Por: Amanda Martins
A gestação já era considerada de risco por ser gemelar. Quando a mãe das meninas precisou de atendimento, não havia vagas na cidade vizinha, e ela foi encaminhada ao Hospital Evangélico de Ponta Grossa. O local, que encerrou as atividades pouco depois de 2002, acumulava denúncias de erros e falta de funcionários.
Prematuras de seis meses e meio, Taynara e Tamiris precisaram ser transferidas para União da Vitória, onde passaram um mês na incubadora. Nesse período, Tamiris perdeu a visão. O diagnóstico foi de queima da retina, possivelmente causada por falhas em procedimentos de fototerapia ou ventilação. Uma cirurgia posterior ainda tentou preservar parte da visão, mas o resultado foi a cegueira total.
A notícia foi recebida com sofrimento pelos pais, que enfrentaram dificuldades para encontrar recursos de apoio. Apenas quando Tamiris tinha 14 anos, a família conseguiu contato mais estruturado com o Programa de Apoio à Pessoa com Deficiência (PADEF). Até então, os pais e uma professora se dedicaram à adaptação escolar, ensinando braile, métodos de cálculo e o uso da bengala.
A infância das irmãs foi marcada pela inclusão. Na escola, conviveram naturalmente com colegas que também tinham deficiências, como autismo e surdez. “Demorei a perceber que minha irmã era cega, porque minha mãe sempre nos criou de igual para igual”, recorda Taynara.
Na adolescência, a convivência se tornou mais desafiadora. A diferença nas possibilidades gerava conflitos, mas o contato de Tamiris com outras pessoas cegas fortaleceu sua autonomia.
Essa vivência despertou em Taynara a vocação para a saúde. Aos 16 anos, já estagiava na Secretaria de Saúde e, mais tarde, ingressou na faculdade de enfermagem. Hoje, é chefe de equipe no mesmo hospital em que deveria ter nascido. Atua na ala de cuidados paliativos, função que encara como um chamado.
Foto: Reprodução Instagram
“O erro que tirou a visão da minha irmã influencia diretamente no modo como eu trabalho. Sou muito comunicativa e cobro da minha equipe a prevenção de falhas. Pequenos descuidos podem ter consequências para uma vida inteira”, afirma.
Apesar das dificuldades da profissão, baixos salários, longas jornadas e desrespeito dentro dos hospitais, Taynara encara a enfermagem como forma de ressignificar a dor.
Enquanto isso, Tamiris trilhou outro caminho. Formada em Pedagogia, encontrou no esporte paralímpico um espaço de independência e superação. Hoje integra a Seleção Brasileira Juvenil de goalball e compete também nas provas de 100 e 200 metros.
Foto: Reprodução Instagram
Em 2009, aos nove anos, já havia revelado sua determinação ao vencer um concurso de redação com a frase: “Espero que quando eu crescer, o mundo que eu não vejo continue como eu imagino.”
Para Taynara, essa frase traduz a essência da irmã: “Nossa história, apesar da dor, se transformou em força. Toda ação, seja um procedimento ou uma palavra, pode marcar uma pessoa para sempre. A gente nunca pode esquecer que está lidando com vidas e com almas.”
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