Sábado, 27 de Julho de 2024

Parceria entre professores e gestores favorece boas práticas de avaliação

2022-08-24 às 09:21
Foto: Agência Brasil

As avaliações são fundamentais para o professor acompanhar o desenvolvimento dos estudantes e planejar os próximos passos e intervenções. Mas, se o docente puder contar com o apoio do coordenador pedagógico para isso, as possibilidades de ofertar um instrumento avaliativo de qualidade se ampliam. A partir de formações e reflexões conjuntas sobre avaliações internas e externas, é possível repensar o projeto pedagógico e aprimorar o processo de ensino e aprendizagem.

“O coordenador pedagógico tem um olhar à frente e para o todo, possibilidade que os professores, sozinhos, não têm”, afirma Joice Lamb, coordenadora pedagógica na EMEF Professora Adolfina J. M. Diefenthäler, em Novo Hamburgo (RS).

Para que essa parceria seja possível, a gestão escolar deve acompanhar os educadores cotidianamente. “É preciso assegurar na rotina um ambiente de formação, de apoio e de incentivo para os professores terem expectativas de aprendizagem [de seus alunos] bem definidas e analisarem os resultados das avaliações a partir disso. Se não, instaura-se um clima de perseguição, não de colaboração”, alerta Angela Luiz Lopes, coordenadora pedagógica da Comunidade Educativa Cedac.

Como fazer uma boa formação
A formação dos professores para trabalhar a partir de novas concepções de avaliação esbarra nas experiências iniciais que esses educadores tiveram enquanto estudantes e que agora transportam diretamente para as suas salas de aula. É isso que explica Cipriano Carlos Luckesi na obra Avaliação da aprendizagem: componente do ato pedagógico. Assim, se foram acostumados a ser avaliados praticamente apenas por provas somativas, recebendo uma nota só no final do processo, com um caráter punitivo e classificatório, é difícil que façam algo diferente com seus alunos.

Para provocar reflexões e construir mudanças, uma estratégia é tentar colocá-los na mesma situação dos estudantes e pedir, por exemplo, para os professores compartilharem com os gestores como se sentem ao receberem, ao final de processos, apenas feedbacks quantitativos, que pouco orientam e informam sobre sua aprendizagem.

Há outros caminhos, mas todos partem da identificação dos conhecimentos e experiências prévias da equipe docente. “É preciso começar as formações descobrindo o que o grupo de professores pensa sobre avaliação. E atuar na reflexão e na experimentação de como ela pode oferecer pistas sobre como os estudantes aprendem e o que eles já sabem, a fim de planejar em conjunto como continuar a partir desses resultados”, orienta Angela.

Também é importante que os educadores conheçam profundamente outras modalidades e instrumentos avaliativos, que contemplem uma diversidade de linguagens e de oportunidades para os estudantes demonstrarem seu desenvolvimento em múltiplas dimensões. “Um único instrumento e uma única forma de avaliar não dá conta da complexidade dos saberes de cada aluno”, ressalta Luciane Palma, coordenadora pedagógica da Secretaria Municipal de Educação de Campinas (SP) e pesquisadora doutoranda no Laboratório de Observação e Estudos Descritivos (LOED) da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Trocas entre docentes e coordenadores
Nas formações, vale incentivar as trocas de experiência entre professores: o que dá certo para um pode funcionar para outro. A coordenadora pedagógica Joice também lembra que há casos em que uma única avaliação não serve para todas as turmas, ainda que sejam os mesmos objetivos de aprendizagem e componentes curriculares. “O coordenador pedagógico pode auxiliar a identificar o perfil de cada turma e as melhores formas de avaliá-la.”

José Luiz Pastre, coordenador pedagógico na EMEFEI/EJA Dr. João Alves dos Santos, em Campinas, conta que promover trocas entre orientadores pedagógicos de diferentes unidades escolares também foi muito produtivo. Com isso, a equipe conseguiu transformar as tradicionais provas semestrais em uma avaliação temática construída pelos educadores de forma coletiva, que promove mais aprendizagens e permite torná-las mais visíveis, inclusive para os próprios estudantes. “É um direito deles saber o que está sendo avaliado, que pontos são importantes do que está sendo discutido em sala e onde precisam se desenvolver.”

Com os professores que acompanha, o coordenador preza por estabelecer descritores comuns de avaliação, o que facilita desenvolver o trabalho coletivo para atingir os objetivos do currículo – normalmente ligados às habilidades e seus respectivos objetivos de aprendizagem – e do Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola. Todos os professores são orientados, por exemplo, a observar se os estudantes conseguem se expressar de forma escrita. Eles também analisam juntos os próprios instrumentos de avaliação, o clima de convivência e as condições de trabalho, que impactam diretamente a qualidade da Educação.

Além de momentos formativos específicos, reuniões de planejamento e trocas cotidianas também podem ser ricas oportunidades de formação e de estreitamento da parceria. Rômulo Bezerra da Silva, coordenador pedagógico da EM Sarah Kubitschek, em Açailândia (MA), costuma analisar em detalhe com os professores as avaliações que eles prepararam antes de aplicá-las. Quando chegam os resultados, eles tentam identificar quais estratégias foram mais bem sucedidas e definem juntos os passos seguintes.

Esse olhar externo ajuda os professores a analisarem e entenderem quando há uma dificuldade geral da própria turma e o que fazer em relação a isso, identificando se é uma falha nas estratégias pedagógicas ou se são questões individuais de cada estudante. “O que o aluno vivencia fora da escola influencia no seu processo de aprendizagem, e muitos deles estão passando por dificuldades econômicas, insegurança alimentar etc. Tudo isso também precisa ser olhado a partir dos resultados das avaliações, porque a escola pode tentar ajudá-los”, diz Rômulo.

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