Quarta-feira, 30 de Julho de 2025

Estudante de PG escreve livro sobre bullying e tem obra publicada com apoio do Nota Paraná

A personagem é uma adolescente, forte e confiante, que mesmo com afrontas de colegas reforça sua identidade com coragem e autoestima
2025-07-29 às 12:02
Foto: Arquivo pessoal / AEN

Nos últimos três anos, a mochila escolar de Melissa Kalva Palhano carregou mais do que livros didáticos. Na bagagem da estudante do Colégio Estadual Monteiro Lobato, de Ponta Grossa, havia também páginas escritas à mão, rabiscadas com ideias, personagens, gírias, dúvidas e força. Nascia ‘Uma tal de Gabriela’, primeiro livro de sua autoria, gestado na sala de aula de altas habilidades da escola.

Melissa, hoje com 14 anos, cursava à época o 6º ano do Ensino Fundamental e, três anos depois, Gabriela (protagonista da obra) ganhou as ruas da cidade, por meio de 5 mil exemplares impressos, distribuídos gratuitamente. O livro traz à tona, de forma leve e acessível, um tema profundo e necessário: o enfrentamento do bullying na adolescência.

A ideia surgiu durante as aulas do contraturno. Melissa, sempre apaixonada por leitura, lia livros como Diário de um Banana (do autor norte-americano Jeff Kinney) e Querido Diário Otário (de Jim Benton), mas sentia falta de personagens com os quais realmente se identificasse. “Eu percebia que os personagens eram legais, mas não falavam como eu, não pareciam viver como eu”, conta. Foi aí que decidiu escrever a própria história, com uma linguagem próxima dos adolescentes brasileiros e cheia de referências do cotidiano.

Com o incentivo do professor de Língua Portuguesa, Vilmar Rogoski e o apoio da família, a obra foi sendo construída aos poucos. “A Melissa sempre teve muita facilidade de escrever de forma natural. Diante dessa habilidade, começamos a estudar a possibilidade dela desenvolver esse livro”, conta o professor.

“Constatamos que os estudantes em geral gostavam muito do formato literário ‘diário’ e, depois, buscamos alguns alunos da escola para entender que assuntos eles consideravam importantes para serem abordados e que refletissem de forma fiel os conflitos da adolescência. Este foi o ponto de partida”, revela o professor.

A trajetória de Melissa é também uma história sobre o papel da escola pública. Desde o primeiro rascunho até a publicação, a rede estadual do Paraná foi essencial no acolhimento e na valorização do talento da estudante. “O apoio da escola e dos professores ajudou a me entender em muitas coisas. Foi fundamental para que esse sonho se tornasse realidade”, afirma a jovem escritora.

UMA TAL DE GABRIELA
Forte e confiante, Gabriela é aluna do 6° ano do Fundamental. Em seu diário, a personagem compartilha os conflitos que vive na escola, onde é alvo de bullying por um grupo de colegas. Diante das afrontas, ao invés de amuar-se, Gabriela reforça sua identidade com coragem e autoestima, reconhecendo seu valor e se recusando a ser definida pelos olhares alheios. Com uma narrativa leve e cheia de humor, a personagem constrói uma jornada de autoconhecimento, mostrando que é possível enfrentar situações difíceis sem revidar ou perder a alegria de ser quem se é.

“Ela é um pedacinho de todo mundo que eu conheço. Eu quis mostrar que, mesmo passando por situações difíceis, como o bullying, a gente pode encontrar força dentro da gente. A vida dela não gira em torno do que os outros dizem”, explica Melissa.

Durante dois anos, a jovem trabalhou na escrita do livro com o apoio do professor Vilmar, que revisava os textos e sugeria ajustes pontuais. “A escrita do material foi um processo leve e fácil para ela, porque diante da desenvoltura e da facilidade em escrever, o livro dispensou revisões e reescritas constantes. O que hoje chega às mãos dos leitores é praticamente o conteúdo original, imaginado e desenvolvido pela Melissa”, conta ele.

Além de escrever, Melissa também ilustrou a obra. Com as habilidades artísticas desenvolvidas na Academia Ponta-Grossense de Letras e Artes, instituição que frequenta desde os seis anos de idade, ela mesma desenvolveu os desenhos que compuseram a criação da capa e do projeto gráfico.

Depois de concluída, com incentivo do docente, o livro foi encaminhado ao projeto Pegaí Leitura Grátis, iniciativa filantrópica de incentivo à leitura, do município, que apoia autores amadores.

NOTA PARANÁ
Outra iniciativa importante que deu suporte direto à impressão do material foi o programa Nota Paraná, do Governo do Estado, desenvolvido pela Secretaria de Estado da Fazenda. Por meio dele, consumidores que não incluem o CPF nas notas fiscais podem destinar os créditos para instituições sociais. Foi assim que o livro de Melissa saiu do papel, literalmente.

Parte dos recursos arrecadados via Nota Paraná foi para o Instituto Pegaí Leitura Grátis e utilizada para custear a impressão dos exemplares. Hoje, o livro está disponível em 165 pontos de coleta do projeto Pegaí, em locais como universidades, mercados, terminais e espaços públicos. Não é preciso cadastro: qualquer pessoa pode pegar, ler e devolver.

“É um trabalho de anos. Ver isso se tornar real é inacreditável. Eu jamais imaginaria, aos 11 anos, que o meu livro chegaria às mãos de tantas pessoas. Espero que alcance muitas crianças e que elas se sintam representadas como eu queria me sentir quando lia”, diz Melissa.

SEGUNDO LIVRO
A jovem autora já está escrevendo um segundo livro, com a mesma linguagem leve e próxima dos adolescentes. “É como um diário, mas com um garotinho como protagonista. Ele vive a experiência de estar longe de casa. Eu adoraria seguir nesse caminho. Quem sabe até escrever um segundo volume da Gabriela?”, revela a jovem.

Para a mãe de Melissa, a emoção é dupla: de mãe e de educadora. “Ela não nasceu, ela estreou. Sempre tomou as rédeas das próprias ideias. Ler o livro dela me emocionou muito. É uma obra leve, que fala com os adolescentes de igual para igual. É o tipo de material que eu gostaria de ter tido acesso na minha juventude”, diz.

Agora, com a Gabriela circulando por Ponta Grossa e tocando leitores de todas as idades, Melissa segue fazendo aquilo que sempre fez: escrevendo. E inspirando.

PROJETO PEGAÍ LEITURA GRÁTIS
Iniciativa sem fins lucrativos, não governamental, criada em julho de 2013 em Ponta Grossa, nos Campos Gerais, o Instituto Pegaí Leitura Grátis, tem a missão de aproximar livros sem leitores de leitores sem livros.

O projeto foi idealizado pelo professor universitário Idomar Augusto Cerutti, com o objetivo de incentivar o hábito da leitura e é mantido por um grupo de voluntários apaixonados por leitura que acreditam que os livros não podem ficar guardados nas estantes, privados de serem lidos.

A proposta é receber a doação de livros e colocá-los à disposição de novos leitores em locais de acesso público.

As obras que chegam por meio de doação, são separadas e registradas pelos voluntários do Projeto, que carimbam, colocam etiquetas e classificam a faixa etária. Depois, os livros são disponibilizados em estantes, alocadas em pontos de circulação do público, onde a população pode emprestar. Não é necessário fazer cadastro, basta encontrar uma das estantes Pegaí, pegar o título, levar para casa, ler e devolver nos Pontos de Coleta quando terminar a leitura.

DOAÇÕES VIA NOTA PARANÁ
A iniciativa de doação de notas fiscais por meio do programa Nota Paraná tem se mostrado uma ferramenta poderosa de apoio ao terceiro setor no Estado. Desde 2015, o programa já repassou mais de R$ 468 milhões a cerca de 1.815 entidades sociais cadastradas, fortalecendo projetos que muitas vezes enfrentam escassez de recursos.

Quando o consumidor opta por não colocar o CPF na nota fiscal e direciona o documento a uma instituição, essa entidade passa a concorrer a créditos e sorteios promovidos pelo programa. A doação pode ser feita pelo site ou aplicativo do Nota Paraná, ou ainda por meio de urnas físicas disponibilizadas pelas próprias entidades. Segundo a coordenadora do programa, Marta Gambini, além de garantir recursos fundamentais, a iniciativa também contribui para o combate à sonegação fiscal e estimula a cidadania.

“É muito importante pedir a nota fiscal, com ou sem CPF. Quando o CPF não é inserido na nota, o consumidor tem a oportunidade de ajudar organizações sociais que atuam em diversas áreas, como educação, saúde, cultura e assistência, simplesmente destinando o documento fiscal a uma entidade cadastrada no programa Nota Paraná: uma atitude simples que transforma vidas e fortalece projetos em todo o Estado”, afirma.

As informações são da Agência Estadual de Notícias.