Domingo, 10 de Agosto de 2025

Ponto de Vista: “Não tem aquela coisa de ficar um, dois anos antes, pensando no que vai ser a eleição seguinte”, dispara senador Flávio Arns (PSB-PR), sobre futuro político

2025-08-09 às 16:42
Foto: D’Ponta News

Com exclusividade para o programa Ponto de Vista deste sábado (9) e para o portal D’Ponta News, o senador Flávio Arns (PSB-PR) fala sobre seu futuro político, com a proximidade do fim do mandato no Senado, que se encerra no início de 2027. Arns evita falar de uma eventual candidatura ao Governo do Paraná em 2026, 20 anos depois de ter sido candidato ao cargo – então filiado ao PT – quando ficou em 3º lugar no 1º turno. “Decidimos rapidamente, não tem aquela coisa de ficar um ano antes, dois anos antes, pensando no que vai ser a eleição seguinte. Vamos trabalhar bem o dia a dia e o futuro a Deus pertence”, despista.

De janeiro de 2011 a janeiro de 2015, foi vice-governador do Paraná, período em que acumulou o cargo de secretário estadual de Educação. “Depois, fiquei quatro anos fora da política, não estava sequer filiado a partido político, e voltei a dar aulas, pois sou professor”, diz.

Formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), é docente na área de Educação (Pedagogia e Letras). Flávio Arns é mestre em Letras pela UFPR (1977) e PhD em Linguística pela Universidade Northwestern (EUA, 1980). “Sempre gostei disso [de lecionar] e voltei para a universidade para dar aula. Mas as pessoas começaram a pedir para eu me candidatar”, relembra. Antes disso, ele afirmou que precisava encontrar um partido para se filiar. “Minha vida partidária sempre foi conturbada. Os partidos precisam, também, de uma reestruturação”, cita. Vale lembrar que a trajetória política de Flávio Arns se iniciou no PSDB, pelo qual foi eleito em 1990 e onde permaneceu por 11 anos, até que se filiou ao PT. Oito anos depois, retornaria ao PSDB e se tornaria vice-governador.

Para a campanha como candidato a senador, se licenciou por três meses do cargo de professor universitário. “Fizemos a campanha e, felizmente, com o apoio de muita gente, sempre uma campanha de um por um. Em primeiro lugar, sempre digo que não vamos gastar dinheiro em campanha, não podemos. Fiz uma campanha, com prestação de contas, tudo direitinho, de R$ 230 mil, com programa de televisão, de rádio, viagens. Foi uma coisa boa”, avalia.

Sensibilidade para as causas sociais

Com um trabalho caracterizado pela defesa dos direitos da pessoa com deficiência e junto às pastorais da Igreja Católica, como a da Criança, da Pessoa Idosa e Pastoral Carcerária, além de obras sociais das demais denominações religiosas e, ainda, pela atuação no que diz respeito ao avanço de tratamento de doenças raras, o senador paranaense encerra seu mandato ao final do próximo ano. O nascimento do filho Osvaldo Arns Neto, em 1975, mobilizou o político em torno do interesse coletivo das pessoas com deficiência – legado que ele preserva, quase dois anos após o falecimento de seu primogênito. “Inspirou tanta gente a ser melhor. Diria que o Osvaldo inspirou, abriu e mostrou a necessidade”, comenta. O primeiro filho de Flávio e Odenise faleceu em 2023, aos 48 anos, e possuía deficiência intelectual, associada à deficiência física e hemiplegia (paralisia cerebral que atinge um lado completo do corpo). “Ele aprendeu a ler, a escrever, a usar o computador. Uma época, era Coxa fanático; daí mudou para o Athlético, depois, voltou para o Coxa. Ia aos jogos. Ele faz muita falta na família, porque ele tinha uma presença extraordinária. Isso acontece não só comigo, mas com muitas famílias. Rezo para ele continuar nos inspirando todos os dias”, relata.

Em Ponta Grossa, Flávio Arns conhece de perto a história das entidades que trabalham com as pessoas com deficiência, a exemplo da APACD, APEDEF, Assarte, Escola Geny Ribas, Apadevi. “As associações precisam ser valorizadas. O Brasil não valoriza o suficiente, às vezes, até bota a culpa nas entidades, o que está totalmente errado. Há outros países, como o Canadá, que valorizam muito isso, mas aqui também temos um apoio sempre bom”, diz. Arns reconhece que as entidades, muitas vezes, se encarregam de atribuições que preenchem as lacunas do poder público. “Se as entidades não existissem, o poder público teria que estar fazendo. Mas aqui também tem as entidades que atendem a pessoas dependentes químicas, que também procuramos contribuir; também o [Hospital] Bom Jesus, a Santa Casa. Como sou senador, tenho que pensar no Paraná inteiro. Nunca pergunto para um prefeito de que partido ele é. Vamos olhar a comunidade, as pessoas que precisam e procurar ajudar, com recursos, mas também com política pública”, afirma.

O envolvimento com as Pastorais surgiu em 1983 quando, ao lado da tia, a pediatra e sanitarista Zilda Arns, participou da criação da Pastoral da Criança, a fim de combater a desnutrição e a mortalidade infantil. Mais tarde, Zilda também se tornaria fundadora e coordenadora internacional da Pastoral ada Pessoa Idosa. Foi também nesse ano que ele se tornou diretor do Departamento de Educação Especial, na Secretaria de Estado da Educação do Paraná, cargo que exerceu até 1990, quando foi eleito deputado federal.

Depois de passar pela Comissão de Educação e Cultura no Senado, pelo período de dois anos, hoje Flávio Arns preside a Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação e Informática. O senador relembra a recomendação do tio, o ex-arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016): “O mais importante é contribuirmos o máximo que pudermos com a organização do povo, organização da sociedade, que tenha estruturas fortes sempre. E é isso o que procuramos fazer: criar associações, fundações, ajudar o pessoal a se organizar e ter o canal político, não partidário. Porque as associações não podem ter partido político, mas podem ter uma caminhada política, de cidadania. Procuramos fazer isso o tempo todo e deixar um legado importante”, pontua.

Congresso

O senador Flávio Arns atualmente é filiado ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), mesma sigla do vice-presidente Geraldo Alckmin, a quem considera “uma pessoa extraordinária: médico, professor, respeitoso, educado, inteligente e respeitado”. Essas características do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, na visão do senador, fazem com que ele transite bem e seja bem recebido nesses variados setores, muito em função de seu equilíbrio e ponderação.

“O Brasil está, infelizmente, muito dividido, polarizado. Ou se pensa desse jeito, ou pensa do outro. Tenho insistido, o tempo todo de que temos que dialogar, conversar. Fui presidente da Comissão de Educação no Senado. Na Comissão, estava o General [Hamilton] Mourão, por exemplo, que é senador e foi vice do Bolsonaro; Marcos Pontes, que foi ministro; Damares [Alves], foi ministra; Carlos Portinho, líder do PL e outros do PP. Fizemos dois anos de uma gestão sem um problema, sempre, quando havia alguma dúvida, convergindo para resultado. Ou seja, temos que tomar muito cuidado com o que falamos e fazemos”, avalia.

O parlamentar também analisa o “racha” que há no Congresso entre os que defendem anistia irrestrita e que pretendem entrar com pedido de impeachment contra o ministro do STF, Alexandre de Moraes, que ocasionou, nesta semana, um motim da Oposição, que tentou impedir a realização de sessões na Câmara, a fim de causar obstrução no Congresso. “Tem 29 pedidos de impeachment [no Senado; número agora já chega aos 41 signatários e forma maioria] contra o Alexandre de Moraes, mas tem contra outros também. Tem dezenas contra o Lula, como tínhamos dezenas contra o [Jair] Bolsonaro. Pedidos de impeachment são muitos na Câmara e no Senado, dependendo do assunto. O Senado é um ‘tribunal’ também, vai julgar o impeachment de um presidente, a cassação de um mandato. Quem coloca esses 200 pedidos em pauta ou não é o presidente da Câmara e o presidente do Senado. Já que vou ter que julgar, não posso, antes do momento em que isso se inicie dizer ‘eu quero que seja cassado’, ‘que tenha o impeachment do presidente’, do Alexandre de Moraes ou coisa semelhante. Quando isso for colocado em pauta, vamos nos debruçar, com ética, para o bem do Brasil. Está havendo excessos de todos os lados, inclusive, do Judiciário”, frisa.

Arns comenta que o Senado já aprovou uma proposta que dá fim à decisão monocrática no Judiciário, mas que a pauta não seguiu na Câmara. “Sou contra decisões monocráticas, tem que passar pela Turma ou pelo Plenário, dependendo do assunto, de acordo com o Regimento do Senado Federal. Agora, falam no fim do foro privilegiado: tem que ser debatido, mas nós já aprovamos isso no Senado Federal – foi uma emenda do Alvaro Dias – sete, oito anos atrás. E agora estão levantando essa situação da anistia: tem que ser debatida, entre outras coisas, a questão da dosimetria das penas”, opina.

O senador observa que a discussão em torno da anistia estava convergindo, com a concordância do Bolsonaro e dos bolsonaristas, para as pessoas envolvidas no 8 de janeiro, de modo a individualizar as penas. “Havia um clima para se discutir isso, porque não é algo que se discute de um dia para o outro, tem que organizar a discussão. Sou totalmente favorável à discussão das questões monocráticas, de repensarmos a dosimetria das penas, naquilo que aconteceu no dia 8 de janeiro. Não estou dizendo nem ‘sim’, nem ‘não’. Se alguém mata alguém, e a pessoa escolhida para integrar o júri, antes de integrá-lo, diz ‘eu sou a favor que seja condenado’, ela não vai participar do júri”, ilustra.

Tarifaço

“Acho o ‘fim da picada’. Essa divisão que acontece no Brasil é, infelizmente, uma divisão que acontece no mundo hoje em dia. Morei três anos nos Estados Unidos, lá atrás [transição dos anos 1970 para 1980], estudando, morando, já casado, com os filhos, foi um período muito bom. Inimaginável, naquela época, que fosse acontecer o que está acontecendo hoje, sob todos os pontos de vista, inclusive, econômico. Os Estados Unidos foram sempre os ‘pais’ da liberalidade, liberação econômica, entrosamento entre os países. Agora, é exatamente o contrário. Às vezes, fico até pensando se o [presidente Donald] Trump não percebeu que ele se vangloriou, outro dia, de que os Estados Unidos nunca arrecadou tanto. Se for por causa do imposto, é o americano que está pagando, não é o Brasil que paga o imposto: para você colocar o produto lá, ele lá tem que colocar 50%, 40%, 30%”, diz.

“Agora, são três remédios. Sigo a linha adotada pela condução da nossa negociação. Primeiro: tem que negociar. Segundo: nessa crise atual, pensar em como manter os empregos. A terceira coisa é ajudar a força produtiva nossa, as empresas. Isso tem que ser feito individualmente, porque o café é um problema, carne é outro, objetos pequenos, frutos, pescados. Tem que negociar junto: nada sobre nós sem nós”, resume.