Por Camila Souza
Mesmo com a desarticulação de uma rede de tráfico de drogas da região central de Ponta Grossa, a Polícia Civil do Paraná (PCPR) não descarta que novos crimes possam ocorrer em decorrência do vazio deixado pela operação. A afirmação foi feita pelo delegado-chefe da 13ª Subdivisão Policial, Nagib Nassif Palma, em entrevista exclusiva à equipe de jornalismo do D’Ponta News nesta terça-feira (1).
A operação ‘Tolerância Zero’ que durou 45 dias e finalizou nesta terça-feira, foi coordenada de forma integrada entre a Polícia Civil (PCPR) e a Guarda Civil Municipal (GCM), e teve apoio essencial do sistema de câmeras da Muralha Digital, instaladas pela Prefeitura Municipal de Ponta Grossa. Ao todo, foram presas 23 pessoas e apreendidos 9 adolescentes por envolvimento direto com o tráfico de drogas. Também foram recolhidos mais de 85 quilos de entorpecentes.
Durante a entrevista, o delegado foi questionado sobre a possibilidade de retaliações e aumento da violência após a prisão do líder da organização. Nagib foi direto “Sempre nessas investigações pertinentes ao tráfico de drogas temos que trabalhar com essa variável também”. Ele explicou que, ao desarticular um grupo criminoso, abre-se espaço para ocupações do território por outras organizações. “Certamente abre um espaço para eventualmente outros traficantes ou outra organização ocupar. Ou ainda ocorrer mais crimes em função dessa sistemática, podendo inclusive ocorrer homicídios”, alerta.
Segundo o delegado, a maioria dos homicídios registrados em Ponta Grossa tem ligação direta ou indireta com o tráfico. Por isso, a polícia segue mapeando e monitorando possíveis substitutos dentro das estruturas criminosas. “Durante as investigações identificamos quais pessoas têm potencial de ocupar esse espaço e com isso ficamos sempre vigilantes”, explica.
Caso novos crimes ocorram em decorrência da operação, a polícia garante que já está preparada. “Nós já estamos trabalhando muito forte em prender o homicida e colocar ele atrás das grades para pagar pelos crimes”, afirma Nagib. Ele também destaca que, além dos executores, os mandantes dos homicídios estão sendo identificados e presos “Temos prendido também os mandantes. Identifica-se qual grupo está encomendando as mortes”.
O delegado ressalta a importância da vigilância permanente. “É um trabalho constante. Onde há usuário de droga, há traficantes. Enquanto existir o mercado, o consumo, haverá sempre um fornecedor. Tiramos um e vai aparecendo outros”, disse.
Para ele, o combate ao tráfico precisa ser complementado com ações educativas por parte da comunidade “Precisamos ficar cuidando dessa parte de repressão e de prevenção das polícias, assim como contar que a comunidade faça ações educativas que tentem evitar que as pessoas façam o uso da droga”, cita.
Nagib fez um alerta especialmente sobre o impacto do uso de entorpecentes, mesmo que esporádicos. “Usuário de droga, mesmo o recreativo, por trás da droga existe o crime de tráfico, crime de furto e roubo e existem os próprios homicídios. Existe sangue por trás da droga, sempre, de qualquer forma”, enfatiza.
A operação teve como foco áreas críticas da cidade como o Parque Ambiental, Calçadão, Rua Fernandes Pinheiro e arredores, locais com grande fluxo de pessoas e presença constante de traficantes e usuários. O delegado explicou que o estudo para a ação foi minucioso e desafiador “Atuamos mais no centro da cidade, um local mais complexo com muitas praças e vários prédios. É um local difícil de fazer apreensões em flagrante e prisões rápidas”.
Com o apoio da Muralha Digital, foi possível monitorar movimentações e identificar integrantes da rede criminosa. “Com calma planejamos, identificamos e utilizamos de vigilância e tecnologia através da Muralha Digital, por meio das câmeras que o município instalou”, destaca.
A integração entre Polícia Civil e Guarda Civil Municipal foi decisiva para o sucesso da ação. “Foi uma parceria muito intensa nesta operação fazendo essa vigilância, controle, coletando as provas, se utilizando desse sistema de câmeras públicas espalhadas pela cidade. Isso permitiu a identificação dos traficantes e usuários”, detalha o delegado. O trabalho identificou também o líder da associação criminosa, cuja prisão preventiva foi decretada e cumprida nesta terça-feira.
Durante os 45 dias da operação, as forças de segurança observaram uma redução significativa em furtos e roubos no centro da cidade. “Outro impacto importante que teve foi nos crimes patrimoniais. Os furtos e roubos e pequenos delitos do centro tiveram quedas substanciais nesse período”, aponta Nagib.
As prisões não ocorreram todas de uma vez. Ao longo do período, foram realizadas diversas ações, muitas com apoio do cão farejador Bolt, da Guarda Municipal, e da análise de imagens das câmeras. Adolescentes atuavam como ‘aviõezinhos’ e, em muitos casos, escondiam drogas na boca ou engoliam entorpecentes para evitar flagrantes.