Quinta-feira, 22 de Maio de 2025

Ministério Melhor Viver transforma vidas de pessoas em situação de rua em Ponta Grossa

Com mais de 3 mil vidas alcançadas, Ministério Melhor Viver é referência no acolhimento de pessoas em situação de rua
2025-05-21 às 15:43
Edu Vaz/ D’Ponta News

O pastor João Eliseu Montes, administrador do Ministério Melhor Viver, esteve nesta quarta-feira (21) no programa ‘Manhã Total’, da Rádio Lagoa Dourada (98.5 FM), onde compartilhou a trajetória do trabalho que realiza há quase duas décadas. Escritor e palestrante, ele destacou a atuação do Ministério, que atende pessoas em situação de rua, em vulnerabilidade social e usuários de substâncias psicoativas.

Criado em 2005, o Ministério Melhor Viver nasceu de uma reflexão pessoal. João Eliseu entende que, se tivesse crescido sem uma base familiar sólida, poderia ter seguido por caminhos de risco. Ao mesmo tempo, reconheceu que pessoas vulneráveis talvez tivessem tido outro destino se tivessem tido um ambiente familiar estruturado.

O que começou como encontros de café entre amigos aos sábados, se transformou em um programa social estruturado. Onde o pastor e os demais decidiram convidar pessoas em situação de rua para partilhar a refeição. Com o tempo, o que era apenas uma ação pontual cresceu e se transformou em diversos projetos sociais contínuos.

“Crescemos muito mas o trabalho é voltado principalmente para as pessoas em situação de rua” contou o pastor. “Nossa estrutura cresceu muito na cidade e os planos vão crescendo também” completou.

Projetos sociais
De acordo com site do Ministério, atualmente a instituição conta com projetos como o ‘Dar as Mãos’ (abordagem social com meta de 200 atendimentos por mês), ‘Braços Abertos’ (serviço de convivência com 100 atendimentos diários), ‘Viver em Família’ (acolhimento institucional e em república) e a ‘Comunidade Terapêutica Melhor Viver’, com 24 vagas para crianças e adolescentes em vulnerabilidade relacionados ao uso de drogas. Além disso, desenvolve em parceria com a Vara da Infância o programa ‘OPUD’, com oficinas de prevenção ao uso de drogas.

O pastor pontuou que Ponta Grossa, devido ao entroncamento ferroviário, atrai pessoas de várias partes do Brasil. “Devido o entroncamento ferroviário da cidade, muitas pessoas estão aqui, do país todo” relatou. “Percebemos que muitas pessoas vêm do nordeste ou até mesmo de São Paulo para morar na região sul” acrescentou. No entanto, muitos não conseguem se estabilizar. “Quando chegam em Ponta Grossa, muitos não conseguem se estabilizar” destacou.

Segundo ele, a origem do problema geralmente está nas falhas da estrutura familiar. “Acredito que é um problema de deficiência na família. Lugares onde não tem princípios e valores, os jovens começam a ter experiências que os levam para a rua” afirmou. Para ele, a situação de rua está quase sempre ligada ao uso de drogas. “A pessoa em situação de rua é consequência do uso e abuso de substâncias psicoativas” disse.

“Se você for analisar, uma grande quantidade de pessoas que estão em situação de rua fazem uso de álcool e drogas. Aqueles que não fazem constantemente, em algum momento fizeram e ficaram com problemas psicológicos e transtornos como a esquizofrenia” destacou. “Nenhuma família consegue conviver por muito tempo com uma pessoa que está mergulhada no abuso das drogas. Isso porque a pessoa começa a furtar coisas e se tornar violento e colocar risco para as pessoas que moram na casa” completou.

Atualmente, o Ministério acolhe 90 pessoas, mas o número poderia ser maior se houvesse mais espaço. “Atualmente atendemos 90 pessoas mas se tivesse mais espaço, com certeza esse número seria maior, afinal, as praças estão cheias” revelou. “Tenho registro de 3 mil pessoas que já passaram por algum momento em nosso ministério desde quando começamos” relatou.

O acolhimento realizado pela equipe tem como base o modelo de comunidades terapêuticas, com resultados positivos. “O nosso trabalho tanto na comunidade com a área de saúde e com o acolhimento que é ligado à área social, usamos no acolhimento técnicas de comunidade terapêutica. Por isso temos um sucesso muito grande de pessoas que vão se recuperando” explicou.

Entre os 46 funcionários da instituição, 26 são ex-moradores de rua. “Desses, 26 eram moradores de rua que usavam crack, isso dá resultado” afirmou. “Tem um dos nossos acolhidos que conseguiu um trabalho e o mercado de trabalho está aberto para essa inserção” relatou o pastor.

Ele reforçou a importância do tempo de abstinência para a recuperação e estabilidade. “É muito importante que essa pessoa entenda os ciclos. Precisa ficar em abstinência por pelo menos 9 meses, que é o tempo que o organismo leva para eliminar os resquícios da substância” afirmou. “É necessário ser muito forte, qualquer situação adversa da vida pode ser um motivo que desencadeia uma recaída” alertou. “O drama é a recaída, essas pessoas precisam de apoio e serem colocadas no mercado de trabalho para que consigam se sustentar e viver de uma maneira mais digna” disse.

Outro ponto importante, segundo ele, é devolver à pessoa o senso de responsabilidade. “Um outro ponto muito forte e que abordamos muito bem o ministério é tornar a pessoa responsável. Porque a droga e a situação de rua tira do caráter da pessoa qualquer resquício de responsabilidade. Ela não quer tomar banho, não cria uma rotina e nem assume responsabilidades” relatou.

Mudança de hábitos
Sobre a atuação do poder público, João Eliseu acredita que o acolhimento é o primeiro passo. Também defende uma mudança na cultura da esmola. “Começa com o acolhimento, aquela pessoa precisa de ajuda. Se eu tivesse condições políticas eu estabeleceria uma campanha para informar as pessoas que elas não devem dar esmola para a pessoa em situação de rua” afirmou.

Ele explica que a esmola perpetua o ciclo de miséria. “Se queremos ajudar essa pessoa em situação de rua, devemos privar ela dessas esmolas para estimular essa pessoa a buscar ajuda em algum lugar que trabalhe a transformação deles. Contudo, para isso, também é necessário gerar espaço para manter essas pessoas” ponderou.

Trabalho árduo
Ele contou que a estrutura física da instituição foi conquistada com muito esforço. “Eu consegui esse espaço, construímos aproximadamente 2.500 metros quadrados. Foi um trabalho árduo com vendas de pizzas, catando cupom nas latas de lixo para inscrever no Nota Paraná, fazendo bazar, contando com ajuda de amigos e empresários e também destinando parte do dinheiro da igreja para a parte social” relatou.

Livros
Além do trabalho social, o pastor João Eliseu também é escritor. Ele é autor do livro ‘Teologia da Assistência Social’, que custa R$ 60 e está à venda na igreja. A obra aborda os princípios bíblicos no enfrentamento à pobreza e desigualdade social, narra a história do Ministério e traz testemunhos de transformação. O segundo livro, ‘Academia da Fé’, disponível na Amazon por R$ 40, é uma obra teológica que propõe seis práticas espirituais para fortalecer a fé e vencer os desafios da vida.

O Ministério Melhor Viver tem sua matriz na Rua Herculano de Freitas, 751, Jardim Carvalho, Ponta Grossa.  O telefone de contato é (42) 3223-9414.

Veja a entrevista completa: