Sexta-feira, 25 de Abril de 2025

Parceria entre UEPG e Deppen possibilita redução de pena para pessoas privadas de liberdade

2025-04-25 às 08:57
Foto: Jéssica Natal

Enquanto as mãos costuram, a mente está no futuro. As pessoas privadas de liberdade da Cadeia Pública Hildebrando de Souza têm no artesanato a chance de mudar de vida. Por meio de uma parceria com a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e o Departamento de Polícia Penal do Paraná (Deppen), a unidade ensina um novo ofício, por meio da produção de amigurumis.

A técnica é de origem japonesa e se utiliza de pontos do tricô ou crochê para a produção dos bonecos. Na Hildebrando, vários personagens saem das mãos deles: ursinhos, bailarinas, personagens da cultura pop e o Galileu, mascote da UEPG lançado em 2023. Uma das pessoas privadas de liberdade trabalha na produção de amigurumis há mais ou menos um ano. Segundo ele, um boneco inteiro do Galileu fica pronto rápido, entre um a dois dias. “Aprendi aqui mesmo com com outros que já produziam antes de mim, vamos aprendendo e ensinando os outros”. Não tem segredo para aprender, basta pegar o modelo da matriz do boneco e seguir o passo a passo no crochê. Mas como Galileu não tem molde específico, eles aprenderam “no olho”, conta. “Depois que o primeiro foi feito, a gente só vai replicando”. E sobre a oportunidade de aprender uma nova atividade, ele responde: “estamos gostando muito da oportunidade aqui, e mais pra frente isso vai ajudar bastante na nossa rotina lá fora”.

O professor Rauli Gross, chefe de gabinete da Reitoria da UEPG, é quem intermedia essa e outras parcerias entre UEPG, Deppen e Cadeia Pública Hildebrando de Souza. Dentre elas, o Projeto Novo Ciclo, que produz absorventes para as mulheres privadas de liberdade, e o Núcleo de Atendimento às Pessoas com Monitoração Eletrônica (Nupem), ao qual a produção dos amigurumis está vinculada. A atividade chegou ao Hildebrando com custeio do Conselho da Comunidade. “Vimos que eles estavam fazendo muito bem os amigurumis, inclusive alguns deles entregando para os familiares venderem e fazerem renda com isso”. Em 2023, com a chegada do Galileu na UEPG, surgiu a oportunidade. “Pensei, por que não casar nosso projeto Nupem com esse? Aí começamos a implementar no ano passado”.

O combate à ociosidade carcerária é um dos principais objetivos do trabalho realizado na unidade, segundo Rauli. “Não é somente para ocupar tempo deles, mas também exercitar a criatividade e a autoestima, porque muitas vezes a pessoa não acredita que é capaz de fazer um artesanato tão bonito como esses, então eles mesmos ficam alegres ao verem o resultado. Isso é motivador para todos”.

De início, o desinteresse fez com que ele aprendesse devagar sobre o artesanato. “Mas depois peguei o gosto, acabei aprendendo e agora ajuda muito a me distrair aqui dentro”, conta outra pessoa privada de liberdade que confecciona os amigurumis. Além da saúde mental, os benefícios se estendem na remissão da pena: a cada três dias trabalhados, um deles é diminuído da condenação inicial. Quando bate a saudade da família, estar na sala de aula da Hildebrando para costurar ajuda aplacar a angústia. “Sofremos um grande preconceito por sermos presidiários. Eu já estava fazendo a faculdade lá fora [antes de ser preso], e estar aqui aprendendo algo me ensina a não querer bater na mesma tecla do passado, para não cometer algum erro semelhante”, acentua.

Para diretor regional da Polícia Penal em Ponta Grossa, William Ribas, a UEPG é uma grande parceira de projetos. “As pessoas privadas de verdade do sexo masculino desenvolveram a receita e produziram os modelos do Galileu no formato dos amigurumis, e essa atividade faz com que eles retornem para a sociedade de uma forma diferente”. Com a costura, a iniciativa também ensina a importância do trabalho, segundo William. “Isso mostra que a pessoa privada de liberdade pode desenvolver algo para contribuir para a sociedade”.

da UEPG