Há quase 30 anos funcionando na Diocese de Ponta Grossa, a Pastoral Carcerária tem uma atividade missionária no cárcere e “naquilo que o circunda, sendo a presença da Igreja: aquela que somos e aquela que também representamos. Tudo isso acontece através da visita. Como Deus visitou o seu povo; como Jesus fez da visita uma de suas atividades missionárias, a pastoral visita para ir ao encontro de Cristo encarcerado” (Eu estava preso e vocês foram me visitar – Mateus 25). As palavras do padre João Bosco do Nascimento, articulador da pastoral no Regional Nordeste 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) definem bem a atuação da Pastoral, que vem sendo dinamizada na Diocese e atua no Presídio Hildebrando de Souza, na Penitenciária Estadual de Ponta Grossa e na Cadeia Pública de Castro.
Além das ações realizadas no decorrer do ano, nesta época de Natal, agentes da Pastoral Carcerária, acompanhados do bispo Dom Sergio Arthur Braschi, visitam o presídio para rezar com os detentos a Novena de Natal e realizar um almoço de confraternização. O almoço este ano foi na Penitenciária Estadual, no fim da manhã desta quinta-feira (14). Antes, O bispo, agentes da Pastoral, padre Mateus Mitsuo Taneguti, coordenador dos Arautos do Evangelho em Ponta Grossa, e o irmão Júnior Rafael, também dos Arautos, estiveram com os apenados do Hildebrando de Souza, rezando a novena. “Motivo de grande alegria ter essa ação pastoral”, enaltecia Dom Sergio.
Pela primeira vez, os funcionários do presídio, tanto concursados como terceirizados, também rezaram com Dom Sergio. Entre os presos, na galeria feminina, por exemplo, as 34 detentas participaram atentamente. Com o novenário em mãos, elas cantavam e repetiam todas as orações. “Se os nossos irmãos estão detidos, eles, muitas vezes, não têm essa ocasião de ouvir o Evangelho, de serem visitados, acompanhados… Já há muitos anos esse grupo se dedica a esse trabalho e, nessa época de Natal, temos esse momento importante de rezar com eles a novena e ter um almoço festivo com o pessoal que trabalha na Polícia Penal, no Hildebrando e na Penitenciária Estadual. Este ano, a novena se estendeu à equipe de trabalho pela primeira vez. Ocasião muito feliz ver que colaboradores também pararam para rezar. Deus abençoe a todos eles!”, comentou o bispo.
Para padre Mateus, que este ano passou a celebrar com os detentos uma vez por mês, é uma grande graça estar acompanhando a Pastoral. “Interessante notar o interesse, a atenção, a fé desses nossos irmãos que estão encarcerados e que participam das celebrações com amor, com alegria, fervor. Tem sido para mim motivo de alegria poder ver o desejo e a sede deles em poder ouvir a Palavra de Deus, buscar a Santa Missa, os sacramentos, a catequese”, afirmou o coordenador dos Arautos do Evangelho. Padre Mateus celebra mensalmente no presídio e na penitenciária. Em 2023, teve a ajuda dos padres Ademir da Guia e Glauco Camargo Pinto. “Vimos a movimentação no pátio, parece que adivinhamos que o senhor estaria conosco hoje. Deus abençoe a todos vocês!”, dizia emocionado um detento a Dom Sergio, hoje, por entre as grades da cela.
“O bispo Dom Sergio e sua equipe são parceiros importantes, que trazem para o ambiente prisional a evangelização por meio de acolhimento, caridade e amor ao próximo. São ações de muita relevância, que resgatam a conexão íntima entre a pessoa privada da liberdade e o Nosso Criador. Afora isso, resgata também neles a autoestima e vínculos afetivos, tornando, com certeza, o cumprimento de pena um pouco mais digno. Ainda nos auxilia muito na estabilidade na manutenção da disciplina”, avaliou o diretor do Presídio Hildebrando de Souza, Jean Carlos Fogaça.
Participaram do almoço na Penitenciária Estadual, a coordenadora diocesana da Pastoral Carcerária, Abegail Trebski, Acir Portela de Almeida Júnior, vice-diretor do Presídio Hildebrando de Souza; Elidio Carlos Curi de Macedo, secretário do Conselho de Segurança de Ponta Grossa; Nagib Nassif Palma, chefe da 13ª Subdivisão Policial; o tenente-coronel, José Guimarães Ferreira, comandante do 2º Grupamento de Bombeiros; Tânia Sviercoski, secretária municipal de Cidadania e Segurança Pública; o juiz Acir Hrycyna, da Vara de Execuções Penais, além de representantes do Centro Judiciário de Soluções de Conflitos e Cidadania, e, outras autoridades ligadas às forças de segurança pública. Os agentes da Pastoral ajudaram na cozinha.
Ação
Em 2023, as visitas ao Presídio Hildebrando de Souza iniciaram no dia 27 de fevereiro. Participam dez pessoas mais o padre. A unidade contava, na época, com 752 presos. Presídio de segurança máxima, o espaço possui a maior capacidade prisional da cidade. Foi inaugurada para a custódia de condenados masculinos. Tem capacidade para mil detentos. As visitas dos agentes pastorais acontecem todas às segundas-feiras, a partir das 13h30. Uma semana são visitados os homens, outra semana, as mulheres.
A Comunidade Missionários do Amor é responsável pelas visitas das segundas-feiras. Os integrantes cantam e fazem momentos de oração e partilha da Palavra. Também é feita visita aos detentos do regime semi-aberto, no setor onde funciona a fábrica de blocos. Leandro de Paula e outros agentes pastorais passam alguns momentos com os cerca de 200 condenados, aos sábados. Ex- detento, De Paula fundou a Comunidade Mãe do Bom Conselho, que dá oportunidade aos egressos de se integrar novamente à sociedade.
Elcio do Prado e a esposa Fernanda se integraram à Pastoral Carcerária este ano. Fernanda participa das visitas toda a semana. Elcio lembrou que, na abertura dos trabalhos pastorais deste ano, em fevereiro, 20 detentos – escolhidos pela direção – participaram da Santa Missa, presidida pelo padre Ademir da Guia dos Santos. Também acompanharam a coordenadora da Pastoral, Abegail Trebski, Leandro de Paula, Francisca Marinho, Elcio e Fernanda. “Estamos com nossos corações ardentes e com sede de evangelizar, pois sabemos o quanto é preciso levar a mensagem de ânimo e dizer que tem jeito e nem tudo está perdido”, afirmou Prado.
Castro
O Grupo de Evangelização Romeiros de Maria em conjunto com leigos das paróquias Sant’Ana, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e Nossa Senhora do Rosário, de Castro, supervisionados pelo padre Sandro Brandt, retomaram, em abril, uma bela iniciativa interrompida há 11 anos: a visita de missionários católicos à Cadeia Pública. O primeiro contato envolveu três integrantes do grupo, que rezaram, cantaram e meditaram a Palavra de Deus com 23 reeducandos. Eles não são obrigados. Participam se quiserem. Na galeria 600, onde esse encontro inicial foi realizado, estão 24 apenados. Uma vez por mês ou a cada 15 dias, padre Cristiano Marcos Rodrigues, da Paróquia Perpétuo Socorro, atende confissão na unidade.
A retomada das visitas foi planejada e teve o apoio incondicional do diretor da Cadeia Pública, Elerson Lima, que orientou que os encontros contem com apenas três missionários por vez. Os dez integrantes do grupo se revezam, quinzenalmente, sempre com a presença do coordenador do ‘Romeiros de Maria’, Marcos Jurandir Moreira. “O grupo de evangelização existe há mais de 30 anos. Sua missão é visitar lares, asilos, presídios…Aos poucos, (o grupo) foi criando mais estrutura e ganhando apoio dos padres, do bispo. Somos um grupo de leigos, com a ajuda de padres, que fazemos o trabalho de levar o Evangelho, (levar) um pouco de amor a tantas pessoas, que necessitam”, comentou o coordenador.
De acordo com padre Sandro Brandt, administrador paroquial da Paróquia Sant’Ana, um grupo de leigos da comunidade, vendo a necessidade de um trabalho evangelizador, da parte da Igreja Católica, assumiu a missão de ajudar a uma catequese de adultos junto a alguns detentos. “É um trabalho evangelizador e voluntário, uma bela iniciativa dos leigos da paróquia, que auxiliados pela Palavra de Deus, podem iluminar na reintegração dos detentos e reestruturação das integridades destas pessoas”, destacou o padre.
Para o diretor da cadeia, Elerson de Lima, o processo de ressocialização só tem início se o próprio reeducando mudar sua forma de pensar. “E não tem nada melhor para isso do que a Palavra de Deus. Alegria imensa em ter conseguido trazer uma equipe de orações da Igreja Católica para dentro da unidade. Estou à frente da cadeia há dois anos e meio e já conto com a participação da igreja evangélica. Isso é muito gratificante em minha vida. Me sinto muito bem por tudo que está acontecendo neste lugar. O trabalho realizado é de vital importância para a ressocialização”, garantiu o diretor.
da assessoria