Quarta-feira, 13 de Agosto de 2025

Primeiras estações meteorológicas em áreas de montanha serão instaladas no PR

2025-08-13 às 15:41
Foto: Simepar

O relevo irregular das áreas montanhosas faz com que o tempo mude mais rapidamente nestas regiões. Isso pode atrapalhar o planejamento dos montanhistas, dos turistas e colocar vidas em risco. Para ajudar na previsão e monitoramento do tempo nestas áreas, e consequentemente na tomada de decisão dos órgãos responsáveis, o Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental (Simepar) fará a instalação inédita de duas estações meteorológicas em áreas de montanha.

A primeira estação será instalada na próxima semana na base do Parque Estadual Pico Marumbi (PEPM). A visita técnica para estudar o melhor local para colocação das estações foi nesta terça-feira (12). Os estudos apontaram que o melhor local para implantação na base é próximo à estação de trem Marumbi. A segunda estação, no prazo de até 60 dias, será instalada no topo do Pico Olimpo, também conhecido como Pico Marumbi, o ponto mais alto do parque.

Elas são compostas pelos seguintes equipamentos: anemômetro (registra a velocidade e rajada do vento), pluviômetro (registra volumes de chuva), piranômetro (mede a radiação solar), termohigrômetro (sensor de temperatura e umidade) e barômetro (sensor de pressão).

“A ideia é compreender melhor como o clima especificamente nessa área se comporta. Principalmente a chuva, que é uma variável super importante para dar suporte para o pessoal que gerencia a área e também o pessoal que faz os resgates de possíveis turistas perdidos no local”, explica José Eduardo Gonçalves, gerente de Hidrologia e Infraestrutura do Simepar. São órgãos como o Instituto Água e Terra (IAT), Defesa Civil e Corpo de Bombeiros Militar, além do Cosmo (Corpo de Socorro em Montanha), organização civil formada por montanhistas e voluntários.

“As condições meteorológicas na serra são adversas. Sem os dados, sem o monitoramento, não é possível identificar a diferença. Por isso, a ideia é colocar um ponto de monitoramento a aproximadamente 1.500 metros de altura e um na base, que fica mais ou menos a 450 metros de altura em relação ao nível do mar”, detalha Gonçalves.

Os dados de todas as estações meteorológicas são atualizados a cada 15 minutos e disponibilizados gratuitamente para a população no site do Simepar. As informações das novas estações poderão auxiliar os montanhistas e visitantes no planejamento das trilhas, aumentando a segurança de todos.

Participaram do estudo para definição dos pontos de instalação destas estações e da visita técnica, além da equipe do Simepar, o chefe da unidade Gabriel Camargo Macedo, representantes do Instituto Água e Terra, e integrantes do Cosmo, com apoio da Assembleia Legislativa do Paraná.

“A ideia é, a cada 15 minutos, dar a informação do tempo para quem quer subir ou quem está descendo a montanha. É um Paraná sustentável que ama a natureza e faz com que esse local, escalado pela primeira vez em 1880, seja agora mais ainda visitado pelos brasileiros e por gente do mundo todo que vê na Mata Atlântica um tesouro inestimável da natureza”, ressalta Rafael Greca, secretário estadual de Desenvolvimento Sustentável.

Segurança

O Cosmo atua em primeira resposta nos atendimentos no Parque Estadual Pico Marumbi. Nos casos mais graves, o Corpo de Bombeiros é acionado. O grupo atendeu mais de 30 ocorrências entre 2022 e 2024 no PEPM – entre elas sete resgates graves. Entre as ocorrências, 31% foram no Olimpo e na Trilha Frontal. Segundo o grupo, preparo físico, hidratação e planejamento de horário evitariam 60% destes incidentes.

De acordo com os meteorologistas do Simepar, o tempo muda mais rapidamente em regiões montanhosas por conta do relevo irregular. Altura, vegetação e até mesmo a proximidade com o oceano, no caso do PEPM, impactam diretamente nestas alterações. Podem ocorrer repentinamente, por exemplo, ventos fortes e enxurradas, que colocam os montanhistas e visitantes em situação de risco.

Para o vice-coordenador do Cosmo, Lineu Filho, as questões climáticas são primordiais para uma visitação mais segura. Com clima úmido, as trilhas ficam mais perigosas, mais lisas. O frio aumenta a condição para hipotermia, porque a temperatura fica mais baixa quanto mais alto a pessoa está. Já no verão, com temperaturas muito altas, há uma condição de amplitude térmica muito grande entre as diferentes áreas da trilha.

“Por todos estes motivos o monitoramento das condições climáticas favorece porque com isso as pessoas podem optar por não ir se o tempo não estiver adequado, e também para pesquisa ao longo do tempo. Ter dados mais precisos sobre as condições climáticas no parque vai ajudar no manejo da visitação”, afirma Lineu.

O parque

O PEPM possui atualmente 8.745 hectares de área e configura uma Unidade de Conservação da Natureza de Proteção Integral, ou seja, é um parque instituído com objetivo principal de conservar a rica biodiversidade local.

Parte de seus limites faz divisa com outras unidades como a Área de Proteção Ambiental Estadual do Piraquara, Parque Estadual da Serra da Baitaca e Parque Estadual da Graciosa. O PEPM recebe cerca de 8,5 mil visitas ao ano, e julho é o mês que recebe o maior público.

Braço do montanhismo

O Conjunto do Marumbi é formado por diversos picos que superam os 1.000 metros de altitude e possui, por questões de segurança, acesso autorizado apenas nos quatro principais: Pico Olimpo (1.539 m), Gigante (1.487 m); Ponta do Tigre (1.400 m); Abrolhos (1.200 m); e Morro Rochedinho (625 m).

O nome originário do mais alto, batizado pelos índios, era “Guarumby”, que em tupi significa “Montanha Azul”. Hoje ele recebe o nome de Joaquim Carmeliano Olimpio, que alcançou em 21 de agosto de 1879, pela primeira vez, estes 1.539 metros de altitude.

Esta conquista marcou o início do montanhismo por esporte no país, e por isso a Montanha do Marumbi é considerada o Berço do Montanhismo no Brasil. Até a conquista do Pico Paraná na Serra do Ibitiraquire, na década de 1940, o Marumbi, hoje Olimpo, era considerado o ponto mais alto do Estado. Devido à inclinação, a trilha para o Olimpo é considerada mais difícil do que a do Pico Paraná, ainda que a altitude seja menor.

da AEN