Sem manifestar sintomas nas fases iniciais, o câncer de próstata é a segunda maior causa de morte por tumor em homens no Brasil. Ainda visto como um tabu, o exame de toque retal pode ser fundamental para o diagnóstico precoce da doença, aumentando as chances de cura
O câncer de próstata, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), é a segunda maior causa de tumores em homens no Brasil, ficando atrás apenas de tumores de pele não melanoma. Estima-se que, somente em 2020, cerca de 66 mil homens sejam diagnosticados com a doença. Desse total, mais de 15 mil serão vítimas fatais.
Na visão do médico urologista Carlos Heidi Koga, que atende em Ponta Grossa, o alto índice de mortalidade se deve a três principais fatores. “Primeiro, porque é um tumor de alta incidência. Algumas literaturas chegam a dizer que de 15% a 17% dos homens podem ter câncer de próstata durante a vida. A outra causa é por se tratar de um tumor assintomático [que não apresenta sintomas] na maior parte da sua evolução, principalmente na fase inicial. E, por fim, a terceira causa é que os homens, de um modo geral, não fazem os exames”, elenca.
Exames
Embora seja indicado como uma forma de diagnóstico precoce desse tipo de câncer, muitos homens, por medo ou preconceito, não fazem o exame de toque retal. Um estudo publicado em 2018 pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) revelou que 49% dos homens acima de 45 anos nunca fez o exame. “O protocolo, hoje, é bem claro. Todos os homens, a partir dessa idade, devem realizar, anualmente, o toque retal e o exame de PSA [Prostate-Specific Antigens, ou antígenos específicos da próstata em português]”, explica Koga.
O PSA consiste em um exame de sangue em que é avaliada a quantidade de biomarcadores presentes no organismo. Embora seja preferido por muitos homens, o urologista alerta para a sua baixa confiabilidade. “Existe um grupo de câncer de próstata que não vai alterar o nível de PSA. Então, muitas vezes, o paciente pode ter um PSA com índices dentro da normalidade e ter um tumor de próstata”, aponta.
O médico lembra que o exame de PSA deve ser complementar ao de toque retal. “O toque é extremamente importante, pois, junto com o PSA, aumenta a nossa triagem para diagnosticar o tumor na fase inicial e, assim, aumenta a possibilidade de cura”, completa.
Prevenção
Assim como ocorre na prevenção a outras doenças, hábitos de vida saudáveis, como boa alimentação, prática regular de exercícios físicos, e abstinência de álcool e tabaco, são recomendáveis para prevenir o câncer de próstata. No entanto, Koga ressalta que a melhor forma de prevenção ainda é fazer os exames necessários regularmente.
O urologista também alerta para o aspecto genético, que pode influenciar na incidência da doença. “Pacientes que têm histórico de câncer de próstata na família, principalmente parentes diretos, como pai e irmão, estatisticamente têm até três vezes mais chances de ter a doença”, explica. Para esses homens, diz ele, é recomendado começar a realização dos exames de prevenção aos 40 anos.
Sintomas
Koga lembra que o câncer de próstata pode ser uma doença silenciosa, pois dificilmente apresenta sintomas nos estágios iniciais. Já nos estágios mais avançados, os sintomas podem incluir dificuldade para urinar, demora em começar e em terminar de urinar, sangramento, diminuição do jato de urina e necessidade de urinar muitas vezes ao dia. “Alguns podem apresentar dor nas costas, quadril e coxas, pois o primeiro sítio da metástase do câncer de próstata é para a parte óssea”, acrescenta.
Tratamento
De acordo com o médico, o tratamento para o câncer de próstata depende da fase em que se encontra a doença. “A partir do diagnóstico, a gente parte para uma etapa chamada estagiamento, para tentar entender em que fase a doença está. Ele pode ser feito com alguns exames, como cintilografia e tomografia”, explica.
Para o câncer em fase inicial, o tratamento pode incluir cirurgias e radioterapias. “Em alguns casos, pode-se aplicar a vigilância ativa, em que é feito um acompanhamento do tumor”, acrescenta. Já para o câncer em estágio avançado, o tratamento é mais paliativo. “O que nós sabemos hoje é que o tumor de próstata é hormônio-dependente. Ele depende da testosterona para evoluir. Então, nesses casos, é feito um bloqueio hormonal, que seria a castração, seja ela química ou cirúrgica, para tentar reduzir a velocidade de crescimento desse tumor”, relata.
No entanto, Koga volta a reafirmar a necessidade da realização periódica dos exames preventivos. “O objetivo da prevenção do câncer de próstata nada mais é do que diagnosticar o câncer na fase inicial. Porque é exatamente nessa fase que nós temos um melhor resultado no tratamento, com alta possibilidade de cura”, conclui.
Por Camila Delgado | Foto: Divulgação