Quinta-feira, 05 de Junho de 2025

Ponta Grossa apresenta queda de 64,3% nos homicídios

2025-06-03 às 16:41
Edu Vaz/ D’Ponta News

Ponta Grossa vive um momento de queda nos índices de homicídios. Em entrevista nesta terça-feira (3) ao programa ‘Manhã Total’, da Rádio Lagoa Dourada (98.5 FM), o delegado do Setor de Homicídios da 13ª Subdivisão Policial da Polícia Civil do Paraná, Luís Gustavo Timossi, detalhou os avanços alcançados na área da segurança pública. Segundo ele, o primeiro semestre de 2024 registrou 42 homicídios, enquanto, no mesmo período deste ano, foram 15. A redução, afirma, é resultado direto de ações integradas de inteligência, prisões e operações. “O homicídio reduz quando há prisões de homicidas”, afirma o delegado.

Grande parte dessa queda é atribuída pelo delegado à Operação Daybreak, conduzida no fim de 2024 com apoio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), da Polícia Militar do Paraná (PMPR) e da Guarda Civil Municipal (GCM). A investigação, que partiu do Setor de Homicídios da Polícia Civil, revelou a existência de uma milícia privada ligada a uma organização criminosa. O grupo atuava em Ponta Grossa e em outros estados e foi responsável por pelo menos 21 homicídios consumados e outros seis tentados desde janeiro de 2023.

Conforme a investigação, o mandante acompanhava os crimes em tempo real enquanto estava preso na Casa de Custódia de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Após a operação, o chefe do grupo foi isolado em presídio federal, o que impediu que continuasse a coordenar assassinatos. Outros integrantes foram presos e adolescentes envolvidos nas execuções foram apreendidos. “Isso com certeza colaborou para a redução do número de mortos. Tanto que nesse primeiro período deste ano, a característica das mortes da cidade mudou bastante”, afirma Timossi.

O trabalho das forças de segurança foi reconhecido como a ‘Melhor Investigação e Operação Policial do Estado do Paraná em 2024’, além de ter rendido à 13ª SDP o ‘Selo de Eficiência na Gestão’.

Criminalidade em Ponta Grossa
A criminalidade em Ponta Grossa, segundo Timossi, tem uma definição bem marcada. “Considerando o ano passado, aproximadamente 80% dos crimes de Ponta Grossa tiveram relação com o tráfico de drogas”, afirma. Ele relata que, embora a situação tenha melhorado, ainda há ocorrências ligadas ao tráfico, principalmente envolvendo usuários ou disputas entre grupos criminosos. “Essas pessoas que acabam se envolvendo com o tráfico, às vezes vão morrer porque o outro traficante quer tomar a área. Ou morre porque está com dívidas de drogas ou coisas do tipo. São bandidos matando bandidos”, expõe.

Uma das vilas citadas durante a entrevista foi a Chapada, onde, segundo o delegado, facções disputavam pontos de venda de entorpecentes. “Estavam morrendo diversas pessoas ali porque a facção criminosa estava tentando dominar um ponto e, infelizmente, identificamos pessoas inocentes que acabaram perdendo a vida”, lamenta.

O trabalho investigativo da Polícia
O trabalho do setor, de acordo com o delegado, é amplo e complexo. Ele ressalta a dificuldade não em identificar os autores, mas em provar. “Muitas vezes chegam informações por parte da população ou de informantes sobre autorias de crimes. Mas mais importante do que sabermos é conseguir provar, e para isso partimos de vários métodos de investigação”, conta.

Um caso citado por ele envolveu o feminicidio de uma psicóloga que residia em Ivaí. A investigação partiu da análise de uma tampinha de garrafa, que indicou a presença de DNA de um suspeito. “Comprovamos que ele estava no local com base no DNA. No fim ele acabou confessando que auxiliou o marido da vítima no crime, segurando a criança de três anos que viu a mãe ser assassinada brutalmente, jogaram ácido nela”. Para o delegado, esse tipo de apuração minuciosa é essencial. “O DNA, digitais e outras técnicas são usadas e ajudam na solução de crimes”, conclui.

Essa capacidade investigativa é ampliada pelo ambiente colaborativo na cidade. “Aqui em Ponta Grossa acontece algo que não é tão comum vermos em outras cidades do estado, que é a integração maior entre as forças de segurança”. O delegado destaca o trabalho conjunto entre Polícia Civil, Polícia Militar, Guarda Municipal e Polícia Penal como um dos diferenciais da cidade.

De assistente administrativo a Delegado
Durante a entrevista, o delegado também falou sobre sua trajetória pessoal. Nascido na zona leste de São Paulo (SP), no bairro Vila Matilde, estudou parte da vida em escola pública. “Minha família não tem muitas posses, estudei um período da minha vida em escola pública”, relata. Aos 19 anos, trabalhava como office boy em um sindicato no bairro Liberdade e foi promovido a assistente administrativo. “Eu me olhei naquela situação e pensei que não queria fazer carreira ali”. A partir dessa decisão, iniciou o curso de Direito, surpreendendo a família que esperava que ele seguisse na área de tecnologia.

Com apoio financeiro do padrinho advogado, começou a estagiar na Procuradoria da Fazenda Nacional e depois no Ministério Público Federal, onde nasceu o desejo de ser delegado. “Após muitos anos eu tenho consciência que foi por conta do estudo que cheguei onde estou, além de auxílios que tive dos meus tios que me auxiliaram muito”, relembra.

Timossi conta que começou a estudar para concursos ainda no quarto ano da faculdade, conciliando cursinho de manhã, estágio à tarde e faculdade à noite. Prestou o concurso da Polícia Civil do Paraná assim que se formou e foi aprovado. “Deu tudo certo e estou aqui hoje”, disse.

Luís assumiu o cargo em 2016, sendo inicialmente lotado em Altônia (PR), onde coordenou uma operação que desarticulou uma organização criminosa com atuação no Paraná e em São Paulo. Em seguida, trabalhou em Bela Vista do Paraíso, depois em Imbituva e Ipiranga. Em 2023, foi chamado para Ponta Grossa. “Com a saída do delegado Fernando Mauricio Jasinski para o Gaeco, o Dr. Nagib me direcionou para o setor de homicídios”, informa.

Trabalho diário
Timossi também falou sobre o dia a dia das abordagens policiais. “Tem situações que por natureza já são tensas, como o cumprimento do mandado de prisão ou realização de abordagens”. Segundo ele, o uso da arma é sempre o último recurso. “Se for necessário usamos da força ou uso de arma, mas em último recurso. A arma é um instrumento que é dado aos policiais para ser utilizado em casos de necessidade”, pontua. O delegado contou que nunca esteve envolvido em confrontos armados, mas reconhece que podem ocorrer. “São situações que muitas vezes são inevitáveis e que deve se fazer o uso de arma”, diz.

Por fim, destacou a postura da atual gestão da Polícia Civil em promover a transparência com a população. “Temos que prestar conta do nosso trabalho para a população e por isso é importante esse contato com a mídia que sempre mostra os trabalhos realizados em prol da segurança pública”. Ele cita o Delegado-chefe da 13ª Subdivisão Policial, Nagib Nassif Palma como exemplo. “Ele é sempre bem integrado com a comunidade e sempre repassa bastante para a equipe de delegados sobre a importância de atender a mídia e levar a mensagem para a população do que está sendo feito pela polícia”, conclui.

Confira a entrevista na íntegra:


Por Camila Souza.