Terça-feira, 29 de Abril de 2025

“O que eu não pude fazer por ela, fiz por outra pessoa”, diz doador de medula em entrevista

O programa Manhã Total destacou a importância da doação de medula
2025-04-15 às 15:57
Eduardo Vaz/ D’Ponta News

O programa Manhã Total, da Rádio Lagoa Dourada FM (105.3), recebeu nesta terça-feira (15) a coordenadora do Hemonúcleo de Ponta Grossa, Fabíola Viol Tonon Alves, e Diego Berranteiro, doador de medula óssea. A doação de medula óssea é um ato de solidariedade que salva vidas, substituindo uma medula doente por outra saudável. É um tratamento indicado para pacientes com doenças de sangue, como leucemia, linfomas e alguns tipos de anemia.

Eduardo Vaz/ D’Ponta News

Durante a conversa, Fabíola explicou que a leucemia é um câncer que afeta a medula óssea, responsável pela produção das células sanguíneas. “O sangue é o responsável por distribuir o oxigênio e os nutrientes para o corpo. As células que fazem parte desse sangue são produzidas na medula óssea. Quando ocorre o câncer, a gente para de produzir essas células e isso ocasiona uma falência total”, explicou.

Segundo ela, “a medula óssea está no meio dos ossos e é responsável por produzir as células sanguíneas”. Já a medula espinhal, destacou, “é a que passa entre a coluna vertebral e faz a conexão dos nervos”. Com o avanço da medicina, é possível fazer o transplante da medula, salvando vidas. “Para o tratamento da leucemia, o transplante de medula óssea salva uma vida”, afirmou.

Eduardo Vaz/ D’Ponta News

Sinais e diagnóstico
A coordenadora também detalhou como ocorre a descoberta da doença. “Existem vários tipos de leucemia, mas a mais grave é a aguda. A pessoa está bem e do nada começa a sentir um cansaço excessivo, uma palidez, uma fraqueza e vai fazer um exame de sangue”, conta.

Nesses casos, o diagnóstico costuma gerar medo. “Quando vê, o diagnóstico é surpreendente e a família fica assustada. É uma corrida contra o tempo para saber se ela inicia um tratamento ou se vai fazer um transplante”, relatou Fabíola. A leucemia não escolhe idade. “Acomete crianças, jovens e adultos. Mas geralmente atinge os mais jovens”, acrescentou.

A história de Diego e o motivo da doação
Diego compartilhou sua história pessoal e o motivo que o levou a se tornar doador de medula. Há oito anos, sua enteada, de 10 anos, foi diagnosticada com leucemia após sentir muito cansaço e dores nas pernas. “Como ela estava tendo uma gincana na escola, naquela época, achamos que pudesse ser só uma maneira que ela estava achando para não participar”, lembrou.

Eduardo Vaz/ D’Ponta News

A situação evoluiu rapidamente. “Chegou a um ponto que ela não conseguia mais levantar porque estava com muita dor na perna. Levamos ela ao médico e o primeiro exame foi considerado errado, com isso foi solicitado um novo e esse segundo deu o mesmo resultado. A partir daí, encaminharam ela imediatamente para realizar quimioterapia no hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba”, fala.

Infelizmente, o tempo não foi suficiente para buscar um doador compatível. “Ela ficou um mês no hospital, mas evoluiu tão rápido que não deu tempo para fazer exame para doador e, infelizmente, ela veio a óbito”, lamenta. Diego decidiu se tornar doador. “O que eu não pude fazer por ela, eu fiz por outra pessoa”, declarou.

A doação de Diego
Ele realizou seu cadastro em 2018, durante uma campanha da igreja São José. “Ano passado me chamaram porque deu compatibilidade com uma pessoa”, contou. “Me chamaram no WhatsApp para comunicar sobre essa possível compatibilidade e pediram para que eu fosse até o hemonúcleo fazer os exames de sangue para verificar, em Curitiba, se de fato havia compatibilidade”, explicou.

Ao saber que o transplante havia sido realizado com sucesso, Diego disse ter vivido um dos momentos mais felizes de sua vida. “Quando fiquei sabendo que deu certo a compatibilidade, fiquei muito feliz. Foi uma das melhores coisas que aconteceram em minha vida”, relatou.

O procedimento de doação aconteceu em dezembro, em Porto Alegre (RS). “Fiz os exames lá durante uma semana, voltei para Ponta Grossa. Deu aproximadamente uns 10 dias e eu retornei para lá para fazer a extração”, revelou.

Segundo ele, o processo é simples. “A gente que é leigo tem medo, tem aquela ideia de que vão enfiar uma agulha na sua espinha e tirar o líquido. Mas é super tranquilo”, garantiu.
Ele explicou que a coleta é feita por cirurgia no osso da bacia. “Tomei uma anestesia local e não senti nada. Fiquei preocupado à toa, foram duas horas de cirurgia. De mim tiraram duas punções, uma de cada lado. Você não vê nada”, cita. “Fiquei um dia internado e já no outro dia recebi alta”, contou. Dez dias depois, foi informado que o paciente havia recebido bem o transplante.

Processo do transplante
Fabíola destacou que o transplante exige muito mais de quem recebe do que de quem doa. “Quem recebe o transplante passa por um processo mais cruel do que quem vai doar. A pessoa precisa ter uma condição de saúde mínima para que dê certo o transplante.”

Ela explicou que o receptor passa por uma quimioterapia intensa que “mata totalmente a medula dela” e a deixa sem nenhuma célula de defesa por ao menos 30 dias. Após o transplante, o organismo ainda leva mais 40 dias para começar a produzir as novas células. “A pessoa vive em uma bolha, não pode receber visitas e nem ter contato externo porque qualquer vírus ou gripe pode ser fatal”. A doação, por outro lado, é rápida e segura. “Já quem doa a medula, em sete dias já tem a vida normal porque o organismo já repõe as células porque você é uma pessoa saudável”, complementa.

Quem pode doar?
Fabíola explicou que a quantidade retirada depende do peso do paciente receptor. “Geralmente o máximo que eles retiram é cinco punções e é uma dor local, de injeção.”
Em casos mais graves, a medula pode não ser aceita pelo corpo do receptor, principalmente se a compatibilidade não for plena. “A compatibilidade existe, mas não é sempre que o paciente e o doador são cem por cento idênticos”, diz.

Ela também destacou que quanto mais jovem o doador, maiores as chances de sucesso. “Existe um estudo que diz que quanto mais jovem a medula do doador, mais resultados positivos tem.”

Desde 2018, a legislação brasileira determina que apenas pessoas com até 35 anos podem se cadastrar como doadores. Já a doação pode ser feita até os 59 anos. “Quando faz o cadastro, você entra em um banco de dados e se houver compatibilidade daqui 15 a 30 anos, você é comunicado e pode escolher se ainda quer doar.” Fabíola explica que pacientes que já tiveram câncer ou doenças contagiosas, como hepatite, não podem doar.

O papel do SUS
Diego ressaltou que todas as despesas do processo foram custeadas pelo SUS. “Desde o estacionamento no aeroporto até o combustível. Você decide como quer ir, se de avião ou carro próprio”, expõe.

Como doar medula
Para se cadastrar como doador, basta procurar o hemocentro mais próximo e apresentar um documento com foto para realizar um cadastro. Após esse momento, o interessado deve assinar um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). Com tudo devidamente preenchido, será retirada uma pequena quantidade de sangue para ser analisado em um laboratório. E por fim, outros procedimentos devem ser realizados para que de fato, a pessoa possa se tornar um doador de medula óssea.

Confira a entrevista na íntegra:

Por Camila Souza.