Quinta-feira, 04 de Julho de 2024

Projeto GGPEL: Por que educação financeira deve ser ensinada nas escolas?

2022-09-05 às 14:49

A vivência dentro de casa e as consequências da crise econômica causada pela pandemia de Covid-19 aproximou mais pessoas do tema educação financeira. “Elas se viram em situações indesejáveis e passaram a buscar formas de controlar as finanças”, notou Cláudio Miranda, docente da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FEA-RP/USP). Ele diz que essas dificuldades servem também como gancho para abordar a educação financeira com crianças e adolescentes. Atividades que deixaram de acontecer por conta do isolamento social se tornam bons exemplos para que os pequenos entendam que alguns gastos são supérfluos e podem ser contidos mesmo após o fim da pandemia.

Pouco trabalhada nas escolas e ainda um tabu em muitos lares brasileiros, a educação financeira tem grande importância na formação de cidadãos mais conscientes com o próprio dinheiro. Não é à toa que ela é um dos temas contemporâneos transversais da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). De acordo com especialistas, a educação financeira deve beneficiar, no presente, as famílias dos alunos que entram em contato com o assunto, mas também tem potencial para mudar o Brasil do futuro. “A criança ou jovem se torna um adulto melhor educado financeiramente, e sabendo gerenciar bem os seus recursos ele terá menos problema de endividamento, vai planejar seu consumo e poupar”, explica Luis Gustavo Mansur, Chefe do Departamento de Promoção da Cidadania Financeira do Banco Central.

Atualmente o Brasil tem 62,5 milhões de pessoas inadimplentes, segundo a Serasa (dados de maio de 2021), sendo que metade delas está com toda a renda comprometida por conta das dívidas. “Isso é péssimo para o país, mas, sobretudo, para promover a mobilidade social”, opina Claudia Forte, que foi superintendente da extinta Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF), e é uma defensora da educação financeira no ensino básico. “Seu impacto social é o desenvolvimento de uma nação financeiramente educada, consciente, autônoma no seu processo de decisão e menos endividada. A educação deve ser capaz de tirar crianças e adolescentes de um lugar de desfavorecimento e colocá-los em posição de competitividade para planejar seus sonhos e sua vida no longo prazo.”

A construção de uma consciência financeira nas escolas pode impactar de imediato a rotina das famílias, já que os estudantes costumam levar os conhecimentos adquiridos para dentro de casa. “Esse é um benefício colateral. Os ensinamentos transbordam para os seus pais, para a comunidade em que o aluno vive, gerando economia de água ou de energia, por exemplo”, comenta Mansur. Mas dinheiro é um assunto espinhoso dentro de muitos lares em nosso país. “A relação do brasileiro com o dinheiro não é muito boa, para nós é sempre um mito, é tratado entre os pais, não é discutido no domingo, as crianças não sabem e não tomam conta do orçamento doméstico”, ressalta Claudia. Segundo ela, o ensino nas escolas tende a normalizar esse tipo de conversa e transformar a relação com o dinheiro.

Como o tema chegou à Base

Antes da BNCC, a temática da educação financeira na educação básica brasileira não estava sistematizada de modo formal, explica Maria Luciana Nóbrega, coordenadora-geral de Gestão Estratégica da Educação Básica da Diretoria de Políticas e Diretrizes da Educação Básica do Ministério da Educação (MEC). Apesar disso, já vinha sendo discutida desde 2010, quando um decreto presidencial criou a Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF), inspirada no conceito de educação financeira definido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 2005.

Quem executava a ENEF era a Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF) que, entre 2012 e 2019, se esforçou para levar o tema para dentro das escolas, mesmo antes da BNCC. “A AEF foi pioneira em capacitar os professores da rede pública e em desvendar os caminhos para a formação em estados e municípios. Participamos da construção da BNCC, fundamentando as decisões tomadas no tocante à educação financeira, insistindo no tema e participando das audiências públicas”, relembra Claudia.

Hoje, a educação financeira está inserida na BNCC como um dos temas contemporâneos transversais, o que significa que o assunto deve ser abordado em diferentes componentes curriculares. “É possível identificar elos da Educação Financeira com todas as competências gerais da BNCC e também com as específicas”, explica Fernando Barnabé, professor de Matemática, integrante do Time de Autores e do Time de Formadores de NOVA ESCOLA, autor e editor de materiais didáticos. A Matemática Financeira é apenas uma parte da Educação Financeira, que o professor costuma reduzir a conceitos apresentados a partir do 5º ano, como desconto, acréscimo, cálculo de juros e porcentagem. Mas a Educação financeira envolve outros aspectos e habilidades. “O consumo e o planejamento abarcam questões econômicas e de Ciências da Natureza, a História entra quando nos questionamos por que a nossa moeda é o real e como chegamos nela”, continua Barnabé. Vale notar que o tema pode, inclusive, ser abordado com crianças que sequer compreendem operações matemáticas.

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