Sábado, 27 de Julho de 2024

“Finados é um dia de esperança para os que têm fé”, destaca bispo Dom Sergio

2023-11-03 às 08:18
Foto: AssCom Diocese de PG

“O dia de hoje é um dia de saudade, um dia que repassa, às vezes, um sentimento de tristeza, lembrando nossos falecidos, visitando cemitério, rezando a Santa Missa na igreja, mas deve ser também um dia renovar a esperança. Sabemos que aqueles que partiram também hão de ressuscitar, como nós também. De maneira que, um dia, estaremos com Cristo e participaremos de uma vida que não tem fim”, refletia o bispo Dom Sergio Arthur Braschi, ao fim da celebração desta quinta-feira (2) pela manhã, no Cemitério Parque Jardim Paraíso, em Ponta Grossa. Finados é um dia de esperança para os que têm fé, ressaltava. “Nós cristãos, católicos e evangélicos, que temos fé na ressurreição de Cristo e na promessa Dele que também nós vamos participar dessa ressurreição”.

Durante todo o dia de hoje, milhares de pessoas passaram pelo cemitério parque, que é administrado pela Diocese de Ponta Grossa. Gente que, além de visitar os túmulos dos falecidos, prestar sua homenagem com flores, também puderam fazer suas orações, acender velas no cruzeiro e participar da Santa Missa. Foram duas. Uma pela manhã, com Dom Sergio, e outra à tarde. Oito padres e diáconos acolheram os fiéis, conversando e atendendo confissões. “O encontro com o momento da morte, recordado no tempo de Finados, faz com que a gente também se posicione na vida. É importante fazer uma avaliação de como eu estou vivendo: se eu estou vivendo bem, ótimo! Pedindo a graça de Deus para a perseverança no propósito de viver bem. Se eu não estou, é o momento de se reconciliar com Deus e, essa reconciliação, na Igreja Católica, se faz através da confissão. É uma oportunidade de poder se encontrar com Deus, consigo mesmo. Muito importante esse Dia de Finados unido ao Sacramento da Penitência”, avaliava pare Mário Dwulatka.

Paulo César dos Santos, que frequenta a Paróquia Bom Jesus, veio ao cemitério e aproveitou para confessar. “É um momento de lembrar as pessoas que conviveram com a gente. Também lembrar da nossa fé na ressurreição. Por isso, essa oportunidade de se reconciliar, buscar novos caminhos, caminhar da maneira correta para que possamos alcançar essa graça de estarmos face a face com Jesus. Na confissão, podemos avaliar a nossa conduta, nossa caminhada. Muitas vezes, a gente, por conviver em um mundo turbulento e diferente, de tantas informações que a gente tem hoje, nos desgarramos e as coisas erradas passam a ser comuns na vida da gente. Esse é o momento de refletir se estamos fazendo boas escolhas na nossa caminhada”, explicou.

Ao lado do marido, Maria Elizete Coelho Vieira, contava que vem ao cemitério, toda segunda-feira, “render” orações pelos antepassados. “Hoje, é um dia especial, dia em que todos fazem orações e vem homenagear os integrantes das nossas famílias que já se foram e de quem sempre estamos lembrando. É uma forma de lembrar, guardar na memória, agradecer a vida que temos hoje, as coisas que passamos e que eles também passaram. Enquanto estivermos aqui precisamos fazer orações para que tenham um lugar melhor, o descanso eterno”, aconselhava a paroquiana da Imaculada Conceição, de Ponta Grossa.

O Cemitério Parque Jardim Paraíso ficou aberto das 7 às 18 horas. Estão sepultados no campo santo os padres Olímpio Júlio Sales Mourão, Estanislau Kapuscinski, Márcio Milek Marques, Alceu Maders, além de religiosas.

Luto

Ao final da celebração da manhã, a psicóloga Inês Grochowski, refletiu sobre o momento do luto durante a pandemia do Covid, quando, segundo ela, as pessoas viveram situações muito conflituosas e lutos muito difíceis de serem elaborados. Contou que o atendimento oferecido por ela, por intermédio da direção do cemitério parque, iniciou na época da pandemia e continua até hoje. “Porque nós e a equipe do cemitério entendemos que nesse momento que a pessoa perde alguém, ela tem o direito de chorar, de falar, a um grito de dor. Essa lágrima, esse grito, precisa de alguém que acolha, que escute, que reconheça, que esteja presente. Isso nem sempre é possível nas famílias ou com os amigos. Eu realizo esse trabalho de suporte para essas pessoas”, citou.

“Quando um luto começa na vida de uma pessoa? Quando a pessoa amada, significativa, vai embora definitivamente, quando não tem volta. Quando a pessoa enlutada se dá conta dessa perda, sofre muito. Se perde aquele olhar, aquela palavra, aquela vida construída junta. Entra como que num túnel escuro, um túnel onde só cabe ela mesma com a sua dor. Nada existe ali nem ninguém. Só existe dor e silêncio. Costumo dizer às pessoas que eu atendo que nesse túnel é preciso cavar uma porta de saída, construir um significado que não existe, mas que precisa ser construído por cada pessoa. Tem que se sair desse túnel. E a porta de saída só vai ser possível se a pessoa der passos em direção a ela. Uma porta difícil de ser aberta. A Psicologia ajuda a pessoa a abrir essa porta. A pessoa vai ter que experimentar a vida sem aquela pessoa amada”, ressaltou a psicóloga.

E quando o luto termina? “Quando nos damos conta que somos impotentes diante da morte. Que a morte vem e leva e pronto. Não existe idade, classe social, classe financeira. Vem quando tem que vir, é um mistério, não sabemos por que. O luto termina quando eu aceito que é assim, quando saio desse lugar de querer ser dono da verdade, porque não somos; quando saio do lugar de querer ser dono da pessoa, porque ninguém é dono de ninguém; quando eu aceito, eu acolho e quando eu descubro que existe uma maneira de ter essa pessoa, mesmo que não fisicamente, mas que eu consigo, pela experiência, saber que essa pessoa está dentro do meu coração, que não vai ser tirado por nada ou por ninguém. Um lugar onde ela não sente mais frio, ou dor. Não sofre. Para nós que acreditamos esse lugar também é o céu. Quando vemos que a perda, na verdade, não foi uma perda, nós conseguimos elaborar o nosso luto. Um adolescente que perdeu a avó me disse uma vez: ‘agora, eu entendi’. Às vezes, a gente não entende mesmo que a gente saiba. Precisa de uma compreensão no nível da experiência. Nós não só perdemos, mas também ganhamos. Quando nascemos, perdemos o bem-estar do útero, mas ganhamos o rosto de nossa mãe, de quem tanto esperou por nós. E assim é em diferentes momentos da nossa vida. Nós nos focamos nas perdas e não nos ganhos. Toda a perda é acompanhada de um ganho, assim como a morte é acompanhada da vida eterna. Assim como perdemos a pessoa fisicamente, mas ganhamos ela no céu”, enfatizou lindamente.

da assessoria