O ex-secretário adjunto de Gestão de Saúde e ex-diretor da 3ª Regional de Saúde, Robson Xavier, comentou sobre a Saúde nos Campos Gerais, em entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,3 para Ponta Grossa e região e 92,9 para Telêmaco Borba), nesta terça-feira (18).
SUS
O Sistema Único de Saúde (SUS) abrange tanto ações quanto os serviços de saúde. Ele engloba a atenção primária, média e alta complexidades, os serviços de urgência e emergência, a atenção hospitalar, as ações e serviços das vigilâncias epidemiológica, sanitária e ambiental e assistência farmacêutica.
“Ele é muito complexo, porque é constituído pelos diversos níveis de gestão, então nós temos o papel dos governos federal, estadual e municipal neste processo”, explica Robson. “Esses três entes têm responsabilidades com a organização, financiamento e elaboração de políticas”, acrescenta.
Ele destaca que durante as suas viagens, através do Ministério da Saúde, teve a oportunidade de visitar centenas de municípios e identificar as dificuldades que eles possuíam em relação à Saúde. “Eu visitei municípios principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste e pude observar as dificuldades que os gestores tinham nos mais diversos aspectos”, ressalta. “Elas passavam por financiamento, contratação de profissionais, estruturas inadequadas e afins. Então o SUS carece ainda de um adequado financiamento para que os gestores possam plenamente executar as políticas que são pensadas e formuladas”, complementa.
Realidade do município
Segundo Robson, a realidade da saúde no município não é diferente da que acontece em grande parte dos municípios do país. “Tive a oportunidade de trabalhar na gestão municipal, e nós tivemos muita dificuldade em relação à contratação de pessoal. O programa Mais Médicos para o Brasil, naquela ocasião, foi um alento para o município e conseguimos trazer 60 médicos para Ponta Grossa”, afirma.
Ele também pondera que após a saída desses médicos desarticulou o planejamento que vinha sendo seguido. “Com a saída desses médicos, que não foi culpa da gestão, houve uma total desarticulação daquilo que havia sido planejado desde 2013/14, em que foram contratados diversos profissionais de saúde [enfermeiros, técnicos e administrativos]. Inclusive foram construídas Unidades Básicas de Saúde, e algumas reformadas, para que nós pudéssemos atender a população”, aponta.
Xavier ressalta que a equipe da prefeita Elizabeth Schmidt, com o apoio político do deputado federal Aliel Machado, conseguiu junto ao Ministério da Saúde trazer 30 médicos para compor as equipes de Saúde da Família em Ponta Grossa. “O Município abriu uma contratação para mais de 35 médicos dentro das equipes de Saúde da Família também, e tem realizado, por intermédio do Consórcio, a contratação de serviços principalmente voltados aos exames e consultas especializados”, explica.
Resquícios da pandemia
Robson acha importante contextualizar que a pandemia deixou resquícios que ainda causam impacto ao setor da Saúde, apesar do bom trabalho desenvolvido no Paraná. “O secretário de Estado [da Saúde], Beto Preto, fez um excelente trabalho tentando articular com as diversas instituições para minimizar esses impactos”, destaca.
As principais dificuldades existem nos setores de especialidades, que as pessoas tiveram os seus tratamentos descontinuados, durante a pandemia. “Em todo o Brasil, existiu a necessidade de fechar os Ambulatórios de Especialidades, e as pessoas tiveram os seus tratamentos descontinuados, deixando de ir aos serviços de saúde e, hoje, os seus quadros estão agudizados”, ressalta.
Segundo Xavier, essa desarticulação pode resultar na demora no atendimento em algumas unidades. “Algumas pessoas com condições crônicas, como hipertensão ou diabetes, têm os quadros agudizados e vêm enfrentado muitas dificuldades, inclusive necessitando dos serviços de urgência e emergência. Então a gente observa que muitos casos que poderiam ser resolvidos na atenção básica, em virtude dessa consequente desarticulação, resultam na necessidade desses atendimentos. Em decorrência disso, pode acontecer de as equipes estarem focadas para atendimento de casos mais graves, resultando na dificuldade no atendimento das pessoas”, afirma.
Saúde nos Campos Gerais
Robson assegura que trabalhou com os municípios dos Campos Gerais, nos últimos quatro anos, e eles recebem escassos recursos do governo federal, tendo que realizar investimentos acima dos 15% previstos da Constituição, na área da Saúde.
“Se nós observarmos os escassos recursos que esses municípios recebem em contrapartida do governo federal, e somarmos aos investimentos que o Estado tem feito, percebemos que o trabalho está sendo realizado”, aponta. “Constitucionalmente, cada Município deve investir 15% do seu orçamento na Saúde, e nós temos alguns que estão investindo até 30% do seu orçamento. Isso acontece em virtude do subfinanciamento do sistema, em que os Municípios têm que fazer a sua parte para que a Saúde funcione na região”, finaliza.
Confira a entrevista completa: