Terça-feira, 15 de Abril de 2025

Ponto de Vista: “Me sinto honrada pela confiança dos colegas de bancada para poder ocupar esse espaço”, frisa a deputada Ana Júlia (PT), membro da CCJ da ALEP

2025-04-12 às 16:41

Com exclusividade para o programa Ponto de Vista, apresentado por João Barbiero, na Rede T de Rádios, para todo o Paraná, neste sábado (12), a deputada estadual Ana Júlia Ribeiro (PT), a mais jovem a ser eleita na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP), falou de sua trajetória política e das polêmicas que tem se envolvido.

Aos 18 anos, se candidatou a vereadora em Curitiba e ficou com a suplência. Ela ocupou a cadeira na Câmara de Vereadores por um mês, em substituição ao titular. “Cheguei a assumir por uma infelicidade de um caso de cassação que teve contra um colega nosso, uma injustiça que foi revertida. Então, fiquei apenas um mês na Câmara de Vereadores. Foi justamente durante a época de campanha para deputada. Eleger mesmo, assumir um mandato desde o começo foi para deputada estadual [em 2022]”, explica.

Polêmica na CCJ

Ana Júlia é membro da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), preside a Comissão de Defesa dos Direitos da Juventude, é membro da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher; da Comissão de Defesa dos Direitos da Criança, do Adolescente e da Pessoa com Deficiência; da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior; da Comissão de Finanças e Tributação e da Comissão de Indústria, Comércio, Emprego e Renda.

Recentemente, a membro da CCJ da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (ALEP) foi atacada pelo também membro da CCJ, Ricardo Arruda (PL), que disse que suas roupas a faziam parecer estar no Diretório Acadêmico de uma universidade, como se fossem incompatíveis com o ambiente do plenário – e o regimento interno da ALEP não constata nada de errado com as vestimentas da parlamentar, que foi defendida, aliás, pela deputada estadual Mabel Canto (PSDB) e pela bancada PDT-PT. O ataque, que foi avaliado pelos pares como violência política de gênero, seria uma resposta ao pedido que ela apresentou para que o deputado seja substituído na CCJ, por causa das faltas recorrentes.

“Cobro em relação a isso, porque é a Comissão mais importante da Casa”, reitera. O Regimento Interno da ALEP, em sua Subseção VI, no parágrafo 3º do artigo 78 determina a perda do lugar na Comissão ao membro que deixar de participar de três reuniões ordinárias consecutivas, sendo nomeado, desde logo, substituto pelo presidente da ALEP, de ofício ou a requerimento de qualquer deputado.

“A gente cobra o que está certo, algo que está escrito no Regimento da Casa e a resposta que temos é que ‘não sabe fazer política’, que está ‘num diretório acadêmico e que dá para ver isso pela fala e pelas roupas’. Você vê que o deputado, em vez de enfrentar o que está acontecendo – a ausência dele na CCJ – ele cria uma ‘cortina de fumaça’ para tentar escapar, cria uma fala preconceituosa, uma fala que é violência política [de gênero] para dizer de que maneira as mulheres têm que se comportar para estarem no parlamento. Ele acredita que tem esse direito de dizer como as mulheres têm que agir para estar no parlamento”, diz.

Cumpre observar que o Regimento Interno da ALEP, em seu artigo 121, exige não só dos deputados, mas dos funcionários, durante a sessão plenária, o uso de traje passeio completo: para homens, é o terno e gravata, camisa social e sapatos; para mulheres, pode variar entre vestido longo, midi ou curto, macacões sociais ou terninho e calça.

Antes mesmo de se discutir a vestimenta de mulheres no Plenário, Ana Júlia acredita que precisa ser debatida a presença das mulheres na ALEP.  “Temos, infelizmente, uma representatividade muito baixa de mulheres nos espaços de poder e decisão e isso se dá muito pela estrutura da nossa sociedade”, diz. Mesmo que seja a maior bancada feminina da história da ALEP, com 10 deputadas, duas delas na Mesa Diretora, as mulheres correspondem, hoje, a menos de 20% dos 54 deputados estaduais. “Precisamos que as mulheres precisam estar lá com condições de atuar politicamente, que tenham mulheres na CCJ, na Comissão de Orçamento, de Finanças e Tributação, que tenham mulheres nos espaços de decisões reais e não que apenas nos coloquem para debater os temas que os homens não querem debater“, analisa.

Mesmo assim, Ana Júlia salienta que houve um grande salto na representatividade feminina na ALEP, que dobrou em relação à legislatura anterior, quando havia somente cinco deputadas. “Ainda é um número pequeno, se levarmos em conta que temos 54 deputados, mas é uma bancada muito forte, da qual tenho muito orgulho de fazer parte”, pondera.

“Não existe roupa certa nem idade certa para a mulher nesses espaços de poder. ‘Roupa certa’ e ‘idade certa’ é sempre quando você é homem, não quando você é mulher. Se eu me visto de acordo com a minha idade, de 24 anos, se me visto de calça jeans, tênis, camiseta, camisa, blazer, nada nunca vai ser o suficiente. Ele deveria medir a qualidade do meu trabalho, o conteúdo do meu trabalho. Nunca tive qualquer problema com as minhas roupas na Assembleia ou em qualquer lugar fora, porque as pessoas estão preocupadas com o conteúdo do meu trabalho e porque eu tenho bom senso, nunca fugi do bom senso”, argumenta.

A deputada atenta para a violência simbólica que falas como a do deputado, que tentou desabonar a competência da parlamentar em função de características físicas (idade) e de comportamento social (vestimenta), pois são essas violências simbólicas que, segundo ela, afastam as mulheres desses espaços. “Não é à toa que temos poucas mulheres na política”, avalia.

“A CCJ é o coração de toda Casa Legislativa; é onde passam todos os projetos e se tem as maiores discussões. É um espaço que precisa ser muito valorizado dentro do Legislativo. Diferentes de outras Comissões, que vai passar só aquilo que é do assunto, do tema que ela trata, na CCJ são todos os projetos, todas as mensagens do Executivo. Tudo que passa pela Assembleia Legislativa, tudo o que passa por uma Casa Legislativa, passa pela CCJ. Me sinto muito honrada de ter a confiança dos meus colegas de bancada para poder ocupar esse espaço. É um desafio diário. Me dedico muito para participar da forma que a CCJ merece ter a participação de um parlamentar”, frisa.

A CCJ é composta por 13 deputados – pouco menos de 1/4 dos 54 parlamentares. Presidida por Ademar Traiano (PSD), também é composta pelos deputados Cobra Repórter (PSD); Alison Wandscheer (SD); Ana Júlia (PT); Delegado Tito Barichello (União); Hussein Bakri (PSD); Luiz Claudio Romanelli (PSD); Luiz Fernando Guerra (União); Mabel Canto (PSDB); Marcio Pacheco (PP); Renato Freiras (PT); Ricardo Arruda (PL) e Soldado Adriano José (PP).

Oposição

Ana Júlia (PT) integra a Bancada de Oposição, liderada por Arilson Chiorato (PT) e composta também pelos deputados Professor Lemos (PT), Dr. Antenor (PT), Renato Freitas (PT), Goura (PDT), Requião Filho (PT) e Luciana Rafagnin (PT). Ao comentar sobre o novo presidente da Mesa Diretora, Alexandre Curi (PSD), que tem sido visto como um “conciliador”, a parlamentar reflete que as coisas são vistas de modo diferente do lado de fora e que passou a ter um novo olhar quando passou a ver o cenário político pelo lado de dentro.

A deputada admite ter uma série de divergências políticas em relação ao presidente da ALEP. “Sempre que via o Alexandre de longe – e a política em si, de longe, quando não era deputada – olhava como uma espécie de ‘inimigo’, ‘adversário’. Uma coisa que passamos a entender ao ocupar o parlamento, além de, óbvio, entender as diferentes representações da sociedade, é o porquê de cada deputado estar naquele espaço. O Alexandre tem uma característica que eu admiro muito é que ele trata todo mundo com a mesma atenção e o mesmo respeito. Ele para para escutar. Já levei padre, já levei liderança comunitária para falar com o Alexandre, e ele para e escuta com a mesma atenção que ele vai escutar um grande empresário”, elogia. “O status dele em ser presidente da ALEP hoje é muito em função dessa capacidade de diálogo dele“, analisa.

Renovação na política e luta pela educação pública

Legítima representante da Geração Z, a deputada entrou para a ALEP com o objetivo de trazer à tona o debate sobre a transição geracional e a renovação na política. “Ter essa participação, ter esse incentivo para a participação da juventude na política me deixa muito feliz. Vejo que hoje a maior marca do mandato é, de fato, a luta pela educação pública, a defesa de educação pública emancipadora, de qualidade, que de fato prepare nossa juventude para o exercício da cidadania. Defender a educação pública me deixa muito orgulhosa, porque foi justamente por ela, pela escola, que eu comecei a participar da política”, destaca. “O que me motivou a participar da política é acreditar que a educação, de fato, transforma a vida das pessoas”, complementa.

Ana Júlia defende que sua maior preocupação, no que diz respeito ao Paraná, é o setor estratégico, as empresas públicas e a soberania do Estado. “O Paraná sempre foi um estado protagonista, sempre teve uma das maiores companhias de energia elétrica, sempre foi visto como um exemplo de desenvolvimento, de tecnologia, de industrialização e eu tenho ficado muito preocupada quando passamos por vários processos de privatização. Vemos a Copel, que até 2020, 2021, era vista como a 10ª melhor companhia de geração e distribuição de energia do país e, agora, está em 25º, foi caindo as posições”, diz.

A deputada também afirma temer a venda da Sanepar. “Aqui em Ponta Grossa, tivemos um problema sério de abastecimento nesse último período. Não se engane, não ache que é porque a empresa é pública. Na realidade, ela está passando por um processo de sucateamento, de esvaziamento, justamente para baratear e ficar mais fácil de vender e privatizar”, supõe. “Se estamos hoje tendo problema de abastecimento de água, tenha certeza que, com a privatização da Sanepar, vai ser muito maior, porque não se investe em política de prevenção como nas empresas públicas”, defende.

Ocupações secundaristas e projeção

Filiada ao Partido dos Trabalhadores desde 2018, Ana Júlia revela não ter uma resposta na ponta da língua sobre qual político seria sua referência, apesar de ser sempre questionada a respeito. “O que me faz admirar as pessoas na política e o que me faz fazer política não é um grande nome, uma grande liderança, um grande parlamentar. São as pessoas que constroem a política comigo. Na época das ocupações das escolas [2016], eram meus colegas, que ocupavam a escola junto comigo”, diz. Ana Júlia ganhou projeção nacional ao discursar na ALEP, aos 16 anos, na época das ocupações das escolas pelos secundaristas, que se manifestavam contra a reforma do ensino médio (Medida Provisória 746). “Lá atrás, já falávamos: isso aqui não vai dar certo, não é o que os estudantes estão pedindo, não vai resolver os problemas de sala de aula”, afirma.

Questionada se acha que o certo seria promover ocupações quando discorda de algo, a parlamentar rebate que acredita que o certo é que a sociedade se mobilize e que as pessoas tenham participação política. “Inclusive, o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) prevê a participação política de crianças e adolescentes. O Movimento das Ocupações Secundaristas foi absolutamente pacífico. Olha que interessante: os estudantes olham para a escola como se fosse uma prisão, entram e querem sair o mais rápido possível, não vê a hora de bater o sinal, dar meio-dia e ir embora. De repente, esses estudantes começam a olhar a escola como um espaço que é tão deles e que precisa ser valorizado e que precisa ser trabalhado, que eles possam querer ficar dentro dela e transformar aquele espaço, passam a querer ficar dentro da escola, para valorizá-la. No sentido de que a escola é da sociedade, a escola é nossa, a escola tem que ser protegida e valorizada. Não é uma invasão, não é uma coisa ‘ah, eles não têm direito sobre nada que está ali’. Pelo contrário, eram feitas assembleias estudantis, consultas aos estudantes, era trabalhado para ser valorizado o espaço da escola”, argumenta.

Polêmica na CCJ

Recentemente, a membro do Conselho de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (ALEP) foi atacada pelo também membro da CCJ, Ricardo Arruda (PL), que disse que suas roupas a faziam parecer estar no Diretório Acadêmico de uma universidade, como se fossem incompatíveis com o ambiente do plenário – e o regimento interno da ALEP não constata nada de errado com as vestimentas da parlamentar, que foi defendida, aliás, pela deputada estadual Mabel Canto (PSDB). O ataque, que foi considerado misógino pela deputada, seria uma resposta ao pedido que ela apresentou para que o deputado seja substituído na CCJ, por causa das faltas recorrentes.

Nome e Los Hermanos

Descontraída, a deputada nega que seu nome tenha sido inspirado pelo clássico do Los Hermanos, Ana Júlia, sucesso de 1999, ano anterior a seu nascimento. “Adoro a música, mas meu nome não é por causa da música. A irmã mais nova da minha mãe se chama Ana Lúcia, e minha mãe é muito apegada a ela. E meu pai se chama Júlio. Daí minha mãe quis juntar as duas coisas e ficou Ana Júlia”, revela.

Perfil

A curitibana Ana Júlia Ribeiro é a mais jovem deputada da história do Legislativo Paranaense, ao ter sido eleita em 2022 com 22 anos de idade. Ativista da educação pública, a jovem completa 25 anos em 30 de junho. É bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e estudante de Filosofia na Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Sua militância em favor da educação pública teve início em 2016, quando ela se destacou nas ocupações secundaristas de 2016, quando ela ainda cursava o ensino médio. Os estudantes se manifestavam contra a reforma do ensino médio. Ficou nacionalmente conhecida por seu discurso na Assembleia Legislativa do Paraná, quando aos 16 anos enfrentou os deputados defendendo o movimento das ocupações secundaristas.

Filiou-se ao Partido dos Trabalhadores em 2018, a convite do presidente Lula, e em 2020 foi candidata à vereadora de Curitiba, quando assumiu a primeira suplência como a jovem mais votada de Curitiba. Em 2022, elegeu-se deputada estadual com 51.845 votos, exercendo o mandato nesta Casa Legislativa em defesa da educação pública, dos direitos das mulheres e da juventude.

Ponto de Vista

Apresentado por João Barbiero, o programa Ponto de Vista vai ao ar semanalmente, aos sábados, das 7h às 8h, pela Rede T de Rádios do Paraná.

A Rádio T pode ser ouvida em todo o território nacional através do site ou nas regiões abaixo através das respectivas frequências FM: T Curitiba 104,9MHz;  T Maringá 93,9MHz; T Ponta Grossa  99,9MHz; T Cascavel 93,1MHz; T Foz do Iguaçu 88,1MHz; T Guarapuava 100,9MHz; T Campo Mourão 98,5MHz; T Paranavaí 99,1MHz; T Telêmaco Borba 104,7MHz; T Irati 107,9MHz; T Jacarezinho 96,5MHz; T Imbituva 95,3MHz; T Ubiratã 88,9MHz; T Andirá 97,5MHz; T Santo Antônio do Sudoeste 91.5MHz; T Wenceslau Braz 95,7MHz; T Capanema 90,1MHz; T Faxinal 107,7MHz; T Cantagalo 88,9MHz; T Mamborê 107,5MHz; T Paranacity 88,3MHz; T Brasilândia do Sul 105,3MHz; T Ibaiti 91,1MHz; T Palotina 97,7MHz; T Dois Vizinhos 89,3MHz e também na T Londrina 97,7MHz.