O médico endocrinologista Gustavo Fernandes Pupo foi entrevistado nesta quinta-feira (12) pelo apresentador Eduardo Vaz no programa ‘Manhã Total’, da Rádio Lagoa Dourada (98.5 FM). Durante a conversa, o especialista explicou os métodos de tratamento para a obesidade, com destaque para as chamadas canetas emagrecedoras.
Segundo o médico, muitos pacientes já chegam ao consultório pedindo esse tipo de tratamento. “Grande parte dos pacientes que procuram consultório particular vem com essa mentalidade, uma vez que as canetas são remédios controlados e necessitam prescrição médica”, afirma. Ainda assim, ele lembra que existem outras opções. “A sibutramina, por exemplo, é um medicamento que pode ser usado”, cita.
As canetas, de acordo com o endocrinologista, foram originalmente desenvolvidas para tratar o diabetes tipo 2. Elas atuam em hormônios intestinais responsáveis pela saciedade e pelo controle da glicose. “Elas prometem uma perda de peso maior que pode ficar entre 20 e 25% de perda de peso em um tratamento a longo prazo”, diz.
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Entre os benefícios, o médico destaca melhorias em quadros de gordura no fígado, resistência insulínica e diabetes. “O benefício é grande porque melhora a resistência insulínica. Os pacientes pré-diabéticos ou diabéticos apresentam uma melhora nos níveis glicêmicos e isso ajuda a desinflamar o corpo do paciente”, detalha.
O tratamento é indicado para quem tem obesidade grau 1, com IMC acima de 30. “A gente sempre observa se o paciente é diabético, hipertenso e se tem resistência insulínica muito alta, cada tratamento é individualizado”, explica. O uso sem orientação médica, no entanto, pode trazer riscos. “Quando não precisava de receita, as pessoas aplicavam a dose errada e começavam a passar mal. Geralmente começamos aplicando com uma dose mais baixa e vamos aumentando gradativamente conforme o paciente vai tolerando a medicação”, revela.
Efeitos colaterais
Efeitos adversos como náusea e constipação são comuns. “Pacientes que não bebem água direito, comem pouca fibra e proteína, vão passar muito mal”, alerta. Há também casos de uso inadequado. “Já peguei prescrição de pacientes que estavam usando Ozempic de forma diária, sendo que a dose é semanal”, relata. “Não é aumentar a dose que vai fazer com que a pessoa emagreça”, afirma.
A interrupção do tratamento sem orientação também pode ser prejudicial. “Quando a gente considera tirar a medicação, vamos fazendo isso aos poucos para que a fome do paciente fique normalizada”, explica. Ele destaca ainda a importância de uma alimentação equilibrada. “Se você se alimenta somente com carboidratos, não come de 3 a 4 vezes no dia proteínas e não come fibra, você vai sentir fome o dia todo e isso influencia bastante”, revela.
Sobre os custos, o médico afirma que o preço é elevado. “A caneta de 1 ml do Ozempic que é a mais utilizada custa em torno de R$ 950. Às vezes dura dois meses e o tratamento já cai para R$ 450 ou R$ 500 por mês nas doses iniciais”. Já a versão com dose máxima de 2,4 mg custa quase R$ 2 mil. “É um investimento muito grande e às vezes recomendo para o paciente que busque outros métodos para investir como uma academia”, exemplifica.
O médico diz atender também pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) e que mesmo com valor elevado, os pacientes iniciam o tratamento. “Grande parte dos pacientes dão um jeito de comprar”, afirma.
Fabricado no Brasil
Uma novidade no mercado deve ser o lançamento, em agosto, de uma caneta fabricada por uma farmacêutica brasileira. Ela usará a liraglutida como princípio ativo. “Ela é da mesma classe de medicação e tende a ser mais acessível, em torno de R$ 600 a R$ 700 reais, aproximadamente, de acordo com informações iniciais que passaram”, diz o médico.
Pupo reforça que a medicação deve ser comprada apenas em farmácias e não de outros lugares de manipulação. “Você não sabe se aquilo é realmente é a medicação que você quer porque não foi fiscalizado e não foi feito teste”, alerta. Ele lembra também de casos de importações sem controle, com preços elevados e armazenamento inadequado.
Entre as orientações para pessoas com sobrepeso, o médico recomenda procurar um nutricionista. “Mesmo que você se exercite bastante mas ainda coma de forma exagerada, você vai continuar no mesmo peso e não sai do lugar”.
Por fim, ele destaca a importância de investigar outras causas da obesidade. “Há doenças que podem levar à obesidade como o hipertireoidismo e pessoas com apneia do sono. A má qualidade do sono faz a pessoa comer mais no dia a dia”, explica.
O médico finaliza ressaltando o papel da família no processo. “Muitas vezes uma pessoa da família começa a adotar um hábito de vida mais saudável e isso leva as outras pessoas da família a adotar esse novo estilo de vida mais saudável”, conclui.
Veja a entrevista na íntegra: