Com a pandemia, a interação e o relacionamento de bebês e crianças ficou restrita aos meios online. Nas escolas, os educadores sentem os reflexos disso em aspectos relacionados ao desenvolvimento da fala. Em artigo assinado pela professora Paula Sestari, do portal Nova Escola, você pode conhecer dicas para estimular a oralidade e a expressividade em cada faixa etária. Confira:
Bebês
Logo de cara, duas observações: eles são nascidos em um contexto ainda mais restrito no que se refere ao contato e interações para além dos genitores e responsáveis; e é grande a exposição às telas desde muito cedo – em condição passiva. O bebê ingressante na escola se vê, então, num ambiente de proporção assustadora para ele, no que se refere a espaço, sons e ruídos. São muitas informações novas para serem acessadas e compreendidas, por isso, é importante o olhar atento e cuidadoso do adulto.
Entre as atividades do cotidiano que contribuem para o desenvolvimento da oralidade, é muito importante o professor se expressar com amplitude de gestos e movimentos, e ter uma presença física marcante – ao mesmo tempo, é preciso acessar o vínculo físico com uma respiração tranquila e toques delicados nos momentos de acalanto, demonstrando que sua fala tem relação com o todo de seu corpo. Além disso, ao conversar, vale se colocar na altura e no campo de visão dos bebês; e ao cantar, empregar expressões faciais e palavras bem declaradas pronunciadas de maneira correta (sem o uso do diminutivo).
Ao analisar os objetivos do campo de experiência Escuta, fala, pensamento e imaginação, encontramos indicativos de propostas a serem desenvolvidas. Por exemplo: chamar o bebê pelo seu nome em todas as ações que se referem a ele; nas brincadeiras, mencionar os nomes dos colegas para que eles se reconheçam; e ainda trazer detalhes do cotidiano para conversas, ajudando-os a perceber suas características físicas e adereços como o sapato, o laço do cabelo, a cor do bico, os enfeites da bolsa, e os materiais expostos na sala. É interessante, também, utilizar-se de livros de histórias acompanhadas de ilustrações com frases curtas, marcando objetos e acontecimentos ao acentuar a pronúncia das palavras. Ocorrem aí os primeiros contatos com portadores textuais, e ao realizar a leitura, indica-se que aquele material contém uma mensagem.
Crianças bem pequenas
Nessa fase, como consequência da pandemia, temos um grupo maior de crianças inseridas mais tarde no ambiente escolar. Embora sintamos os efeitos do isolamento, o repertório de palavras dos pequenos literalmente explode. Eles trazem termos e expressões das suas vivências em casa, com capacidade de inseri-los em outros contextos de maneira perfeitamente adequada.
Para oportunizar a expansão dessa potencialidade, os espaços podem ser ainda mais convidativos, com brincadeiras em que eles interajam uns com os outros de modo a ampliar esse repertório em situações do cotidiano. É importante acolher suas ideias, sentimentos e opiniões, e nos mais diversos momentos, colocar as crianças como protagonistas ao expressar seus desejos, inclusive na resolução de conflitos mediada pelo educador – para que, assim, elas se utilizem do vocabulário para resolver as questões com gradativa independência.
Essa outra sequência de planos disponível aqui no site ajuda a pensar na organização dos momentos de livre escolha como possibilidade para o desenvolvimento da linguagem. Brincadeiras com rimas em cantigas e textos poéticos também são um excelente recurso, e trago como sugestão os versos do grupo Tiquequê.
Crianças pequenas
Talvez esse seja o grupo que mais sofreu os impactos de escolas fechadas e de aulas remotas, em termos de vazio que a quebra da rotina gerou, porque são os que saíram de um berçário e foram direto para uma pré-escola. Pensando nisso, uma das questões que considero fundamentais é o aprendizado da expressividade dos sentimentos e emoções.
Aprender a nomear o que se passa no corpo e na mente é talvez uma das habilidades mais necessárias para esse tempo em que a depressão infantil, doenças ligadas a ansiedade (como o sobrepeso) e situações como o abuso sexual infelizmente estão latentes na Educação Infantil. As rodas de conversa sobre temas do dia a dia, e as técnicas de respiração e propostas para extravasar a raiva, a angústia e o medo se tornam pertinentes nessa faixa etária. Outro ponto essencial é atrelar as competências emocionais ao desenvolvimento da própria fala, ou seja, consolidar a capacidade de expressar em palavras o que se vive internamente.
Seguindo nessa perspectiva, outra boa sugestão é estimular o perfil curioso e investigativo das crianças para desbravar o mundo das palavras. Uma dica é esse vídeo do grupo Palavra Cantada que incentiva a brincar com a formação de vocábulos a partir de frutas e suas respectivas árvores. Trazer essa obra numa proposta de pesquisa contribui para que os pequenos formulem ideias sobre a origem e derivações das palavras. A partir daí, de acordo com o interesse deles, dá para pesquisar a raiz de outros verbetes, seus sentidos e significados.