A espera por atendimento nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Ponta Grossa assim como a espera por um leito continuam sendo uma das principais reclamações da população. As queixas foram reforçadas por relatos de seguidores durante a live do D’Ponta News, realizada na última terça-feira (3), durante a cobertura da inauguração da nova unidade em Uvaranas.
Entre os comentários, destacaram-se denúncias de familiares de pacientes que relataram que o ente em estado grave estava há mais de 48 horas aguardando por um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Essas manifestações evidenciam a insatisfação da população e levantam questionamentos sobre a capacidade das UPAs, dinâmica de atendimento e o preparo dos colaboradores para gerir a situação.
Diante das dúvidas, a equipe de jornalismo do D’Ponta News entrevistou o assessor de comunicação das Unidades de Pronto Atendimento de Ponta Grossa, Fagner Lopes, com o objetivo de entender como funciona o fluxo de atendimento nas UPAs, quais são os critérios utilizados na triagem dos pacientes e quais fatores influenciam na demora por uma vaga hospitalar, especialmente em casos de maior gravidade.
Segundo o assessor, o fluxo de atendimento é definido por critérios técnicos e não pela ordem de chegada. “Tudo é por conta da gravidade e o paciente mais grave tem prioridade”, explica. Segundo ele, o sistema funciona baseado em uma classificação de risco que segue protocolos do Ministério da Saúde.
“Por exemplo, quem está com dor de cabeça pode aguardar um tempo maior de atendimento. Por outro lado, quando tem uma pessoa infartando ela precisa ser atendida de forma imediata porque ela tem um risco de morte iminente. Todo o nosso trabalho é baseado no risco do paciente. Esse fluxo não é definido pela UPA, mas sim pelo Ministério da Saúde e em qualquer UPA do Brasil é dessa forma”, afirma.
Funcionalidade e o tempo de espera para cada caso
O atendimento começa ainda na pré-triagem, onde técnicos de enfermagem verificam os sinais vitais dos pacientes. Caso não haja sinais de emergência, o paciente é direcionado para a recepção para abertura da ficha.
Depois, é feita a classificação de risco por um enfermeiro. Casos vermelhos (muito graves) são atendidos imediatamente. Os amarelos (urgentes) devem ser atendidos em até uma hora. Já os casos verdes e azuis, considerados leves ou não urgentes, podem aguardar até quatro horas ou serem direcionados a uma Unidade Básica de Saúde (UBS).
“Se não for um caso grave, como uma gripe sem muitas complicações, que procurem as UBS. O mesmo vale para casos de dor de cabeça ou dor nas costas quando já são situações crônicas. Deixem as UPAs para os casos mais graves, até mesmo para evitar a demora nos atendimentos e garantir que os pacientes que realmente precisam sejam atendidos da melhor forma possível”, orienta Lopes.
Estrutura das UPAs
A nova unidade de Uvaranas conta com três consultórios médicos, incluindo atendimento pediátrico. Há também uma ala de procedimentos, com sala de inalação, coleta de exames laboratoriais, suturas e uma sala de raio-x, esta, restrita a casos de urgência. “Aquele paciente que passa pela UBS e precisa de um raio-x, ele é encaminhado para outro local. Aqui é só para casos de raio-x de emergência”, esclarece o assessor. “Pacientes que chegam fraturados realizam o exame e já sai o resultado na própria UPA”, conta. (veja a estrutura da nova UPA abaixo).
A UPA Uvaranas funciona 24 horas por dia, sete dias por semana, com capacidade para atender até 6.250 pessoas por mês. A capacidade diária é de 225 atendimentos, e a estrutura física da unidade soma 1.400 metros quadrados.
De acordo com dados de todo o período de 2024, a UPA Santana realizou 8,5 mil atendimentos mensais voltados a adultos, incluindo urgências odontológicas. A unidade é referência em emergência psiquiátrica e tem capacidade diária igual à da nova unidade: 225 atendimentos por dia.
Já a UPA Santa Paula registrou no mesmo período, 10,7 mil atendimentos mensais entre adultos e crianças. Foram 7,1 mil atendimentos de urgência e emergência para adultos e 3,6 mil atendimentos pediátricos. A capacidade diária é de 338 atendimentos.
“O que diferencia entre as três é que na Santana o atendimento é exclusivamente adulto e possui emergência odontológica de segunda à sexta, a partir das 16h, e aos sábados e domingos durante todo o dia. E na Santa Paula, a diferença é que temos um fluxo separado para pediatria”, explica Fagner.
“Os pacientes adultos e pediátricos são atendidos em espaços físicos separados”, acrescenta.
Espera por leitos pode ultrapassar 24 horas
Uma das principais causas de insatisfação é o tempo que muitos pacientes passam nas UPAs aguardando transferência para hospitais. “Paciente, em média, pode ficar na UPA por 24 horas”, admite Fagner. No entanto, esse prazo pode ser ultrapassado. “Os leitos dependem da Central Estadual de Leitos para uma transferência. Quando a Central disponibiliza um leito é que nós podemos fazer a transferência”, diz.
Ele acrescenta que casos mais graves podem ser encaminhados diretamente pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). “Nos casos mais graves, o próprio Samu pode fazer uma regulação direta. Onde o paciente é encaminhado diretamente para um hospital de referência”, afirma.
Segundo ele, a maioria dos pacientes que ultrapassam as 24 horas nas UPAs, são casos considerados estáveis. “Geralmente o paciente que passa das 24 horas é um paciente estável que está aguardando só um encaminhamento hospitalar, seja para uma cirurgia ou internamento clínico”.
Ainda assim, o acompanhamento médico não é interrompido. “Enquanto esse paciente está na UPA, está sendo acompanhado pelo médico, equipe de enfermagem e tomando medicação”, explica.
Quantos leitos há no Paraná?
De acordo com dados atualizados da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (Sesa), o Paraná conta atualmente com 16.583 leitos hospitalares ativos em todo o território estadual, divididos entre hospitais públicos, filantrópicos e contratualizados. Esse número considera as quatro macrorregiões de saúde e exclui os dados da capital Curitiba, que possui gestão plena de saúde e sistema próprio de regulação de leitos.
Na Macrorregião Leste, que abrange cidades como Ponta Grossa, estão ativos 5.274 leitos leitos hospitalares, também sem incluir os da capital.
Decisão sobre transferência não é da UPA
Lopes reforça também que a definição do hospital para onde o paciente será transferido não é uma decisão da UPA nem do município. Segundo ele, essa responsabilidade é da Central de Regulação de Leitos do Estado, que, por meio da SESA, coordena a distribuição dos leitos disponíveis na rede hospitalar estadual. “Não depende da UPA e nem do município. É uma determinação do próprio Estado”, reforça.
Sistema de Regulação do SUS
A regulação no SUS é organizada pela Política Nacional de Regulação, instituída pela Portaria nº 1.559 de 2008. O objetivo é organizar e priorizar o acesso aos serviços de saúde com base em critérios técnicos. No Paraná, o processo é feito de forma online pelo sistema ‘Care Paraná’, que procura leitos disponíveis na rede pública e privada contratada pelo SUS.
Esse sistema é responsável por controlar solicitações, distribuir pacientes entre os hospitais e garantir que os mais graves sejam atendidos primeiro, conforme explica a própria Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (SESA). A UPA, por exemplo, apenas insere os dados e aguarda a resposta da Central. O processo começa com a solicitação de um leito feita pela unidade de saúde.
As buscas por vagas ocorrem em tempo real e respeitam o grau de urgência de cada caso. Em situações críticas, quando não há disponibilidade local, a busca por leitos pode ser ampliada para outras regionais do Estado. A distribuição dos leitos é feita com base em critérios técnicos, como perfil assistencial das unidades, estrutura disponível e localização geográfica. Quando uma vaga é encontrada, o sistema confirma a disponibilidade com o hospital e autoriza a transferência do paciente.
Todo esse processo pode ser acompanhado por diferentes perfis, como o do profissional que fez a solicitação, o médico regulador e a equipe do hospital de destino. Para acessar o sistema, deve-se entrar no site da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná, escolher o módulo desejado e realizar o login com usuário e senha.
Apesar dos protocolos e da estrutura disponíveis, Lopes faz um apelo. “Deixem as UPAs para casos mais graves”. Para ele, o bom funcionamento do serviço também está ligado à colaboração da população, que deve evitar procurar as unidades com casos leves que poderiam ser resolvidos em postos de saúde ou em outros serviços menos complexos, ajudando assim a evitar a superlotação.
Treinamento da equipe
Ao ser questionado sobre o preparo da equipe e os desafios enfrentados no atendimento, Fagner afirma que há um esforço contínuo na qualificação dos profissionais. Segundo ele, todos os colaboradores passaram por treinamento.
“Temos nas Unidades o Núcleo de Educação Permanente. Educação em saúde é algo que deve ser contínuo, por isso realizamos diariamente treinamentos, formações, orientações e capacitações”, explica. Lopes destaca ainda que o objetivo é manter um padrão de atendimento adequado, sempre alinhado aos protocolos clínicos, para atender à demanda da população com qualidade.
Acompanhe o interior da nova UPA:
Por Camila Souza.