REVISTA—Dizem que você só conhece o verdadeiro amor depois que vira mãe. Um amor tão puro e intenso que preenche e transborda. Ele chega sem avisar e, de repente, você não consegue mais imaginar como era a sua vida antes. Esse sentimento avassalador te faz colocar as necessidades e a felicidade daquele ser tão pequenininho e tão frágil em primeiro lugar, e a sua vida passa a girar em torno dele.
No final das contas, não importa se o seu filho cresceu dentro da sua barriga ou do seu coração, se ele tem necessidades especiais ou limitações, nem mesmo se ele não é humano. A única coisa que realmente importa é o amor que um sente pelo outro, porque são esses os laços que unem para sempre. Nesta matéria, você vai conhecer oito mulheres extraordinárias e as suas experiências com a maternidade.
De forma muito autêntica e sincera, elas revelam as delícias e os desafios de ser mãe, os valores e ensinamentos que tentam transmitir para os filhos e mostram que esse amor sem medidas é capaz de superar qualquer barreira.
Algumas mulheres se tornam mães de uma maneira muito especial. Foi o caso da contadora Janaína Miranda Pereira Vaz. Ela conta que o marido, Eduardo, sempre falava em adotar uma criança, mas que isso nunca tinha passado pela sua cabeça. Depois de algumas tentativas de engravidar, o assunto ressurgiu e o casal decidiu participar de um encontro do Grupo de Apoio às Adoções Necessárias (GAAN). “Foi muito emocionante ouvir o relato de outras pessoas que já tinham passado ou estavam passando pelo mesmo processo de aceitação e de optar pela adoção, e de pessoas que estavam com os seus filhos nos braços”, relata, acrescentando que imediatamente decidiu fazer todos os trâmites legais na Vara da Infância e da Juventude para entrar na fila da adoção.
Foi uma longa “gestação” de cinco anos, dois meses e 15 dias até que, durante uma viagem de férias no litoral, o casal foi surpreendido com a boa notícia. “A assistente social me ligou pedindo para marcar uma reunião apenas para atualizar o nosso cadastro, mas eu senti que tinha chegado a hora e nem dormi naquela noite. No dia seguinte, durante a reunião, ela contou que tinha um bebezinho de dois meses esperando por nós”, lembra.
Era uma sexta-feira à tarde e o casal voltou às pressas a Ponta Grossa para comprar as coisas que faltavam para receber a criança, que seria entregue na segunda-feira. “Até hoje, quando eu fecho os olhos, eu lembro da assistente social vindo com ele no colo e me entregando o Henrique. A primeira coisa que eu falei para ele foi: ‘Oi, filho, é a mamãe’. Foi um dos melhores dias da minha vida e, naquele momento, eu soube que a espera valeu a pena”, conta.
Hoje, o pequeno Henrique tem dois aninhos e é alegria do casal. “Eu nunca esqueço quando fomos a um aniversário e, no meio de tantas pessoas, ele procurou o meu olhar. Para mim, ser mãe é isso. É ser o porto seguro daquela criança”, afirma.
A família é a razão de viver da fisioterapeuta Arielle Hilgemberg Eurich. Ela é mãe da Isabelle (16), da Rafaelle (10), da Manuelle (8) e do Caio (7). Quando a Manu tinha apenas dois aninhos, a família estava passando as férias em Balsas, no Maranhão, e, num momento de distração, a menina caiu na piscina e se afogou. “Foi tudo muito rápido. Naquele momento, eu me ajoelhei, rezei e ela voltou”, relata, mencionando que o atendimento inicial foi muito difícil. “O hospital não tinha recursos e a cidade inteira se mobilizou. Um fazendeiro emprestou o jatinho e vários carros iluminaram a pista para o avião subir à noite. Foi um movimento de fé e de esperança da própria cidade conosco”, aponta.
Manu foi transferida para a cidade mais próxima, Imperatriz, onde passou 11 dias internada em coma profundo até que o seu quadro de saúde se estabilizasse e ela pudesse ser transferida novamente, desta vez para o Paraná.
Chegando a Curitiba, falaram para nós que a Manu não tinha mais vida e iriam desligar os aparelhos. Eu, como uma mãe muito teimosa, não aceitei e disse que a última palavra viria de Deus”, conta. Os dois primeiros exames constataram a morte cerebral, mas Arielle insistiu em repetir o procedimento. “Na hora, eu pedi que o Espírito Santo me iluminasse. Quando estavam fazendo o exame, uma pombinha branca pousou na janela do quarto da UTI, a Manu voltou a puxar o ar e reconectaram os aparelhos. Foi a ação do Espírito Santo na vida dela, e ali começou uma nova história para nós”, descreve.
Hoje, Manu vive em estado vegetativo e recebe cuidado constante de enfermeiros, além de outros profissionais de saúde, como fisioterapeutas e fonoaudiólogos. Mesmo com tantos desafios, o amor pela Manu é tão grande que as duas irmãs mais velhas sonham em seguir carreira na medicina, inspiradas nessa história de fé e superação.
A gravidez da subinspetora da Guarda Civil Municipal (GCM) Aline Dias não foi planejada, mas ela afirma que ser mãe do Rayan, hoje com sete anos, foi a melhor coisa que aconteceu na sua vida. “Eu me separei quando o meu filho tinha apenas sete meses. Desde então, ele se tornou a minha razão de viver. Hoje em dia, tudo o que faço é pensando nele”, afirma.
Ela conta que optou por trabalhar no horário da madrugada, das 23h às 7h, para poder acompanhar melhor as atividades do filho. “Por mais cansativo que seja, eu consigo almoçar com ele, levar para a escola, levar para o treino, levar para o parque, ensinar a andar de bicicleta sem rodinha. Podem ser coisas pequenas, mas não tem alegria maior para quem é mãe”, garante.
Além da rotina puxada e das poucas horas de sono, um dos maiores desafios para Aline é se expor aos perigos na rua. “Nós nunca sabemos o que pode acontecer, e o maior medo é de acontecer algo conosco e o nosso filho ficar desamparado. É pedir proteção divina ao sair e agradecer ao voltar bem para casa”, confessa, mencionando que usa situações do trabalho para ensinar o filho. “Às vezes mostro para ele entender o que não é legal fazer. Converso com ele, explico as coisas ruins do mundo, o que pode e o que não pode”, aponta, destacando que Rayan sente muito orgulho da profissão da mãe. “Ele fala que vai ser policial quando crescer, e eu peço para ele pensar em outra coisa, algo que não seja tão perigoso”, brinca.
Aline garante que toda dificuldade e todo sono atrasado valem a pena. “Eu me privo de fazer algumas coisas por pensar nele, mas não me arrependo, porque foi uma escolha que eu fiz. O tempo passa tão rápido e quero aproveitar todos os momentos para amar e cuidar dele”, frisa.
Para a artesã Eliane Richards, a maternidade veio cheia de desafios e superações. Aos 24 anos, ela ficou viúva e com um filho pequeno nos braços. “Hoje o Daniel tem 33 anos, mas, quando o pai dele morreu, ele tinha apenas um ano e oito meses. E eu sempre quis ter um segundo filho, porque eu passei a primeira infância do Daniel cuidando do pai dele, que estava com câncer na época”, lembra.
A realização desse sonho veio em 2005, quando ela adotou o Bruno, atualmente com 21 anos. “Eu cuidei dele desde os quatro meses e já sabia que ele tinha problemas de saúde devido à microcefalia. À medida que ele foi crescendo, o comportamento social foi se tornando um problema”, relata, destacando que foram nove anos de incertezas até receber o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA). “O Bruno me fez viver intensamente a maternidade. Minha maior alegria é ver ele e o Daniel crescendo, evoluindo e sendo homens de bem”, salienta.
Uma das principais atividades que Eliane e Bruno mais gostam de fazer juntos é caminhar no Lago de Olarias, e foi justamente num desses passeios que o jovem ficou comovido ao ver uma capivara sozinha. “Ele ficou com muito dó do animal e queria fazer alguma coisa para ajudar. Então eu sugeri que ele fizesse alguns desenhos para levarmos para a capivara”, lembra.
Bruno desenhou o animal na Vila Velha, no Buraco do Padre, na Cachoeira da Mariquinha, na Catedral e em outros lugares famosos de Ponta Grossa. Nasceu ali o projeto Capivaratípica (@capivaratipica), que hoje estampa camisetas, canecas, chaveiros, bichinhos de pelúcia e outros itens vendidos em feiras da cidade, levando uma mensagem de empatia e respeito nas escolas municipais.
Em 2020, a vida da influenciadora Angel Penteado deu uma reviravolta com a chegada do pequeno Vicente Miguel. A gravidez do Vimi, como ele é carinhosamente chamado, não foi planejada, e Angel foi a única responsável por toda a sua criação. “Quando me vi sozinha e com um bebê nos braços, o sentimento foi de desespero. A maternidade já é desafiadora, mas, quando você é mãe solo, sem apoio emocional ou financeiro, parece que o peso do mundo cai sobre você”, admite.
Foi aí que a influenciadora percebeu que poderia transformar essa dor em força e ajudar outras mulheres a não se sentirem tão sozinhas. Ela começou a compartilhar a sua vivência nas redes sociais, sem romantizar a maternidade, e a resposta foi enorme: muitas mães começaram a se identificar e a se sentir acolhidas. “Entendi que a minha história, mesmo com todas as dores, podia ser um farol para outras mulheres. Hoje, o meu maior propósito é mostrar que ser mãe solo não é sinônimo de fraqueza, é sinônimo de coragem”, enfatiza.
Angel aponta que um dos maiores desafios da maternidade, principalmente sendo mãe solo, é o acúmulo de responsabilidades. “É você por você mesma, sem ter com quem dividir as decisões, as contas, o cuidado diário. Outro desafio é lidar com a culpa, a sensação de que nunca está fazendo o suficiente, mesmo dando tudo de si”, relata.
Entretanto, ela garante que tudo é recompensado vendo o Vimi crescer saudável, com brilho nos olhos e cheio de personalidade. “Ele representa a luz depois de um tempo muito escuro, a esperança que eu nem sabia que ainda existia em mim. Através da nossa história, eu encontrei um propósito: ajudar outras mulheres a também se libertarem, se reconstruírem e acreditarem que é possível recomeçar”, destaca.
Aos 44 anos, a dona de casa Tereza Antunes ficou viúva, e esse vazio foi preenchido com a presença dos netos Daniel e Diogo, que moram com ela desde pequenos. “Dois meses depois da morte do meu marido, a minha filha mais velha se separou e decidiu voltar a estudar e trabalhar. Eu trouxe os meninos para a minha casa quando eles tinham apenas um e dois aninhos. Fiquei cuidando deles e eles nunca mais foram morar com a mãe”, relata.
Tereza conta que nunca pensou que voltaria a desempenhar o papel de mãe e que a tarefa foi desafiadora. “O maior desafio foi dar conta de tudo: da casa, dos meus três filhos e dos dois netos pequenos”, detalha ela, que na época também era responsável pela criação de um rapaz de 15 anos e de uma garota de 18. “Outra grande preocupação era financeira, mas nada faltou para eles nem para ninguém em nossa casa”, afirma.
A “mãe avó” menciona que não se arrepende de nada e que a convivência sempre foi muito prazerosa. “Aprecio as conversas que tenho com eles, a troca de ideias, os sentimentos que compartilhamos. Ser mãe e ser avó é pedir a Deus para viver mais para aproveitar cada momento com eles”, explica.
Hoje, Daniel e Diogo têm 28 e 27 anos, respectivamente, e são os grandes companheiros de Tereza. “A minha maior alegria é ter a companhia deles e ver que eles se tornaram homens valorosos, responsáveis e amigos. Eles representam companheirismo, pois preencheram a minha vida e ocuparam um lugar no meu coração”, afirma.
A farmacêutica Thayane Olstan Scheffer conta que nunca quis ter filhos, mas sempre foi apaixonada por animais. Hoje, ela divide a rotina com três gatinhos e não esconde o orgulho de ser mãe de pet. A Tadinha chegou em 2019, resgatada da casa de uma acumuladora de animais. No ano seguinte, ela ganhou a companhia do Noah, vindo de uma página de adoção. Em 2022, o amor falou mais alto e Thayane adotou o Cabeça, depois de ter contribuído com um tratamento de saúde de que ele precisava.
“Eles vêm para a minha casa e eu já começo a dar boa vida para eles, como se fossem verdadeiros filhos”, conta, acrescentando que é nos momentos de dificuldade que ela entende que os gatos são muito mais do que apenas pets. “Você percebe que eles são da família quando está triste ou com dor e o seu gatinho deita perto, coloca a patinha em você ou dorme junto. Eles são muito mais companheiros do que a maioria das pessoas”, afirma, destacando que várias vezes já se pegou fazendo coisas pelos gatos que jamais faria por um ser humano. “Eu não deixo faltar os supérfluos deles, como sachês, brinquedos e cobertinha especial, e também divido o sono com eles, coisa que com humanos não dá muito certo”, brinca.
Assim como uma boa mãe, Thayane finge não se importar quando os gatos não respeitam algumas regras da casa. “Eles já arranharam as cortinas novas e fizeram um buraco no sofá, além de terem estragado as cadeiras da sala”, enumera, aos risos. No final das contas, o que a Tadinha, o Noah e o Cabeça representam é aconchego. “Deitar com eles no sofá assistindo a uma série é o meu momento preferido do dia”, afirma.
Valentina chegou na vida da consultora de imagem e estilo Melanie Ogrodoviski quando tinha apenas quatro anos e imediatamente conquistou o coração da “mãedrasta”. “Desde o início, eu fiz questão de ser participativa em todos os momentos especiais da vida dela, como o primeiro dente caindo, aprender a andar de bicicleta, aprender a ler, a primeira decepção com amizades, sempre incentivando e sendo apoio em tudo que ela estava vivendo”, relata Melanie.
Hoje, Valentina está com dez anos e as duas têm uma relação muito próxima. “Embora ela passe o final de semana com a mãe e a irmã a cada quinze dias, a nossa rotina diária é sempre juntas. Eu valorizo todo e qualquer momento em que possamos criar conexões e eu possa oferecer ensinamentos que ela vá levar e lembrar para toda a vida”, afirma.
Melanie observa que a maior alegria de ser madrasta é ter ganhado uma melhor amiga para a vida inteira. “A Valentina tem sido um presente para mim. Ela foi uma luz na minha vida no momento que eu precisava ter algo para dar sentido aos meus dias e, desde então, é o meu motivo para continuar. Eu poderia passar um dia inteiro só falando sobre como ela é brilhante, engraçada, inteligente, carinhosa e única”, derrete-se.
A consultora de imagem destaca ainda que foi justamente a presença da Valentina que a fez considerar a possibilidade de ter filhos biológicos. “Pretendo que isso aconteça depois que ela já estiver com os seus 15 anos, pois até lá eu sei que ela ainda vai precisar muito de mim. Como eu me considero nova, sei que um bebê pode esperar e, se um dia decidirmos ter filhos, tudo vai se encaixar para a sua chegada”, conclui, mostrando que, mais do que os laços de sangue, o que une é o amor.
Texto publicado originalmente na edição 307 da Revista D’Ponta