Em entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), nesta segunda-feira (13), o professor de geografia, Saulo Rosa, comentou sobre a importância desta data.
Saulo é formado pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e pós-graduado pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Ele acumula 20 anos de experiência nas mais diferentes áreas da Educação, Comunicação e Marketing, e Movimentos Sociais.
13 de Maio
O 13 de Maio celebra em nosso país o dia em que o trabalho escravo foi abolido, em 1888. A abolição foi concluída por meio da Lei Áurea, também conhecida como Lei nº 3.353. Essa lei foi assinada pela princesa Isabel, determinando que todos os escravos no Brasil se tornariam livres a partir da lei.
Saulo destaca que os homens e mulheres negros tiveram que passar por muitos processos para conquistar a garantia dos seus direitos no Brasil. Ele também pondera que o racismo estrutural ainda se faz presente dentro da sociedade. “Se você for fazer uma trajetória de leis que não deram certo voltadas para a população negra no país, você começará desde a Lei dos Sexagenários, que determinava que a partir do momento em que o negro completasse 60 anos de idade seria liberto”, afirma. “A maior parte da população negra do país está na parcela que menos ganha, então todos esses processos refletem até os dias de hoje na nossa sociedade”, acrescenta.
Ele recorda que ninguém completava 60 anos, no país, trabalhando até a exaustão e outras leis que surgiram também ainda eram insuficientes. “Depois veio a Lei do Ventre Livre, porém como que aquela criança [que nasceu livre] ia se alimentar através da amamentação se a sua mãe continuava morando na fazenda? A Lei de Terras no Brasil permaneceu até 1850 e quem eram essas pessoas que possuíam direito à terra no país?”, questiona. “Isso que eu não estou falando em relação ao culto religioso, educação e outros direitos básicos que essa população não tinha”, complementa.
O professor aponta que a Lei Áurea possuía apenas dois artigos abolindo a escravidão no Brasil. “Ela não citava se haveria um processo relacionado à moradia, escolarização e afins. Então não existiu um processo de inclusão do negro dentro da sociedade”, assegura.
Preconceito velado
Saulo pontua que o preconceito velado continuou existindo no Brasil e isso permanece até os dias de hoje. “Esse tipo de preconceito é pior, porque você não consegue identificar por que as coisas não andam e acaba gerando um ‘entrave’ em algumas situações. Eu vejo que eu me aproximei do movimento negro, após episódios que vivi em Curitiba, e isso é o que me fortalece, porque me traz o entendimento de coisas que eu vivi na adolescência e não tinha a consciência daquilo naquela época”, ressalta.
Ele comenta que quando se discute a distribuição de renda no Brasil, os brancos pobres do país também são impactados. “O negro e o branco pobre estão muito próximos, inclusive o branco pobre está mais próximo do negro do que do branco rico. Dentro das comunidades não existe essa separação que existe na sociedade externa, no caso das classes mais abastadas”, afirma.
Confira a entrevista completa: