Partindo da reflexão do versículo bíblico, extraído de Mateus 14, 16: ‘Dai-lhes vós mesmos de comer!’, a Campanha da Fraternidade 2023, ‘Fraternidade e Fome’, busca fomentar ações, em todos os níveis, para minimizar os impactos desta realidade na vida do povo brasileiro. Na Diocese de Ponta Grossa a abertura da campanha aconteceu na manhã desta quarta-feira (22), com a participação do bispo Dom Sergio Arthur Braschi, padre Joel Nalepa, coordenador diocesano da Ação Evangelizadora; Márcia Simões, coordenadora diocesana da Campanha da Fraternidade, e da secretária municipal da Família e Desenvolvimento Social, Tatyane Denise Belo, que representou a prefeita Elizabeth Schmidt, além de padres, diáconos e representantes da Caritas Diocesana e Pastorais Sociais de diversas paróquias.
De acordo com a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, no Brasil mais de 33 milhões de pessoas estão em situação de fome. Depois de dez anos, o país voltou a aparecer no Mapa da Fome das Organizações das Nações Unidas (ONU). A emergência sobre o assunto fez com que, pela terceira vez, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) assumisse a realização de uma Campanha da Fraternidade que trouxesse luz ao tema. Um dos objetivos da Campanha é propor aos fieis um caminho de conversão para não ceder à cultura da indiferença frente ao sofrimento humano conforme pede o Papa Francisco.
Durante a cerimônia de abertura, Dom Sergio ressaltou que a Campanha da Fraternidade toma a palavra de Deus como luz para iluminar a questão da insegurança alimentar e da fome, que aumentou em diversos locais do mundo e também no Brasil. É preciso compreender melhor a situação brasileira e o que levou o país a voltar ao Mapa da Fome, orientou o bispo. “É preciso mudar de atitude. O tempo de Quaresma é tempo de conversão, de nós refletirmos como estamos vivendo e, diante da atitude de Jesus, mostrado no trecho bíblico tema da Campanha da Fraternidade, me pergunto se nós estamos tocados pela indiferença. A globalização da indiferença que cresceu muito com o isolamento da pandemia. Passamos ao largo de situações de carência e de fome, não nos aproximamos e tomamos atitudes de Deus, que é a proximidade na ternura e na misericórdia. Essa Campanha da Fraternidade nos convida a olhar, antes de tudo, para a atitude de Jesus: como ele agiu? Também nós devemos aprender a superar essa atitude de indiferença diante da situação grave por que passam tantas famílias e dar respostas concretas. Não é possível um cristão ir dormir tranquilamente sabendo que tantos vivem essa realidade de fome”, alertou o bispo.
Para o padre Joel Nalepa, a solidariedade e a partilha não podem ser demonstrados apenas em momentos extremos de sofrimento, em catástrofes ou guerra, mas devem estar sempre presentes como forma de promover a vida. “A Campanha da Fraternidade nos chama a viver a solidariedade e a sensibilidade de modo especial com aqueles que tem fome. É justamente preciso olhar para a ação evangelizadora que nos orienta, a partir de quatro grandes pilares: da Palavra, do Pão, da Caridade e da Missão. Pão e Caridade precisam caminhar juntos. Os quatro pilares precisam estar bem equilibrados e serem assumidos juntos para que a casa, que é a Igreja, as famílias, possam oferecer vida digna e assim fazer acontecer o plano de Deus. Aqui, um convite para que todos vivamos juntos a Campanha da Fraternidade neste tempo quaresmal, que nos remete à reflexão e mudança de vida”, destacou.
A coordenadora da Campanha da Fraternidade, Márcia Simões, lembrou que a Campanha vem convidar o cristão a deixar de lado o comodismo. A sair da condição de ‘anestesiados’ devido ao período que passamos em isolamento pela pandemia, e voltar o olhar para os irmãos e irmãs que passam pelo sofrimento da fome. “Sabemos que a falta de alimento no Brasil não é por falta de produção. Se produz muito, mas a distribuição do que é produzido precisa ser revista. A gente ouve muito que o difícil não é saciar a fome do pobre, mas, saciar a ganância daquele que tem muito. A Campanha da Fraternidade vem despertar na sociedade a empatia por aquele que tem menos, a solidariedade àquele que precisa de um prato de comida e volta o olhar àquele que está passando por um momento de dificuldade, mas que busca sair dessa situação, de ter como conquistar o seu alimento. Não é resolver o problema de forma momentânea, mas, no longo prazo; pensar em medidas que busquem melhorar a vida e fazer com que essas famílias deixem o Mapa da Pobreza”, apontou.
Ações
Entre os tantos passos já dados para o combate à fome na Diocese está o Projeto Social A mãe que Alimenta, desenvolvido pela Paróquia São Sebastião/Santuário Diocesano de Nossa Senhora Aparecida, em Ponta Grossa, que, distribui, todas as segundas-feiras, em média 700 refeições a moradores de rua e demais pessoas em estado de necessidade. Também a Caritas desenvolve inúmeras ações para atender as pessoas que tem necessidade, para que sejam atendidas e promovidas em sua dignidade. Um dos exemplos, citados por padre Joel, é o reaproveitamento do óleo de cozinha usado, coletado para não agredir o meio ambiente e transformado em sabão, que é vendido e cujos recursos são destinados para programas sociais.
“A Pastoral da Criança, a própria Caritas, cadastradas junto ao Programa Nota Paraná, se beneficiam da sensibilidade de pessoas e comerciantes, que colaboram, doando notas ou cupons sem o CPF e que ajudam as entidades a cuidarem de seus programas. São iniciativas que já existem e podem ser intensificados. Além do que, a iniciativa do Setor 4 da Diocese, que contratou, em uma experiência pioneira, uma profissional de Serviço Social para o acompanhamento de famílias carentes. (As paróquias precisam agir) Não só distribuindo alimentos, mas fazendo o acompanhando delas para que tenham condições de sair dessa situação”, enumerou o coordenador diocesano da Ação Evangelizadora.
Este ano, como gesto concreto da Campanha da Fraternidade, além da Coleta da Solidariedade no dia 2 de abril, será executada a Campanha Pão Nosso, iniciativa do Regional Sul 2 da CNBB e Caritas Paraná. Na ação, todas as paróquias estarão participando do mapeamento da fome no Paraná por intermédio do repasse de dados à Caritas, que centralizará também as arrecadações de recursos e de alimentos. “Através da Campanha Pão Nosso, que tem um formulário para preencher, a Caritas vai mapear (nas paróquias) as pessoas que estão em vulnerabilidade social e que são atendidas pela Igreja. Desta forma, vamos ver também o que a Igreja está fazendo por essas pessoas”, explicou a assistente social Érica Francine Clarindo.
Parcerias
A secretária municipal da Família e Desenvolvimento Social, Tatyane Denise Belo, adiantou que a prefeitura será uma das parceiras da Diocese no desenvolvimento da Campanha da Fraternidade este ano. “A porta de entrada da demanda são os centros de referência da assistência social. As situações de vulnerabilidade, inclusive de insegurança alimentar, chegam através dos CRAS. Poderemos ver, em conjunto, a demanda recebida, e ver quem podemos atender, junto com a Campanha. Seria uma forma de estar auxiliando no atendimento da demanda. Hoje, são vários os projetos que atendem (as famílias carentes), mas, às vezes, a família que procura é atendida no CRAS e na igreja. É a mesma. E aquelas famílias que precisam do serviço não são atendidas. É preciso cruzar essas informações e ir atrás de quem realmente precisa do alimento”, detalhou a secretária.
da assessoria