Algo muito presente e notável pela população ponta-grossense é a presença de vento na cidade. Durante o ano inteiro, pode-se notar que Ponta Grossa venta muito.
A redação do portal D’Ponta News conversou com a professora de geografia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Dra. Karin Linete Hornes, para entender quais são os principais tipos de vento e quais fenômenos eles podem causar na cidade.
– Em Ponta Grossa, quais são as ocorrências relacionadas ao vento que mais geram danos?
Conforme o relatório da Coordenadoria Estadual da Defesa Civil, no período de 1981 a 2024 Ponta Grossa apresentou 189 ocorrências de desastres naturais. As principais ocorrências são: 75 referentes a vendavais, 39 a transportes de produtos perigosos, 25 a alagamentos, oito a tempestades de granizo e sete a deslizamentos. Somando os vendavais à chuva de granizo, que sempre estão associados, há um total de 83 ocorrências relacionadas a vendavais.
As ocorrências relacionadas a vendavais estão associadas ao deslocamento de frente frias, aos sistemas convectivos de mesoescala (SCM) e à atuação de ciclones no litoral, que podem interferir na dinâmica dos ventos do continente. Estes ventos podem estar relacionados ao deslocamento destas linhas de instabilidade como também a fenômenos como tornados e downburst (micro e macro explosões).
Você pode conferir todas as ocorrências relacionadas ao vento na cidade, através do site da Coordenadoria Estadual da Defesa Civil.
– Existem tornados que causam algum dano em Ponta Grossa, que acontecem com certa frequência?
Sim, nós estamos na segunda área mais propícia a tornados no mundo. Ponta Grossa já vivenciou diversas atuações tornádicas e o nosso grupo de estudos já catalogou várias rotas. Tivemos uma atuação em 2010 que atingiu as proximidades do distrito industrial; outra no ano de 2016, relatada no trabalho da Karina Estaski, que atingiu o bairro Contorno, levantando inclusive brevemente um veículo; uma em 2015, relata no trabalho dos acadêmicos, Thiago Mej, Ingrid Zambilo, Edson Roque e Jaqueline Estivallet, que atingiu o Jardim Amália; outra neste ano agora, em 2024, relatada no trabalho dos acadêmicos, Maria Piotrovski, Rodrigo Gabre, Kaun Kubaski, Thiago Mej, Carlos Psibioviski, Walter Soltes Filho e Jaqueline Estivallet, que atingiu a Fazenda Escola Capão da Onça da UEPG.
Em 24 de outubro de 1927, houve um dos mais devastadores tornados que Ponta Grossa já teve. O mesmo foi chamado de ‘a maldição do São João Maria’ e está registrado no trabalho do meu orientando Rodrigo Gabre. Este tornado causou tantos danos ao município que houve a necessidade de auxílio externo. Ele foi o primeiro tornado a ser reportado internacionalmente e mais de 300 casas foram totalmente destruídas. A cruz vermelha montou um hospital de campanha, pois haviam dezenas de feridos e desabrigados, e ao menos quatro pessoas foram vitimadas com este tornado que estimamos ter a classificação de um EF3, com 218 a 266 km por hora.
– Quais são os ventos mais constantes na cidade?
A direção de ventos predominantes em Ponta Grossa é NE, mas quando há entradas de frentes frias a direção dos ventos pode vir de outro quadrante, no caso SW.
– Ponta Grossa é uma das cidades que mais venta no estado?
Segundo estudos realizados pela academia, as cidades que registram os ventos mais rápidos do Paraná são Cascavel e Toledo. Estudos, realizados em 2009, apontam que os dados de velocidade média dos ventos indicam um bom potencial eólico nos municípios de Cascavel, Ponta Grossa e Clevelândia, colocando a nossa cidade na segunda colocação em média de ventos.
– Quais são as condições geográficas que interferem para Ponta Grossa ser uma das cidades que mais ventam no Paraná?
As condições de relevo interferem na dinâmica dos ventos. Áreas altas tendem a ter fenômenos de barlavento e sotavento que interferem na velocidade dos ventos. Fora isso é necessário entender a complexidade atmosférica, pois o Sul do Brasil sofre constantemente com a entrada de frentes frias e complexos convectivos, que são os principais causadores de tempestades severas, sem contar a atuação de ciclones no litoral, que potencializam os efeitos do vento.
Geograficamente falando, estamos em uma área muito propícia a estes tipos de fenômeno. Neste sentido é imprescindível se planejar para resistir aos fortes ventos. Todo ponta-grossense deve pensar no ‘meu telhado, minha vida’, pois os dados já demonstram quais são os desastres mais comuns no município.
