Quinta-feira, 12 de Junho de 2025

Simpósio Junho Branco debate superação e tratamento da dependência química em PG

Assistente social destaca a importância do acolhimento, do tratamento humanizado e da quebra de estigmas
2025-06-11 às 12:07
Edu Vaz/ D’Ponta News

O programa ‘Manhã Total’, da Rádio Lagoa Dourada (98.5 FM), recebeu nesta quarta-feira (11) a assistente social Jordana Murmel e a estagiária de psicologia, Analice Mattiuz, que falaram sobre o ‘Simpósio Junho Branco: Nas Rimas da Superação’. O evento, que acontece no dia 26 de junho, das 8h às 12h, no grande auditório da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), no Campus Central, tem como objetivo principal promover o debate sobre o uso abusivo de substâncias como álcool e drogas.

Durante a entrevista, Jordana ressaltou que, apesar de ser um tema amplamente discutido, a dependência química ainda é tratada com preconceito. Segundo ela, a sociedade ainda tem dificuldade em reconhecer o dependente como alguém que necessita de cuidado. “Essas pessoas as vezes são vistas como loucas, como preguiçosas e que não querem saber de nada da vida”, afirmou. Para ela, eventos como o simpósio ajudam a desmistificar essas percepções por meio da informação e da troca de experiências.

A assistente social atua no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas (CAPS AD) de Ponta Grossa, serviço especializado que oferece atendimento 24 horas, sem necessidade de encaminhamento médico. Jordana explicou que o atendimento é individualizado. “Quando o indivíduo procura ajuda, buscamos entender os motivos que o levaram ao uso. Criamos com ele um projeto terapêutico, entendendo suas demandas para reabilitá-lo de forma completa”, disse. O objetivo é reinserir o paciente na sociedade, restabelecendo vínculos familiares e auxiliando na volta ao mercado de trabalho.

Ela enfatiza que o tratamento é gradual e depende do empenho do paciente. “Tem gente que chega querendo algo imediato, mas não é assim. É um trabalho de formiguinha, mas conseguimos alcançar essa reabilitação completa”, afirma.

Nem todos os pacientes chegam prontos para o tratamento. Jordana explica que há diferentes perfis. “Alguns perderam tudo e estão mais abertos à mudança. Outros chegam com o apoio da família e conseguem, com orientação, se abrir ao processo de recuperação.” Segundo ela, o primeiro passo é o acolhimento, em que se escutam as demandas do paciente e, a partir disso, ele é inserido em atividades terapêuticas.

A internação, de acordo com a profissional, é a última opção. “No CAPS, priorizamos o tratamento em comunidade, onde o paciente permanece em seu ambiente, o que fortalece o processo. A internação só ocorre quando há comprometimento clínico ou quando o paciente opta voluntariamente”, explica.

Jordana também falou sobre o processo de desintoxicação, que pode ser feito no próprio CAPS. “Temos leitos onde os pacientes podem permanecer por até 15 dias, seja para desintoxicação ou para ajustar medicações”, detalha. A decisão é tomada conforme o perfil e a condição de cada paciente.

Situações de pacientes atendidos no CAPS
Os dados apontam que o maior número de atendimentos no CAPS AD é relacionado ao uso abusivo de álcool, seguido de crack e maconha, com pacientes entre 18 e 70 anos. “O álcool, por ser mais acessível, acaba sendo uma porta de entrada para outras drogas”, destaca a assistente. Também são registrados casos de dependência de cocaína e até medicamentos. “Quando percebem que uma substância já não tem mais efeito, partem para outra mais forte, e o ciclo se repete”, explica.

O processo de abstinência pode gerar sintomas intensos como tremores, ansiedade e até convulsões. Por isso, o cuidado da equipe multidisciplinar é essencial. “A maioria apresenta ansiedade e não consegue realizar tarefas simples. A medicação e o apoio da equipe ajudam a minimizar esses efeitos”, pontua. Jordana reforça que o processo de parar totalmente o uso é uma escolha do paciente. “Trabalhamos com a redução de danos, reduzindo aos poucos o uso para que o paciente possa alcançar a abstinência com segurança e com menos danos possíveis”, afirma.

Ela alertou ainda para situações graves de dependência. “Alguns pacientes ingerem até produtos como sabonete, álcool em gel, desinfetante. Chega um ponto em que a família precisa esconder até o álcool de limpeza, porque o organismo da pessoa já não responde mais ao álcool comum”, relata.

Segundo Jordana, a recaída é uma preocupação constante, mesmo entre pacientes em tratamento há mais de um ano. “Temos casos de pessoas que estão há dois anos em abstinência, mas que ainda têm medo de voltar ao uso. O tratamento é contínuo e exige acompanhamento constante”.

O mês de junho é internacionalmente dedicado à conscientização sobre o uso de drogas. O dia 26 foi escolhido pela Organização das Nações Unida (ONU) como o Dia Internacional de Combate às Drogas, reforçando a importância do debate e da prevenção.

O ‘Simpósio Junho Branco’ surgiu da vontade de trazer à tona histórias de superação e humanizar o tema. Um dos pontos altos do evento será o depoimento de um ex-paciente em recuperação, que usou a literatura como ferramenta terapêutica. “Ele escreveu poemas durante o tratamento e, agora em abstinência há bastante tempo, vai compartilhar sua trajetória”, contou Jordana.

A participação no evento é gratuita e aberta a todos os interessados no tema, incluindo profissionais da área, estudantes e público em geral. As inscrições podem ser feitas previamente por meio de link  (AQUI) ou no próprio dia do simpósio, no local.

Veja a entrevista na íntegra:


Por Camila Souza.