ministério Público. Até hoje, é uma fundação ligada à Itaipu Binacional, tem 20% do nosso orçamento que a Itaipu banca, o mínimo necessário para ela funcionar, mas ela trabalha para produzir soluções para a Sanepar, para a Petrobras, mas sobretudo para a própria Itaipu. Hoje, 80% dos nossos projetos são para a própria Itaipu, mas a Itaipu nos paga, portanto, gera uma rendinha para nós”, observa.

Colombo destaca que, ainda que juridicamente a Itaipu Binacional e o Itaipu Parquetec sejam separados, ambos estão umbilicalmente ligados no dia a dia. Quando a Itaipu pensou em modernizar sua planta e surgiu a comunicação 5G (telefonia e dados), não havia nenhum especialista sobre a tecnologia, a decisão foi financiar o Itaipu Parquetec para criar o laboratório 5G. “Temos uma antena da Nokia; antena, digamos, porque é a tecnologia disponível. Você pega o 5G da Nokia e desenvolve uma série de aparatos e equipamentos que se comunicam com velocidade muito grande, sem perda de dados, em 5G. Fizemos esse laboratório, desenvolvemos, certificamos pela Anatel e desenvolvemos um produto a que chamamos 5G privativo. Hoje, temos um contrato com o Porto de Santos e estamos fazendo o 5G privativo: você vai poder controlar equipamentos pesadíssimos, como se fosse um videogame, porque a comunicação é sem falhas, não tem perda de pacotes, e ultravelocidade, de sorte que você faz um movimento que chamamos de instantâneo, de várias operações, a distância. Somos a única instituição do Brasil que fornece esse produto para as empresas privadas. O segundo produto, nós chamamos de Gêmeos Digitais [digital twins]: também surgiu da necessidade que, lá atrás, a Itaipu tinha em virtualizar toda a barragem dela”, comenta.

Os gêmeos digitais são modelos virtuais que representam objetos ou sistemas físicos, criados a partir de dados coletados por sensores ou outras fontes de informação. “A barragem de Itaipu é complexa, feita de concreto, de rocha e de terra. E essas três partes, naturalmente, se movimentam e isso precisa ser monitorado, acompanhado, para fazer algumas intervenções preventivas e de segurança. Se moveu uma série de informações, mecanismos de sensoriamento e monitoramento a distância, que hoje aplicamos, de maneira virtual. Cada parafuso, cada peça, cada bloco de concreto foi colocado dentro de um sistema computacional, dos chamados métodos numéricos, e você virtualiza. Imagina se você encher o lago de Itaipu, que vaze água por cima da usina, será que a usina suportaria? Você não faz isso na realidade, mas leva para dentro do computador, um supercomputador, que temos lá, ele processa essas informações, do menor parafuso à maior peça e faz o estresse dela para ver o comportamento, o que permitiu chegar à conclusão que a barragem da Itaipu só se rompe se secar o lago, não se o lago transbordar”, ilustra.

Essa virtualização permite otimizar a operação de estruturas enormes, como o Porto de Santos, que possui variáveis como problemas de maré, assoreamento e navios encostando e saindo. Colombo exemplifica que se já houver um grande navio atracado e estiver chegando outro tão grande, é possível calcular e orientar qual o melhor espaço que ele poderá ocupar.

Segundo Colombo, o Itaipu Parquetec é movido pela criatividade e pelo pensamento disruptivo, especialmente dos jovens, que possuem capacidade de adaptação e de pensar soluções diferentes para desafios. Ele comenta que há a “cultura do erro”, em que fracassar uma pesquisa no pensamento de uma solução faz parte do processo. “O fracasso está dentro da contabilidade só que usamos o velho jargão de que temos que errar rápido, mas errar barato. Porque, quando a solução for para o mercado, for implementada numa indústria, não pode mais ter erro e não pode mais ter muito custo, tem que ser razoável, tem que ter confiabilidade e eficácia, mas também com custos competitivos”, ressalta.

“Outra coisa: desenvolvemos espírito de equipe. Porque não existe uma grande inteligência, ela é sempre coletiva. Também é um aspecto que fomentamos muito”, acrescenta.

Perfil

Professor, formado como Técnico em Eletrônica e Habilitação para Magistério em nível médio. É licenciado em História (FAFI-Palmas – 1986), tem Especialização em Gestão Pública (IFPR-2010) e em História Econômica (FUNCEP-1992). É Mestre em Educação (UFPR-2002), Doutor em História Social (UNB-2007) e Pós-Doutor em História da Educação (UFPR-2016).

Foi Professor de História da Ciência, Técnica e Tecnologia do Programa de Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica do Instituto Federal do Paraná (IFPR) e lecionou Filosofia para o ensino médio. Também atuou como um dos elaboradores do PROUNI, do Programa Brasil Profissionalizado e contribuiu para a criação dos Institutos Federais no Brasil, pelo MEC. Esteve à frente de dois Institutos Federais, tendo sido Reitor do Instituto Federal de Alagoas e do Instituto Federal do Paraná. Pela atuação na gestão da expansão da Educação Profissional e Tecnológica, foi agraciado pelo MEC com a Medalha Nilo Peçanha (2010), que premia pessoas ou entidades pela Promoção da Educação Profissional e Tecnológica Brasileira.

Ponto de Vista

Apresentado por João Barbiero, o programa Ponto de Vista vai ao ar semanalmente, aos sábados, das 7h às 8h, pela Rede T de Rádios do Paraná.

A Rádio T pode ser ouvida em todo o território nacional através do site ou nas regiões abaixo através das respectivas frequências FM: T Curitiba 104,9MHz;  T Maringá 93,9MHz; T Ponta Grossa  99,9MHz; T Cascavel 93,1MHz; T Foz do Iguaçu 88,1MHz; T Guarapuava 100,9MHz; T Campo Mourão 98,5MHz; T Paranavaí 99,1MHz; T Telêmaco Borba 104,7MHz; T Irati 107,9MHz; T Jacarezinho 96,5MHz; T Imbituva 95,3MHz; T Ubiratã 88,9MHz; T Andirá 97,5MHz; T Santo Antônio do Sudoeste 91.5MHz; T Wenceslau Braz 95,7MHz; T Capanema 90,1MHz; T Faxinal 107,7MHz; T Cantagalo 88,9MHz; T Mamborê 107,5MHz; T Paranacity 88,3MHz; T Brasilândia do Sul 105,3MHz; T Ibaiti 91,1MHz; T Palotina 97,7MHz; T Dois Vizinhos 89,3MHz e também na T Londrina 97,7MHz.